Um estudo recente elaborado pela Prefeitura do Rio de Janeiro aponta que 22% das mulheres negras que residem na cidade estão atualmente desempregadas. De acordo com o levantamento, que leva em consideração dados desde 2020, além da desigualdade social e da falta de oportunidades profissionais, que ficou agravada em função da pandemia, o referido público feminino enfrenta preconceito.
Um detalhe importante é que o índice de desemprego de mulheres negras é 7,3% maior do que o da população carioca como um todo (14,7%). Esse problema foi gerado a partir de 2015, no início da recessão econômica.
Mulheres negras desempregadas no Rio nos últimos anos
- 1º trimestre de 2015: 6,9%
- 1º trimestre de 2017: 14,6%
- 4º trimestre de 2019: 17,6%
- Média em todo 2020: 22%
Outro fator que explica os dados da pesquisa é a maior quantidade de mulheres brancas graduadas. Segundo o estudo, são 44,6% contra 21,3% de negras formadas em alguma área de atuação, ou seja, mais do que o dobro.
”Eu mando currículos, faço entrevistas online, mas eu recebo sempre uma negativa. Passo da segunda etapa, mas não vou para a terceira. Mas faz parte do mercado de trabalho, está muito restrito essa área de Recursos Humanos [RH]. É uma área muito restrita mesmo, quem está dentro não vai querer sair. É muito concorrida, mas eu gosto, sou persistente”, diz Chirlene Marua Oscar Vieira, formada em RH e pós-graduada em Psicologia Organizacional.
E ela também relata o preconceito como principal fator para a baixa oferta de empregos. ”Há discriminação por ser negra. No mercado mesmo existe uma empresa que tem que ser aquele perfil”, relata.
”Estou estudando recrutamento de pessoal. E libras também, que estou estudando ao mesmo tempo. São duas pós-graduações diferentes, mas tudo dentro da área de RH. A língua de sinais me encanta muito. Faz falta saber falar com as pessoas que têm essa deficiência. Eu acho muito interessante”, complementa ela, que vende bolos e salgados para complementar a renda da casa com seu marido.
Secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, pasta responsável por elaborar a pesquisa, Francisco Bulhões explica a situação.
”A gente vê 40% de informalidade quando se trata de mulheres negras, quantidade muito menor que homens brancos, para quem essa informalidade diminui bastante, quase pela metade. Todos esses fatores sociais, que a gente já vê no Brasil de muito tempo, se refletem numa desigualdade, que foi ainda potencializada pela pandemia. Atingiu em cheio o setor de serviços, onde essas mulheres estão. E esses informais e setores mais vulneráveis é que acabaram sendo muito afetados”, diz.
”Queremos investir muito na formação dessas mulheres negras. Incluir como meta, até 2024, que haja 370 mil mulheres negras no mercado de trabalho através, principalmente, da educação. O eixo educacional está começando agora a desenvolver programas de educação financeira que a gente quer formatar ainda esse ano. E de alfabetização tecnológica, ainda esse ano, para que a gente, no início de 2022, já comece a rodar esses programas”, complementou Bulhões.