Roberto Anderson: Copadonna

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o show que já parou o barro mais famoso do Brasil

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O sol brilha no céu de Copacabana, assim como em todo o Rio de Janeiro. O veranico se instalou para a cidade receber na sua melhor forma a convidada do momento. Madonna, encastelada na suíte master-plus-ultra do Copacabana Palace, não participa do agito. O calor é excessivo para a diva. No entanto, ela é fundamental, ela é o pretexto para o carioca fazer mais uma festa e convidar todas as gentes. 

Do Sul, do Norte e Nordeste, do Centro-Oeste e de São Paulo, eles vêm em ônibus fretados, em voos charter (será que isso ainda existe?), em carros que quebram pelas estradas, do jeito que for possível. O Rio chama e ninguém quer ficar de fora. Todos sabem que festa no Rio é a oportunidade de incrementar a sequência de fotos do Instagram, quem sabe, de encontrar um amor, de ter casos para partilhar com os amigos e de ter histórias para contar para os futuros filhos. 

Os fãs mais fiéis se plantam na frente do hotel, esperando um aceno da cantora, uma janela que se abra. As pessoas que caminham no calçadão ralentam o passo tentando identificar o andar em que ela se encontra. As TVs também estão a postos esperando a possibilidade de dar um furo de notícia. Sorte seria descobrir que Madonna saiu disfarçada pelos fundos ou que aquela super lancha ao largo da praia leva a estrela para um banho de sol. 

Toda essa movimentação, todos esses elementos da cena são únicos. São diferentes por acontecerem no Rio. Hotel, praia, orla de Copacabana, calçadão, banhistas, fãs de meia idade, senhores indiferentes e jovens excitados pela possibilidade de, pela primeira vez, ver a cantora ao vivo formam um conjunto, cuja graça é estar na Cidade Maravilhosa. 

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Dessa vez, ao que se saiba, Madonna ainda não circulou pela cidade, ainda não foi a uma favela, ainda não conheceu um Jesus. Nada disso importa, o palco vai sendo montado e o público de fora, que inclui argentinos e outras nacionalidades, vem chegando. A areia em frente ao hotel já está compactada de tantos palcos e arenas que recebe. Após Madonna, alguém já estará pensando no próximo megaevento, porque o Rio não pode ficar sem festa. 

Quando Madonna se for, a cidade fará a contabilidade dos gastos e dos lucros da festa. Os hotéis, especialmente os da orla, terão lucro certo. A Prefeitura, que aportou R$ 10 milhões, buscará justificar que os impostos recolhidos justificaram a retirada desse montante de serviços mais essenciais. O governo do Estado, quebrado e endividado, usará a cara de pau mesmo para justificar igual desembolso. 

De qualquer forma, agora é hora de acolher os convidados. Podem vir, porque o balneário é decadente, mas o carioca sabe receber e fazer a festa. 

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lapa dos mercadores 2024 Roberto Anderson: Copadonna
Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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