BRT quer dizer bus rapid transit. Mas ele já teve um nome bem brasileiro, o ligeirinho, mais de acordo com a sua origem curitibana na década de 1970. Deve-se ao arquiteto Jaime Lerner, e à sua equipe na gestão da Prefeitura de Curitiba, a adaptação àquela cidade desse modal de transporte surgido em Ottawa em 1973. Em Curitiba ele recebeu o sistema de ônibus alimentadores, a cobrança de tarifa externa em estações fechadas e o embarque em plataformas no nível dos ônibus. Lerner foi ainda responsável por uma série de outras inovações urbanísticas.
De Curitiba o Ligeirinho ganhou o mundo, tendo sido adotado em cidades europeias e norte-americanas. Chegou depois a Bogotá, onde recebeu mais aperfeiçoamentos na sua capacidade e na sua velocidade. Para melhorar esta última, criou-se uma onda verde, com os sinais sendo abertos à aproximação dos ônibus. De Bogotá, a ideia do BRT retornou a várias cidades brasileiras, representando uma solução de transporte de alta capacidade, porém de construção mais barata do que a do metrô.
Aqui no Rio, o BRT representou também uma promessa para solucionar as demandas de mobilidade para as olimpíadas. Diversas linhas foram implantadas ligando a Barra ao Recreio e a Jacarepaguá. Mas a má qualidade da execução das calhas por onde os ônibus circulariam, muitas pavimentadas apenas em asfalto ao invés de concreto, a descontinuidade de investimentos em função da troca de prefeitos, e o consequente sucateamento precoce de todo o sistema levaram à estigmatização do nosso BRT.
Em paralelo à execução das linhas que serviriam ao projeto olímpico, a Prefeitura lançou em 2015 as obras do BRT Transbrasil, para circular pela avenida Brasil, e ser uma opção de transporte mais confortável e mais rápido para os moradores dos bairros que margeiam aquela avenida, distantes do sistema de metrô. As obras deveriam estar prontas no máximo em 2018. Mas quatro anos depois, e muitos transtornos no trânsito, ainda seguem inacabadas. A nova previsão de término é 2023.
Quando estiver funcionando, o BRT Transbrasil partirá de Deodoro e contará com 18 estações e quatro terminais, percorrendo 26 km. O destino final seria a Central do Brasil, onde o usuário encontraria diversas opções de transporte, entre elas o metrô, o trem, diversas linhas de ônibus, o VLT e até mesmo o atualmente desativado teleférico da Providência. Seria o correto, já que sistemas de transportes de alta ou média capacidade devem levar os usuários até áreas centrais ou, melhor ainda, atravessar as cidades. Uma pista em concreto armado, obra nada barata, já se encontra pronta na avenida Rodrigues Alves, à espera dos ônibus articulados do BRT Transbrasil.
No entanto, num sinal de grande improvisação e falta de planejamento, a Prefeitura decidiu que a estação final do Transbrasil será o futuro Terminal Gentileza, no terreno do antigo gasômetro. Lá os passageiros estarão diante da rodoviária, mas ainda distante dos centros de emprego. E estarão longe de sistemas de transporte de alta capacidade. Suas únicas opções de locomoção serão o VLT, sistema com menor capacidade do que o BRT, ou os ônibus comuns. Se isso não representa um gargalo na mobilidade dos passageiros, não sei mais o que seria.
A improvisação fica mais evidente quando se sabe que a própria Prefeitura já elaborou um concurso de projetos para imóveis residenciais e de serviços para o terreno do antigo gasômetro, projeto este nunca executado. Esse terreno ainda conta com algumas edificações em tijolinhos vermelhos, resquícios da companhia belga que um dia gerenciou o abastecimento de gás no Rio de Janeiro. Estupidamente, foram desmontados todos os três tambores de armazenamento do gás e suas estruturas metálicas, que poderiam ter tido um uso alternativo muito interessante.
De acordo com a opção agora adotada, os passageiros do BRT Transbrasil, que muito provavelmente já terão utilizado outros modais de transporte para chegar ao mesmo, serão obrigados a tomar o VLT que, no máximo os deixarão na Cinelândia, tendo que buscar ali um quarto modal de transporte para chegar à Zona Sul ou à Zona Norte. O terminal se chamará Gentileza, em homenagem ao profeta urbano das barbas brancas, mas não será com muita gentileza que os passageiros estarão sendo tratados.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.
Em sendo verdade, isso representa a ambiguidade do gestor que quer revitalizar e ocupar o Centro enquanto que o mesmo gestor cria dificuldades de acesso ao Centro, desde sua passagem anterior pelo executivo. Mobilidade urbana é dar condições com segurança de a população se deslocar de um ponto a outro no menor tempo possível e isso não se consegue forçando a população a fazer diversas baldeações no transporte. Em tempo, nos anos 80, foi construído um terminal rodoviário em Deodoro que deveria funcionar como um ponto de recepção de várias linhas e dali sairem ônibus rápidos para o Centro pela pista seletiva. Não funcionou.
