O Caju é um bairro “cul-de-sac”, como aquelas ruas sem saída que encontramos nas cidades. Mais ainda, é um bairro condenado a existir no quintal de grandes estruturas: um cemitério, um porto e um Arsenal de Marinha. Para chegar em casa, o morador passa um perrengue, especialmente se estiver a pé, já que as residências estão lá no fundo do bairro. O visitante que persevera, encontra um bairro com história, atrativos, muito potencial e problemas.
O Caju é um bairro esquecido pelo poder público, e por aqueles que fazem propostas para o futuro do Rio. Situado no início da Avenida Brasil, tem uma ótima localização, mas padece com poucas opções de transporte, muitos terrenos industriais e portuários subutilizados, caminhões e suas carrocerias estacionados ou abandonados nas ruas e calçadas, e áreas públicas maltratadas. Mas, veja bem, o Caju está separado da Cidade Universitária apenas por um canal. Bem poderia ser local de residências estudantis, caso essa ligação marítima fosse explorada. O Caju é também uma extensão natural da Área Portuária. Deveria ser incluído nas regras e propostas do Porto Maravilha. Mas não, foi São Cristóvão que ganhou essa extensão do projeto.
O Caju é, em parte, uma área de colonização portuguesa. Pescadores de Póvoa do Varzim lá se estabeleceram, tornando o lugar um importante ponto de pesca, antes da poluição da Baía de Guanabara. Talvez, essa herança lusitana tenha contribuído para o fato de ali terem existido tantas casas de madeira. Mas há também a história da falência da fábrica de trens que lá funcionava. Os trabalhadores foram construindo casas provisórias na Quinta do Caju, que aumentaram em número após a falência da empresa. Tendo os terrenos passado para a União, os moradores deviam seguir a regra de não construir em alvenaria, para não sugerir uma posse definitiva.
Hoje, depois de um longo processo, os moradores conquistaram a titularidade da propriedade e, infelizmente, há poucas dessas casas remanescentes. A casa em alvenaria parece representar uma maior possibilidade de estabilidade e, por razões culturais, é mais valorizada. Mas, as poucas casas em madeira que ainda resistem são graciosas e coloridas, com muito mais personalidade do que aquelas em alvenaria que as cercam. Seria interessante que os órgãos de Patrimônio as percebessem.