Rio de Janeiro tem monumento a revolucionário napoleônico aos pés do Cristo Redentor

Com o Cristo Redentor de braços abertos coroando o cenário, uma pedra em granito se encontra aos pés de uma mangueira, no terreno ocupado há 10 anos pelo Instituto Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento, mais conhecido como Toca de Assis

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Uma figura histórica que circulou entre as célebres guerras napoleônicas, as colônias asiáticas e os bastidores do império no Brasil. Essa é apenas parte do vasto legado que o holandês Dirk van Hogendorp deixou ao redor de todo o globo. Nesta semana (21), uma comitiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, visitou um monumento dedicado ao holandês, situado nas proximidades no morro do Corcovado, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Também participou da visita o Padre Silmar Fernandes, curador da Comissão de Patrimônio Histórico da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Com o Cristo Redentor de braços abertos coroando o cenário, uma pedra em granito se encontra aos pés de uma mangueira, no terreno ocupado há 10 anos pelo Instituto Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento, mais conhecido como Toca de Assis. Ordem católica de inspiração franciscana, a Toca se dedica ao acolhimento de pessoas em situação de rua e de vulnerabilidade social. O imóvel é composto por uma série de edificações, entre as quais se destaca a construção principal, uma casa antiga com ares de sede de fazenda. A fachada foi invertida: se antes a face voltada para o mar recepcionava visitantes, hoje o antigo lado dos fundos, onde se encontra a pedra em homenagem ao holandês, é quem recebe os recém-chegados.

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O monumento em homenagem a Dirk van Hogendorp apresenta características de lápide, com informações sobre o nascimento (1761) e a morte (1822) do holandês. Embora não se tenha certeza de que o homem de confiança de Napoleão esteja efetivamente enterrado no local, os registros históricos indicam que Van Hogendorp residia na chácara onde se encontra a pedra dedicada a ele.

“Quanto mais nos aproximamos do nosso Patrimônio Cultural, mais riquezas ele nos revela. Hoje constatamos que, para além de todas as outras camadas de significado, há também aqui a presença histórica de um personagem singular, que foi braço direito de Napoleão Bonaparte”, destaca o superintendente do Iphan-RJ, Olav Schrader. “Cabe também uma reflexão acerca de como o nosso Brasil é cenário de encontro entre os diversos: é inusitado e inspirador que uma pessoa tão próxima de Napoleão, de trajetória revolucionária, tenha se tornado amigo e confidente da Família Real que veio para cá justamente por conta da ofensiva napoleônica”, complementa.

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A trajetória do Conde do Imperador

Nascido em família aristocrática, Dirk van Hogendorp formou-se em academias militares e ocupou diversos cargos públicos ao longo da carreira. Designado para o território então conhecido como Índias Holandesas, atual Indonésia, permaneceu na região por anos e lá desenvolveu as ideias que defenderia por toda a vida. Contrário ao despotismo da Companhia Neerlandesa das Índias, o militar se embrenhou em uma campanha para a reforma do sistema colonial holandês, na qual, entre outras propostas, defendeu a substituição do sistema escravagista pela mão de obra assalariada. Escreveu uma série de obras pela causa, orientadas pelo princípio da autonomia dos seres humanos.

Consideradas vanguardistas para a época, as ideias ganharam repercussão, mas também geraram incômodo entre os setores escravagistas. Após a incorporação da Holanda pelo império napoleônico, Van Hogendorp recebe o título de Conde do Império. Assume cargos distintos, dentre os quais se destacam os de ajudante de ordens do imperador, governador-geral de Hamburgo e governador da cidade de Nantes.

Em diversas batalhas Van Hogendorp luta lado a lado do imperador. Após a derrota de Napoleão, em 1816 o holandês se exilou no Brasil, onde adquiriu uma chácara para cultivo de café e de vinho de laranja, que intitulou de Novo Sião. Uma reportagem de 1923 relata que a propriedade se encontrava aos pés no Corcovado.

A região integra o Parque Nacional da Tijuca, tombado pelo Iphan. Inserido na área do Parque, o monumento do Cristo Redentor também é protegido pela autarquia. Um dos principais cartões-postais do Rio de Janeiro, a estátua do Cristo começou a ser construída um século após a morte do holandês, em 1922, e foi inaugurada em 1931.

Já em terras brasileiras, novas façanhas o aguardavam. Apesar de a família real portuguesa ter trasladado a sede da corte do reino para o Rio de Janeiro por causa das guerras napoleônicas, Van Hogendorp conquistou a confiança do filho de Dom João VI. O então príncipe, que se consagraria mais tarde como o imperador do Brasil Dom Pedro I, e sua esposa, a arquiduquesa da Áustria Maria Leopoldina, tornaram-se próximos do militar holandês. Conta-se que lhe foi oferecida uma posição de prestígio no Exército Brasileiro, que teria sido recusada pelo general por um conflito de consciência. Ainda assim, consolida-se como conselheiro informal de Pedro I, que demonstrava devoção ao amigo.

A casa de Van Hogendorp tornou-se, então, um ponto de visitas frequentes da corte portuguesa e de um rol de diplomatas, todos sedentos pelas histórias do antigo embaixador e Ministro da Guerra. Por sua fidelidade, Napoleão o menciona em seu testamento, dedicando-lhe uma fortuna de 100 mil francos que não chegou a alcançá-lo com vida. O militar morreu empobrecido e dispondo de um modo de vida modesto.

Em 2021, Van Hogendorp foi uma das 10 figuras históricas selecionadas pelo Rijksmuseum para abordar a relação entre a escravidão e os Países Baixos. Um vídeo sobre a trajetória do militar segue disponível online (link). Se por um lado a produção enaltece os ideais que nortearam a vida pública do Conde do Imperador, por outro, expõe as contradições que o acometeram. Após radicar-se no Brasil, o holandês comprou negros escravizados e ofereceu-lhes a liberdade em troca de salário. Como muitos dos libertos tomaram as rédeas da própria vida e o abandonaram, o militar queixou-se em cartas da decisão deles, ainda que por toda a vida tenha defendido a autonomia e liberdade como princípios fundamentais dos direitos humanos. Escritas em francês, as memórias do general estão disponíveis ao público na Internet.

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