Bastaria ler as notícias divulgadas amplamente nos outros jornais para saber o que eu já comentei:
https://diariodotransporte.com.br/2022/04/07/fechamento-terminal-rodoviario-padre-henrique-otte-provoca-mudancas-de-linhas-de-onibus-no-rio-de-janeiro/
A notícia, amplamente divulgada em dezenas de canais de comunicação e até na TV, semana passada, parece não ter despertado o interesse do Diário do Rio, já que desmontaria sua campanha política contra o atual prefeito. Reforçando, para quem chegará pelo Transbrasil com destino às regiões sul, norte e oeste bastará embarcar numa das linhas do recentemente desativado Terminal Henrique Otte, que já estão distribuídas no seu entorno, sem necessidade de outro translado nem do VLT, que será usado apenas por quem tem o centro como destino final. Os usuários já sabem disso, mas parece que aos “jornalistas” do Diário do Rio esse tipo de informação não interessa divulgar, já que o interesse maior é fazer política, não notícia. Assim sendo, posto aqui uma das inúmeras notícias que divulgaram os fatos como eles realmente são: https://diariodotransporte.com.br/2022/04/07/fechamento-terminal-rodoviario-padre-henrique-otte-provoca-mudancas-de-linhas-de-onibus-no-rio-de-janeiro/
Parece que os colunistas do Diário do Rio não leem notícias de outros jornais. O Terminal Gentileza receberá todas as linhas deslocadas do antigo Terminal Henrique Otte, que inclusive foi desativado semana passada, ligando o Gentileza às zonas sul e oeste. O VLT só será usado por quem terá o centro como destino final. Mas a vontade de criticar as obras parece ser maior que a necessidade de se inteirarem dos fatos.
Por quê dar esse nome Gentileza, não tem nenhum fluminense digno de receber essa homenagem dando nome a esse terminal ?
Em São Paulo está cheio de praças, parques e muitas outras coisas chamadas de Villa-Lobos em homenagem ao GENIAL COMPOSITOR FLUMINENSE Heitor Villa-Lobos, em compensação quantas tem no Rio a sua cidade e estado natal ?
Por quê dar esse nome Gentileza a esse terminal se temos inúmeros AUTÊNTICOS FLUMINENSES dignos dessa homenagem ? Em São Paulo há incontáveis praças, parques, shopping’s em homenagem ao GENIAL COMPOSITOR FLUMINENSE Heitor Villa-Lobos mas no Rio quantos monumentos há em sua homenagem ?
O BRT carioca, assim como todo e qualquer serviço público na cidade do Rio de Janeiro é ruim ou péssimo devido à gestão política de fazer tudo de qualquer jeito, para mostrar rapidamente uma visão ilusória de bom que esconde a verdade da incompetência, desrespeito ao cidadão comum e ambição desmedida dos gestores desta Cidade, sem exceção! Ainda se deve considerar um ponto importante que é o dos políticos do Rio pensarem e agirem conforme a “cultura da terra”, que é aquela da improvisação, da irresponsabilidade e desapreço pela “coisa bem-feita” e “viver de aparência”. É preciso que sejamos humildes e nos olhemos no espelho e daí encontremos as causas verdadeiras do porquê de nenhum governo conseguir fazer o certo e o melhor para a Cidade.
A opinião aqui descrita é praticamente correta, ressalvo apenas que considerar os problemas do BRT como estigmatização é muito raso, desconsiderando o exemplo de bom serviço, modelo refletido ao mesmo tempo noutras cidades do País (alias deveria ser feita uma comparação sobre os BRTs no Brasil e saber por que o do Rio é o que é). Houve uma época nesse país em que o mundo nos enxergava com respeito e nos concederam realizar Grandes Eventos como os melhores fizeram antes. Acreditamos no que diziam e o Brasil e o Rio viveram uma “Matrix” do bem. Na nossa cidade, trens fluiam no horário, BRTs a cada 3 minutos com conforto, metrô na melhor estrutura operacional jamais vista, a promessa de um VLT “inovador” para o século 21. Uma maravilha!!! Pena que já em 2016 a nossa distopia começou a se alterar de uma futura Dubai para hoje em algo mais próximo a cidades de terceiro mundo: trânsito caótico, gente sem nada para fazer, comercio ambulante, criminalidade, falta de conservação. Isso sim traz estigma, de termos vivido essa fase e por fim sermos lançados numa condição que piora a cada dia. Um beco sem saída, feito de soluções inúteis e ausência do “pensar a cidade” pelos administradores da cidade, feita de milhões a aguardar quem ofereça salvação, seja daqui ou de fora.