No último domingo, 21 de agosto, os moradores do Leblon e redondezas organizaram um abraço ao Jardim de Alah. Eles quiseram demonstrar sua preocupação com a anunciada licitação daquela área para a iniciativa privada, que a Prefeitura do Rio de Janeiro pretende realizar. O lema da manifestação foi “jardim restaurado e não descaracterizado”. A preocupação dos moradores procede, já que se anuncia a construção de garagem subterrânea, restaurantes, bares e área para espetáculos. Tudo isso num parque tombado pela própria Prefeitura.
O Jardim de Alah é um dos espaços mais bonitos da cidade. Cortado pelo canal do Leblon, conta com esculturas, caramanchões, áreas ajardinadas, tudo isso com uma estética art-déco, projeto do paisagista David Xavier Azambuja. Apesar de ser constituída por diversas praças – Almirante Saldanha da Gama, Grécia e Poeta Gibran – o parque é mesmo conhecido pelo homônimo do filme estrelado por Marlene Dietrich, de 1938. No entanto, atualmente o Jardim de Alah se encontra bastante deteriorado.
O seu trecho mais próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas havia sido cedido à empresa construtora da Linha 3 do metrô, para servir como canteiro de obras. Ao final, ele foi deixado arrasado, até com as marcas das latrinas dos banheiros no piso. Além disso, uma ponte foi construída sobre o parque para ligar duas ruas adjacentes, fracionando-o ainda mais. A Praça Grécia, um dos segmentos mais bonitos do parque, foi ocupada por proprietários de cães, que acreditam que a praça seja um imenso parcão. Agora, após assistir a toda essa destruição, praticamente autorizada, a Prefeitura saca da manga a carta manjada da privatização. Os moradores dizem não ser contrários a parcerias com a iniciativa privada, desde que o parque não seja descaracterizado.
O prefeito Eduardo Paes foi eleito com os votos de eleitores de vários espectros políticos para fazer frente ao descalabro que havia sido a administração do Bispo Crivella. Mas vem tomando atitudes que lembram aquele prefeito. O envio à Câmara de Vereadores de mais um projeto de lei para legalizar “puxadinhos” mediante pagamento é uma delas. O desmonte da excelente equipe que se formou na Fundação Parques e Jardins, após a sua última posse em 2021, é outra dessas deploráveis atitudes. Saiu uma equipe de ambientalistas, incluindo arquitetos e engenheiros florestais, para entrar outra equipe comandada por um diretor da época de quem? Do bispo Crivella.
A Fundação Parques e Jardins é uma das mais antigas instituições da cidade, herdeira da Inspetoria de Mattas, Jardins, Arborização, Caça e Pesca. Sua sede se encontra no Campo de Santana desde 1909. Já em 1893, o paisagista Auguste Glaziou, responsável pela criação de parques emblemáticos, como o Campo de Santana, a Quinta da Boa Vista, e pela reestruturação do Passeio Público, havia sido nomeado pelo Prefeito Coronel Henrique Valadares para a Direção dos Jardins Públicos, Arborização e Florestas do Distrito Federal.
Mas as antigas responsabilidades abrangentes da Fundação foram sendo apequenadas, já que não mais cuida das florestas, e a poda de árvores das ruas e o cuidado com as praças passaram a ser de responsabilidade da Comlurb. Na última administração municipal, ela foi loteada por três vereadores, que fatiaram as indicações de seus cargos. A ideia era paralisar a Fundação Parques e Jardins, tanto que ela chegou a ser removida para a Secretaria do Envelhecimento. Quando se imaginava que, na atual administração, ela renasceria, foi novamente utilizada como moeda de troca no jogo político.
Áreas públicas ajardinadas e parques de uma cidade não são um luxo dispensável. Mas no Rio de Janeiro até parece que são. Não é de hoje que a Prefeitura descuida desse aspecto da administração municipal. As praças mais tradicionais raramente têm flores, os arbustos são malcuidados e a grama é falha. Quando chega a época de chuvas mais escassas dá pena ver a secura dos jardins. Além disso, o furto de partes dos monumentos das praças é generalizado.
Se não consegue cuidar das praças tradicionais, a Prefeitura não está se preparando para lidar com uma dinâmica mais contemporânea dos espaços públicos, que devem se adequar às questões ambientais e à sustentabilidade. Essa era uma das principais linhas de trabalho da equipe que se foi da Fundação Parques e Jardins. No entanto, venceu a lógica de licitar dezenas de pracinhas tradicionais, que atendem a objetivos políticos mais imediatos. Em algum momento a cidade terá que se adequar a aspirações mais ambiciosas, inclusive na gestão dos espaços públicos. Enquanto isso, vai-se promovendo abraços às praças.
Sobre a poda de árvores das ruas e o cuidado com as praças que passaram a ser de responsabilidade da Comlurb.
É urgente o Diário do Rio fazer uma matéria sobre o mau cuidado das árvores das praças e ruas da cidade.
As árvores passam por processo de poda drástica que mais se assemelha a um assassinato por esquartejamento vivas para morrerem aos poucos.
E mesmo Parque do Flamengo não escapa.
Numa das várias passagens que fiz, além da ocupação irregular seja por pessoas em situação de rua que ali defecar e urinam, cujo ácido úrico causa danos, também frequentadores do parque utilizam das copas das árvores e gramado danificando-os, especialmente nos fins de semana, quando ocupam essas áreas aos bandos vindos de outras regiões da cidade e sem controle de acesso.