Roberto Anderson: Mais amores

'O hino nacional nos parece bonito. Mas, seria bonito por ser o nosso hino, ou seria ele genuinamente bonito'

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

O hino nacional nos parece bonito. Mas, seria bonito por ser o nosso hino, ou seria ele genuinamente bonito? Veríamos nele beleza porque sempre o cantamos, não sendo razoável que cantássemos os de outros povos? Talvez não seja só por isso. Muitos veem imensa beleza na Marselha, o hino francês. Ela arrebata e quase nos engaja, apesar de seus trechos xenófobos e violentos.

Em nossas vidas, volta e meia entoamos o hino nacional. Alguns mais velhos o fizeram em formação, no pátio da escola, outros nos estádios, ou diante dos televisores ligados no início dos jogos de futebol. Nesses momentos, ele é cantado de forma vigorosa. E à capela, acelerado, na segunda parte, que os organizadores dos torneios insistem em sonegar.

Nos estádios, o hino nacional é como a sequência de movimentos e caretas maoris dos neozelandeses, a demonstração de força que pretende assustar os adversários. Já nas solenidades oficiais, ele é uma gravação que, de tão conhecida, parece ser regido pelo próprio Francisco Manoel da Silva. A cadência, algo marcial, seria fruto da longa ingerência militar na vida nacional?

Mas, vendo Maria Bethânia cantá-lo, temos a certeza de que nosso hino é bonito. Ela desliza pelas notas, fazendo-as permanecer um pouco mais em suspenso. Bethânia vai além da música, que tem seu mérito e até já rendeu obra sinfônica. Ela resgata a beleza das palavras que, muitas vezes, repetimos automaticamente. Ouvimos dela com calma, e renovado encantamento, que nossos bosques têm mais vida, que nossos campos têm mais flores, que nosso céu é risonho e límpido, onde o Cruzeiro do Sul resplandece. Que, à luz desse céu profundo, e ao som do seu mar, fulgura nosso país, florão da América.

Advertisement

Pela voz de Bethânia lembramos do sonho de que esta seja uma terra adorada, uma mãe gentil, qualidade que quase esquecemos diante da rudeza das vidas desvalidas e do rugir dos enganados pelo populismo raivoso. No amor renovado pela Pátria, seja lá o que entendamos por isso, nos dispomos a demonstrar que um filho dessa terra não foge à luta. E chegamos ao auge de declarar não temer nossa própria morte!

Com doçura, Bethânia canta berços esplêndidos, lábaros, flâmulas, clavas e braços fortes. Em sua voz, entre outras mil, esta é a Pátria amada. Patriazinha diria Vinícius de Moraes. Ouvindo Bethânia, o amor e a esperança a esta terra desce

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Roberto Anderson: Mais amores
Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
Advertisement

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui