Roberto Anderson: Para um feliz 2024, se possível 

A chegada de um ano novo acaba sendo uma oportunidade de avaliar o que passou, de pensar no que pode mudar, e de ter propósitos

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Em alguns dias será um novo ano. Se não déssemos tanta importância à contagem do tempo, talvez essa passagem não fosse tão marcante. Mas, assim somos. A chegada de um ano novo acaba sendo uma oportunidade de avaliar o que passou, de pensar no que pode mudar, e de ter propósitos.

O ano que vai acabando já mostrou alguns problemas que estarão no futuro. A crise climática continuará a extrapolar os debates acadêmicos, extravasando para as ruas na forma de ondas de calor sufocantes, de secas, de chuvas torrenciais que provocam enchentes cada vez mais dramáticas, e de aumento das áreas consideradas de risco. 

No mundo, a guerra deixou de ser fria, tornou-se disseminada, com as potências nucleares enfrentando-se por intermédio de terceiros. Ataques massivos por drones não são mais ficção. As imagens dos bombardeados, das crianças atingidas, dos desabrigados, dos exilados, dos forçados a emigrar nos comove e incomoda. 

Os extremistas de direita estarão à espreita para, na primeira oportunidade, tentar novamente destruir a democracia. A inteligência artificial, apesar de trazer benefícios, também nos fará duvidar do que vemos e ouvimos. Aquela pessoa impoluta poderá ter a sua imagem e voz clonadas, para cometer as maiores barbaridades. O vizinho do lado, ou o seu espectro, poderá lhe induzir a cair num golpe financeiro. 

O mundo parece estar ficando cada vez mais complicado. E todos esses são problemas muito grandes, cujas soluções não estão muito ao alcance de cada um de nós, cidadãos comuns. Mas, há atitudes que podemos tomar como propósitos para o novo ano que, se não resolvem as grandes questões, podem nos fazer um bem danado. Que tal uma pequena lista de ações ao nosso alcance?

Cuidar melhor de si, do que se come, renegar os ultraprocessados e os alimentos regados a agrotóxicos. Gastar mais tempo na cozinha experimentando novas receitas para servir à família e aos amigos. Por falar nestes, lembrar de ligar ou, vá lá, mandar mensagens para saber como estão. E dar um jeito de combinar um encontro, de preferência, vários ao longo do ano. 

Fazer caminhadas ou, se possível, corridas pelo menos duas vezes por semana. Não é muito. Voltar para a academia ou, para quem já lá está, manter-se firme, mesmo que os benefícios nem sempre apareçam no espelho como desejamos. Se a academia for insuportável, escolher nadar, jogar, quem sabe até competir. 

Aprender uma nova língua, que pode ser o mandarim, para melhor entender a nova potência do século XXI. Contrariando o senso comum, sempre é tempo de aprender. Mesmo que o aprendizado seja lento, a cabeça estará funcionando, a caixinha da memória estará sendo desafiada a expandir-se.

Lembrar que é o ano de eleger o prefeito ou a prefeita e os vereadores, aqueles que são responsáveis pela qualidade de vida nas cidades, ou a falta dela. Procurar entender quem são os candidatos, ouvir suas propostas e saber reconhecer ali o que são promessas vãs e o que merece credibilidade. Se possível, seria desejável escolher um bom candidato, melhor ainda se for uma candidata, com antecedência e, por que não, conseguir alguns votos para quem merecer a sua confiança. 

Plantar uma árvore (essa é velha). Mas se não for possível fazer isso, ligar para a Prefeitura, procurar na Internet o órgão responsável por plantios, e pedir, reclamar, exigir que seja plantada uma bela muda naquele espaço vazio na calçada, que os urbanistas chamam de golas. Melhor ainda, quando for fazer aquela caminhada ou corrida da promessa lá de cima, anotar as golas vazias do seu bairro e repassar os endereços para a prefeitura. 

Ler mais nas folhas de papel dos livros, ver mais filmes do que novelas, ir a mais festas do que a cultos, ir mais vezes ao teatro, porque lá os atores e os bailarinos esperam para apresentar um evento único, que não será igual ao do dia que passou, nem aos vindouros. Viajar mais, se possível, com baixa pegada de carbono. 

Namorar, se der, amar. Reencantar-se com pessoas e atividades que andavam parecendo enfadonhas. Abraçar os filhos, os irmãos, os pais, os avós e os amigos. Querer mais vida, mais anos novos, mais surpresas agradáveis, mesmo sabendo que as desagradáveis também virão. Ter coragem para seguir na corrente do tempo, sempre à frente, sem parar. Feliz Ano Novo. 

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

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