Tradicionalmente, o centro do Rio de Janeiro constituía um único bairro. Mais recentemente, foi desmembrado o bairro da Lapa, e os dois passaram a conformar a II Região Administrativa (II RA). Mas mesmo essa divisão não dá conta da diversidade de territórios ali existentes. Na década de 1960, já se percebia a existência de uma área dedicada ao comércio varejista, com ruas de pedestres, outra mais ocupada por escritórios, uma área com predominância de bancos e sedes sociais de empresas, e uma área de diversões e hotéis (A. C. Duarte).
Atualmente o Centro passa por um momento de perda de dinamismo, como consequência da pandemia de Covid-19, que forçou o exercício do trabalho remoto, e provocou o fechamento de muitos postos de trabalho. Essa redução da presença de escritórios no Centro, ao que tudo indica, parece ter um caráter mais permanente. A resposta do poder público municipal é o incentivo à vinda de novas moradias para a área, através do projeto Reviver o Centro. Se o projeto tiver sucesso, aquela área passará por transformações importantes, que irão alterar as suas atuais caracterizações territoriais. Assim, é importante conhecer o que foi o Centro até aqui.
A II RA contém áreas características de um centro metropolitano, com atividades financeiras e de serviços, áreas com grandes equipamentos culturais e áreas onde “cristalizaram-se” o uso residencial de baixo e médio poder aquisitivo ou o comércio varejista. De forma a melhor compreender a atual diversidade do Centro, é possível dividi-lo em seus setores de maior homogeneidade: Praça XV; Castelo; Aeroporto; Quadrilátero Financeiro; Saara/ Pç. Tiradentes/Uruguaiana; Esplanada de Santo Antônio; Cinelândia; Lapa; Cruz Vermelha; Adjacências da Rua de Santana; Mal. Floriano/Central do Brasil; Mal. Floriano/ Pç. Mauá.
A área no entorno da Praça XV engloba os logradouros entre a baía e a Rua 1° de Março, e entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Santa Luzia. É aquela que concentra os imóveis mais antigos da cidade e monumentos de grande porte. Atualmente, concentra grandes equipamentos culturais como centros culturais e restaurantes. Mas até 1991, lá funcionou o mercado de peixes, com seu imenso contingente de caminhoneiros, vendedores, compradores de peixes e ambulantes. A partir de então, ocorreu um drástico processo de elitização, baseado na implantação de equipamentos culturais, e iniciado com a abertura do centro cultural no Paço Imperial em 1985. A ele vieram se juntar o Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB (1989), a Casa França-Brasil (1990), do Espaço Cultural dos Correios (1993) e o Espaço Cultural da Marinha (1998).
O Castelo é a área compreendida entre a Av. Nilo Peçanha (inclusive) e a Av. Beira Mar e entre a Rua México e a Av. Mal. Câmara. Resultante do arrasamento do Morro do Castelo, a área sedia prédios de escritórios, representações dos ministérios, secretarias estaduais e institutos de previdência, tendo um forte uso institucional.
A área do Aeroporto é aquela entre o Aeroporto Santos Dumont e a Av. Mal. Câmara, marcada pela forte presença desse equipamento, por instalações da Força Aérea, e edifícios de escritórios.
O Quadrilátero Financeiro é a área com grande concentração de instituições financeiras compreendida entre as ruas 1° de Março e Gonçalves Dias e entre a Pç. Pio X e a Av. Nilo Peçanha. É o coração do Centro, que justifica a sua caracterização como centro de negócios.
A área que se pode chamar de Saara/ Tiradentes/ Uruguaiana é a área do comércio varejista, nacionalmente conhecida por sua diversidade e pelo trabalho de gerações de imigrantes. Está compreendida entre a Rua Gonçalves Dias e a Praça da República, e entre a Av. Pres. Vargas e as ruas Visconde do Rio Branco e Carioca.
A Esplanada de Santo Antônio é a área entre a Rua da Carioca e a Av. Chile e entre o Largo da Carioca e a Rua do Lavradio. É ocupada por edifícios de uso institucional, como a Petrobrás, o BNDES e pelo comércio.
A Cinelândia é a área de equipamentos culturais de grande porte e de diversões, entre a Av. Almirante Barroso e a Av. Beira Mar, e entre a Rua México e a Av. Rep. do Paraguai. Apesar do fechamento da maioria dos cinemas, ainda possui um enorme potencial para o lazer e a cultura.
A Lapa engloba o entorno da Rua da Lapa e dos Arcos, e parte das Ruas do Lavradio, Riachuelo e Mem de Sá. Concentra equipamentos variados de diversões, caracterizando-se por um uso mais popular. Resistiu ao tempo, à repressão de costumes e se reinventou com espaço de lazer.
A área da Cruz Vermelha é aquela entre a Rua do Lavradio e Riachuelo, e entre a Av. Visconde do Rio Branco/ Frei Caneca e Riachuelo. É uma área marcada pela permanência do uso residencial no Centro.
A área Adjacências da Rua de Santana, entre o Campo de Santana e o Viaduto São Sebastião, e entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Frei Caneca também se caracteriza pela permanência do uso residencial e pelo comércio de materiais de construção.
A área da Marechal Floriano/ Central do Brasil é aquela entre a Av. Pres. Vargas e a Rua Barão de São Félix, e entre a Rua Camerino e o Viaduto São Sebastião. É uma área de comércio varejista e de grandes terminais de transportes, como a Central do Brasil, o Terminal Rodoviário Procópio Ferreira e o Terminal Rodoviário Américo Fontenele.
Por fim, a área Marechal Floriano/ Pç. Mauá, entre a Av. Presidente Vargas e a Rua do Acre, e entre a Praça Mauá e a Rua Camerino, é uma área mista, incluindo o comércio varejista, escritórios e residências.
As fisionomias das cidades estão sempre em mutação, às vezes mais sutil, às vezes mais violenta. O Centro está prestes a passar por alterações importantes, que se espera o tornem ainda mais interessante e diversificado.
Ouvi de muitos comerciantes do Centro do Rio que o BRT afastou o comprador do comerciante deste local.
Vi uma cidade deserta e BRT’s idem, sem nenhuma pessoa dentro.
Afinal, o que vai mudar, além da posição dos camelôs?
O acesso ao metrô da Uruguaiana, em dia de chuva, é um desespero.
No entanto, os camelôs sempre estarão onde tiver uma parada de ônibus ou qualquer local de acesso a algum meio de transporte. E isto deve ser levado em consideração.
Ah, tropecei nos buracos das calçadas do Centro, onde a pedra portuguesa deu lugar a poças e à imundície.
Centro é lugar de escritório, barulho, poluição e nunca mais será local de moradia.
Um guardinha mal vestido, mais parecia um organizador da batucada de uma escola de samba e não parava de apitar neuroticamente… Como morar com um maluco desses no seu ouvido?