Roberto Anderson: Parques para as zonas Norte e Oeste

'Os projetos recentes de parques mais sustentáveis no Rio de Janeiro são frutos da recuperação da FPJ empreendida pela equipe que lá esteve no início da atual gestão do prefeito'

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O absurdo desmonte do Morro do Castelo deixou a cidade com uma imensa área aberta, à qual se chamou de Esplanada do Castelo. Não havendo um projeto para sua ocupação, na segunda década do século XX foi convocado o urbanista francês Alfred Agache para planejar o que fazer. Agache acabou sendo convidado a realizar um plano para a cidade inteira, o que veio a ser o primeiro plano urbanístico da cidade a tratar de problemas complexos, como a mobilidade e a evolução urbana.

Apesar de propor a reedificação do Centro, dando sequência às reformas do período Passos que destruíram parte da arquitetura de feição mais portuguesa, o plano continha o primeiro projeto para o metrô do Rio de Janeiro e um sistema de parques. Com início na Quinta da Boa Vista, esse conjunto de grandes áreas verdes avançaria em direção à Zona Norte até alcançar o Engenho de Dentro. Infelizmente, tal proposta não foi executada e sabemos o quanto essas áreas hoje são carentes de espaços livres e de parques.

No entanto, entre erros e acertos, as gestões do Prefeito Eduardo Paes têm se notabilizado pela criação de parques em bairros pouco aquinhoados com áreas verdes. Foi assim com o Parque Madureira, criado em 2012 e ampliado em 2016, e com o Parque Olímpico de Deodoro, de 2015. Agora, as mais novas estrelas do conjunto de parques cariocas são os parques de Realengo e de Piedade. Este último ocupará uma área de 17,7 mil m², parte da antiga Universidade Gama Filho, cuja falência e fechamento foi assistida pelos poderes públicos locais, aparentemente insensíveis à perda de uma instituição de ensino do porte da Gama.

Já o Parque de Realengo será numa área de 80 mil m², na antiga fábrica de cartuchos, que homenageará a jornalista Suzana Naspolini, falecida no ano passado. O anteprojeto do parque foi realizado pela Fundação Parques e Jardins – FPJ e desenvolvido pela Ecomimesis Soluções Ecológicas, tendo sido premiado pelo IAB-RJ. Ele trará para Realengo, um bairro da quente Zona Oeste, uma nova área de lazer, com bosque, pomar, espaços para esportes e para crianças, e espaços dedicados à cultura e à educação. Na sua concepção foram aplicadas propostas de um paisagismo que busca soluções baseadas na natureza. Assim, estão previstas biovaletas, jardins de acomodação, que recebem as águas pluviais filtradas pelas biovaletas, jardins de chuva, hortas comunitárias, e outros itens que fazem parte do repertório mais atual do paisagismo.

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Por demanda do prefeito, estão previstas também cinco torres de 17, 25 e 40 metros de altura, inspiradas nas superárvores existentes no Gardens by the Bay, em Cingapura. As superárvores daquele parque são 18 estruturas, que chegam até 50 metros de altura, construídas em concreto e metal. Elas são revestidas por plantas naturais, possuem placas coletoras de energia solar e reservatórios de água da chuva, a qual é utilizada para irrigação das plantas do próprio parque. São, além disso, iluminadas à noite, como parte de um espetáculo de som e luzes. E podem ser percorridas por passarelas que as conectam, havendo no alto de uma delas um bar e restaurante. Tudo dentro de um parque com dimensões colossais, que é parte importante do projeto de transformar Cingapura num grande jardim. 

As Torres do Parque de Realengo deverão aspergir vapor d’água para amenizar a temperatura, a exemplo do que foi projetado nos calçadões de Bangu e de Campo Grande. É uma ideia interessante, mas temerária, já que, como boa parte dos chafarizes da cidade, os vaporizadores dos nossos calçadões já não funcionam. A verdade é que as administrações públicas do Rio têm dificuldades em manter equipamentos urbanos funcionando. Também a exemplo das torres de Cingapura, há previsão de que as torres de Realengo tenham iluminação cênica noturna, marcando a paisagem daquele bairro.

Os projetos recentes de parques mais sustentáveis no Rio de Janeiro são frutos da recuperação da FPJ empreendida pela equipe que lá esteve no início da atual gestão do prefeito. O ex-prefeito Crivella havia levado a Fundação para a Secretaria do Envelhecimento e retalhado a mesma entre os interesses de diversos políticos da sua base de apoio. Com a mudança na Prefeitura, no início de 2021 foi formada uma nova equipe de arquitetos, paisagistas, engenheiros florestais e biólogos na Fundação Parques e Jardins.

Porém, como são muitas as mudanças políticas na Prefeitura, e elas sempre atingem a Fundação, grande parte daquela excelente equipe técnica já não mais trabalha lá. Ficou o legado do seu esforço e dedicação, na forma de propostas de um paisagismo mais sustentável, como o projeto para o Parque de Realengo. Que venham outros, como o de Senador Camará, em imenso terreno lá existente, destinado a um parque, mas nunca concretizado.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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