Roberto Anderson: Novos tempos, projetos renovados?

A poucos dias do segundo turno das eleições, quando escolheremos quem será o presidente do Brasil nos próximos quatro anos, as pesquisas indicam a possibilidade alvissareira de uma mudança de rumos no país

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Rocinha / Foto: Roberto Anderson

A poucos dias do segundo turno das eleições, quando escolheremos quem será o presidente do Brasil nos próximos quatro anos, as pesquisas indicam a possibilidade alvissareira de uma mudança de rumos no país. Se esta mudança vier, projetos que beneficiam a população mais pobre e buscam criar um futuro mais promissor voltarão a ser debatidos. Entre eles, o incentivo à construção civil, por meio de moradias populares e a urbanização de favelas. Mas essas duas iniciativas precisam passar por revisões importantes. Não devemos continuar a construir conjuntos habitacionais despersonalizados em áreas distantes dos centros urbanos, sem opções de trabalho e sem infraestrutura. Tampouco, devem ser feitas intervenções em favelas que não sejam aquelas desejadas pelos moradores.   

A favela da Rocinha exemplifica bem essa dissonância entre o interesse do poder público em intervir e a pouca sintonia com os anseios dos moradores. Após uma série de episódios violentos envolvendo grupos armados na Rocinha em 2004 o poder público criou um Plano Diretor para aquela área. Mais tarde houve um maior avanço com a definição de um projeto de reurbanização para a comunidade, o qual foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC 1. Esta primeira fase de intervenções contou com R$ 60 milhões do governo federal e R$ 12 milhões do governo estadual e o autor do projeto foi o arquiteto Luiz Carlos Toledo.

O projeto de urbanização foi muito discutido com os moradores e incorporou várias demandas dos mesmos, como a construção de um hospital e uma creche. Entre as poucas propostas efetivamente executadas estão a passarela projetada por Niemeyer e o Centro Esportivo.  No entanto, muitas outras não foram realizadas. A creche demorou a ser concluída e, no lugar do hospital, o governo acabou fazendo apenas uma UPA.


Os moradores queriam também um centro cultural, o saneamento do bairro e a construção de planos inclinados. A questão dos planos inclinados se transformou numa enorme queda de braço entre o governo estadual e os moradores e suas lideranças. O projeto de urbanização previa a construção de cinco desses equipamentos. Entre as vantagens apontadas pelos moradores e o arquiteto responsável estão as paradas mais próximas entre si, a possibilidade de levar bagagens e materiais de construção e também servir para a retirada do lixo da comunidade.

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Em 2013 a Rocinha foi incluída no PAC 2. No entanto, aparentemente houve pouca discussão sobre como seriam aplicados os recursos da ordem de 1 bilhão e 600 milhões de reais. O governo do Estado do Rio, na época dirigido por uma turma que terminou presa, incluiu um teleférico no projeto e insistiu em sua instalação em detrimento dos planos inclinados anteriormente propostos.


O teleférico é um equipamento caro, com paradas distantes entre si, e com uma manutenção igualmente cara. Os dois sistemas implantados no Rio estão parados. Já os planos inclinados trabalham com uma tecnologia bastante conhecida e experimentada em diversos locais do Rio de Janeiro. Outras desvantagens do teleférico são a sua incapacidade de funcionamento em momentos de ventos fortes e tempestades, e a dificuldade de servir a cadeirantes ou a pessoas com problemas de mobilidade, já que trabalham em movimento contínuo. Além disso, há a ação oxidante da maresia, fortemente incidente na Rocinha.


As lideranças dos moradores consideraram que a opção pela execução dos planos inclinados, por serem mais baratos, liberaria recursos para o saneamento da comunidade, uma demanda urgente e muito justa. Mas, talvez, a forte visibilidade do projeto teleférico e o fato de servir como atração turística tenha levado o governo estadual naquela época a preferir essa opção. No final, nada foi feito.


Nos últimos anos, período em que os projetos de reurbanização da Rocinha ficaram parados, o arquiteto Luiz Carlos Toledo promoveu oficinas de discussão dos problemas urbanos daquele bairro com a participação de jovens moradores. Dessas oficinas devem ter saído muitas novas ideias interessantes. Se os brasileiros mostrarem juízo nas urnas, talvez chegue a hora de colocá-las em prática.  

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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3 COMENTÁRIOS

  1. Viva a corrupção desenfreada.
    Como pode um país querer viver mais de 4 anos sem amplos roubos públicos, sem subtrair mais dinheiro do povo através de aumento de impostos, sem escândalos frequentes de ladroagem por seus políticos ?
    É preciso dar um basta a situação atual e voltarmos aos tempos quando abriamos mão da soberania nacional e também aos tempos em que doávamos nossas riquezas aos ditadores regionais e africanos em detrimento de nosso povo.
    Basta. A classe média precisa entender que ela deve ter somente o necessário a sua sobrevivência, os pobres precisam entender que devem ser dependentes do Governo e os bancos precisam voltar a lucrar como nunca antes na história.
    (Esse deve ser o pensamento do articulista do texto, penso eu, pois é o que ele está pleiteando ao desejar a volta dos protagonistas destas situações vividas de 2002 a 2016 e pelas falas recentes do chefe da quadrilha).

  2. O professor Roberto Anderson cita posibilidade de mudança alvissareira de rumos do pais, referindo-se, claramente, à volta do PT ao poder. Mas, esqueceu, candidamente, de contextualizar no tempo os fatos que descreve. De 2004 a 2013, quem estava no poder nos governo federal e no governo estadual? O PT e os governadores aliados ao PT. Fala “O governo do Estado do Rio, na época dirigido por uma turma que terminou presa”, mas não cita Sergio Cabral, unha e carne com Lula. No fundo, essa possível mudança alvissareira seria sob a ótica de qual grupo? Do que insistiu em incluir teleféricos em detrimento aos planos inclinados, que eram os aliados de Lula, que o próprio autor do texto diz que foram presos?

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