Roberto Anderson: Aqui morrem indigenistas e ambientalistas

'Esta é a terra onde foi assassinado o ambientalista Chico Mendes, que lutava pela preservação da floresta na reserva extrativista de Xapuri, no Acre, onde morava'

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Seguimos vivendo no país onde se mata ambientalistas, defensores dos direitos humanos, indigenistas e pessoas que lutam pelo direito à terra. De acordo com a Global Witness, em 2020 o Brasil foi o quarto país do mundo em que mais se matou ativistas ambientais. E em 1019 foi o terceiro país do mundo, uma triste liderança. Isso sem falar nos milhares de pessoas negras mortas em consequência do racismo que permeia nossa sociedade e o Estado brasileiro.

Esta é a terra onde foi assassinado o ambientalista Chico Mendes, que lutava pela preservação da floresta na reserva extrativista de Xapuri, no Acre, onde morava. Aqui, entre outros, foram assassinados a religiosa americana Dorothy Mae Stang, o indígena Paulo Paulino Guajajara, e o indigenista Maxciel Pereira dos Santos. Agora mais duas vítimas: o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico, residente no Brasil, Dom Philips, brutalmente assassinados por denunciarem o crime organizado que se instalou na Amazônia.

Como demonstram os fatos, há muito tempo a realidade na Amazônia é dura para quem defende o meio ambiente e os povos indígenas. Mas nos últimos anos isso se agravou muito. Bolsonaro vem atiçando os predadores da Amazônia. Seu governo desvirtuou o Ministério do Meio Ambiente, desestruturou a Funai e o Ibama, dificultou as multas a infratores, fez acordo com madeireiros ilegais, fez vista grossa aos alertas de incêndios e desmatamentos, e precarizou a proteção aos povos indígenas. Os agentes do crime organizado se sentiram fortalecidos e a vida de quem a eles se opõe ficou em risco extremo.

Bolsonaro exonerou o indigenista Bruno Pereira de seu cargo na Funai por ele ter, corretamente, cumprido com o seu dever de proteger os territórios indígenas contra invasões pela mineração ilegal. Sem condições de trabalho, o servidor público se viu forçado a pedir licença e tentar atuar junto a uma organização não governamental, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Unijava. Sem a proteção do Estado brasileiro, sua atuação passou a ser de alto risco. Décadas atrás, indigenistas como os irmãos Villas-Boas eram vistos como heróis nacionais. Atualmente são vistos como um estorvo aos interesses econômicos que querem destruir a Amazônia.  

O assassinato do indigenista Bruno Pereira é uma imensa perda para os povos indígenas e para o Brasil. Bruno buscou conhecer a cultura dos povos isolados, aprendeu línguas que desconhecemos, conquistou com ações a confiança de indígenas traumatizados com a violência que nossa “civilização” a eles impôs. Com sua morte se vai uma ponte que o Brasil decente tentava criar com esses outros seres humanos. Não é simples formar especialistas dedicados à questão indígena. Sem Bruno eles ficam mais vulneráveis à invasão e à destruição de seus territórios por pessoas gananciosas e inescrupulosas.

Dom Philips atuava como jornalista, investigando a situação da Amazônia e as ameaças aos povos indígenas. Sem o trabalho de pessoas como Dom, ficaríamos às escuras, sem informações do que realmente ali acontece. Não é culpa sua o fato de a Amazônia ter se transformado num território tão perigoso para jornalistas, quanto uma zona de guerra. Aliás, o Brasil se tornou um território perigoso para o exercício do jornalismo.

Ainda em choque pela confirmação dos assassinatos de Bruno e Dom, a sociedade brasileira quer saber o que o Estado brasileiro fará para impedir que outros ativistas ambientais sejam mortos na Amazônia. O que o Congresso Nacional tem a dizer? Já não basta de mortes? Há muitos responsáveis pela trágica situação da Amazônia. Mas, em última instância, Bolsonaro tem responsabilidade no assassinato de Bruno Pereira e de Dom Philips. E vindo dele, sabemos que nada será feito para mudar essa situação.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

2 COMENTÁRIOS

  1. Quem desejar saber a verdade com DADOS VERÍDICOS, basta assistir o documentário do Brasil Paralelo – Cortina de fumaça. Apresenta FATOS sobre o que acorre através dessas ONG’s e ativismo ambiental, inclusive, com uma bela entrevista dada pelo fundador do GREENPEACE e muito mais… não é a opinião política ativista com uma bela ginástica mental do autor desta matéria…

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