Idealizada pelo músico Marcos André, de família umbandista e praticante do Candomblé, o Dia de Iemanjá no Arpoador 2023 reunirá, das 15h às 22h, representantes de casas de Umbanda e Candomblé de linhagens centenárias, além de grupos de jongo, afoxé, samba e maracatu, a fim de celebrar Iemanjá no seu dia. Marcos, que atua há 27 anos em quilombos de jongo do Vale do Café e em projetos culturais em Madureira, mobilizou na rede de comunidades tradicionais que coordena cerca de 120 mestres, líderes religiosos, artistas e filhos de santo para o ritual.
“Em 2020, sozinho no meio do isolamento da pandemia, senti muito forte a presença dos guias espirituais e tive uma revelação importante: uma chamada para, junto com os meus, reunir as famílias dos terreiros e quilombos que participo para fazer uma festa de tambor nas areias da praia no Dia de Iemanjá. Os cariocas precisavam naquele momento pedir paz, equilíbrio e harmonia para as suas cabeças agitadas pela pandemia, mortes e pelo desgoverno que passamos”, recorda Marcos.
Marcos conta que “no Candomblé, Iemanjá é justamente o Orixá que cuida do equilíbrio e paz das nossas cabeças, coisa que a gente precisa muito hoje. Ela é querida por todos, tem o poder de nos unir. Era uma hora importante também dos terreiros voltarem para as praias cariocas no Dia de Iemanjá. Uma rica tradição nossa que diminuiu muito. Uma afirmação e celebração da importância do tambor na história dessa cidade”.
A celebração – que começou no dia 2 de fevereiro de 2022, nas areias da Praia do Flamengo, marcando a abertura do Festival Multiplicidade, de Batman Zavareze – cresceu e, este ano, o axé para Iemanjá ocupará as pedras do Arpoador, em Ipanema, das 15h às 22h, com um número ainda maior de casas e grupos de matriz africana. Todo o ritual de oferendas será liderado pelo lendário Mestre Bangbala, 103 anos, o Ogan mais antigo do país em atividade e patrono do Dia de Iemanjá no Arpoador.
Afinado com os novos tempos da sustentabilidade e proteção dos mares, o antigo mestre é categórico: “Todas as oferendas do ritual serão biodegradáveis. Pedimos ao público que não leve plástico, vidro ou madeira. É uma saudação à Rainha do Mar, à sua morada e às forças da natureza. Somente flores e frutas serão oferecidas nas águas”, adverte Ogan Bangbala, no alto dos seus 103 anos.
Ao final o público será convidado para um mutirão de limpeza das areias e pedras ao redor da celebração.
Cortejo abre os trabalhos às 15h
A concentração do cortejo começará às 15h, no calçadão da praia de Ipanema, aos pés da estátua do Tom Jobim, com apresentações do grupo Tambores de Olokun, do Afoxé Filhas de Ghandy, do Afoxé OréLailai e do Ogan Kotoquinho.
Às 17h, casas de Umbanda e de Candomblé de origens centenárias e artistas de grupos de afoxé, jongo, samba e maracatu realizarão um grande cortejo com balaios de flores e frutas, presentes para Iemanjá, em direção à Pedra do Arpoador onde serão oferecidas.
Em seguida, será aberta uma Roda de Tambor na areia da praia, com pontos de Candomblé cantados pelo Mestre Ogan Bangbala e pelo Pai Dário de Ossain, do Ilê Axé Onixegun e mestre de jongo do Morro da Serrinha. Logo depois, o célebre cantor de umbanda, Tião Casemiro, vai entoar pontos de umbanda acompanhado pela sua orquestra de tambores.
Depois será a vez do Jongo do Pinheiral representar mais de 150 anos de história do Vale do Café, berço do jongo, na festa. “O jongo é considerado o pai do samba carioca e o Jongo de Pinheiral é incrível, um dos grupos de jongo mais antigos do país”, explica Marcos.
O Jongo de Pinheiral subirá ao palco ao lado dos jongueiros do Morro da Serrinha, de Madureira, da Companhia de Aruanda e de Marcos André. Para fechar a roda e a parte sagrada da festa, a Companhia de Aruanda e o grupo Samba Jongo convidarão o público para dançar muito samba de roda, coco, jongo e cirandas praieiras.
A apoteose final da festa será uma roda de samba, prevista para às 20h, a ser realizada num palco montado ao lado da Pedra do Arpoador, com a participação dos célebres sambistas Nina Rosa, Carlinhos 7 Cordas, PH Mocidade, Hamilton Fofão, Nenê Brown, Raymundo Jonathan entre outros. Muito samba no pé promete embalar a plateia.
Durante todo o evento, a Feira Crespa estará a postos, com barracas de gastronomia e moda sob o comando de afroempreendedoras, bem ao lado do palco.
O Dia de Iemanjá no Arpoador vai contribuir para a visibilidade do calendário comemorativo de festas de Iemanjá que vem renascendo na cidade, celebração com forte identidade religiosa e cultural para a população do Estado do Rio, com potencial para gerar um impacto muito positivo na valorização das tradições cariocas de matrizes africanas e seus fazedores e para as cadeias produtivas do Turismo e da Economia Criativa do Rio de Janeiro.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
15h -Concentração (em frente à estátua do Tom Jobim)
Tambores de Olokun
Ogan Kotoquinho
Afoxé Filhas de Ghandy
Afoxé OréLailai
17h – Cortejo e Presente para Iemanjá (Pedra do Arpoador)
17h30 – Roda de Candomblé com OganBangbala e Pai Dário de Ossain
Roda de Umbanda com Tião Casemiro
Jongo de Pinheiral e Companhia de Aruanda
Samba de Roda, Coco e Ciranda com Companhia de Aruanda e grupo Samba Jongo
19h30 – Boas vindas com Ogan Bangbala, Tia Ira Rezadeira da Serrinha, Mestra Fatinha do Jongo de Pinheiral, Pai Dario de Ossain, Ogan Kotoquinho e Marcos André.
Roda de Afoxés e Umbandas
20h – Roda de samba com Nina Rosa, Hamilton Fofão, Carlinhos 7 cordas, PH Mocidade, Nene Brown, Raymundo Jonathan e convidados.
22h – Encerramento
Das 15h às 22h – Feira Crespa
Dia de Iemanjá no Arpoador é uma realização do Instituto Floresta e da Rede de Patrimônio Imaterial do Estado do Rio, com o fomento da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro através do Edital Foca 2022, Prefeitura do Rio de Janeiro.
Os parceiros são: Riotur, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Secretaria Municipal de Políticas da Mulher, Coordenadoria Executiva de Diversidade Religiosa, Subprefeitura da Zona Sul, Ilê Axé Onixegun, Companhia de Aruanda, Alalaô Kiosk e Hotel Arpoador.
HISTÓRIA
A Roda de Tambor na areia da praia será um momento muito simbólico para as religiões de matriz africana porque vai relembrar o que ocorria nos anos de 1940, quando os terreiros iam comemorar o Dia de Iemanjá nas praias. “Dali nasceu o réveillon carioca, todo mundo de branco, jogando flores no mar, pulando sete ondas. Pouca gente sabe que essa tradição nasceu da presença dos terreiros no Dia de Iemanjá, em 31 de dezembro. Depois, a espetacularização do réveillon acabou expulsando os que criaram a festa nas praias, que foram os terreiros”. Marcos André lamentou que, agora, não dá mais para voltar, devido à interdição das ruas na virada de 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro, pelas autoridades municipais.
Daí, escolheu-se o dia 2 de fevereiro para retomar esse espaço sagrado das areias cariocas e, também resgatar um pouco esse mérito dos terreiros na história do réveillon carioca que,