Roberto Anderson: Plantar é preciso 

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

No início da década de 1970, morando no Jardim Botânico, li no jornal que a Prefeitura do Rio tinha um novo serviço, um telefone para quem quisesse solicitar o plantio de uma árvore. Bastava indicar o endereço de um espaço vazio na calçada, onde já existisse uma gola, aquele quadrado não pavimentado da calçada. Melhor ainda, na primeira tentativa, descobri que o serviço funcionava, realmente vinha um caminhão com um grupo de trabalhadores e plantavam a muda solicitada. Se não me engano, era até possível indicar a espécie desejada, o que me levou a pesquisar sobre o assunto. 

Detentor desse novo poder, saía andando pela vizinhança anotando os endereços de possíveis plantios que, após comunicados à Prefeitura, eram devidamente realizados. Depois, eu voltava a circular pelo bairro, verificando se as mudas estavam bem, se ninguém as havia danificado. Me lembro de um morador que passou a regar a que foi plantada diante da sua casa, e da vontade de lhe contar a minha façanha. 

Hoje em dia, ao caminhar pelo bairro, reconheço algumas árvores plantadas após aqueles telefonemas. Estão grandes e frondosas, e espero que, tão cedo, não sejam abatidas pelo corte realizado pela mesma prefeitura, chamada a remover árvores com risco de queda. Aliás, uma das grandes demandas que chegam atualmente à administração municipal é a poda de árvores, muitas vezes por motivos fúteis. 

Ainda é possível solicitar o plantio de uma árvore, mas o pedido entra numa fila que, no final da malfadada administração Crivella, era gigantesca e pouco atendida. Não deve ter sido zerada, já que a Prefeitura não destina verbas específicas para arborização urbana, dependendo de medidas compensatórias, quando novas edificações são licenciadas ou crimes ambientais são autuados. Uma pena que não seja algo atendido com rapidez pois, em tempos de crise climática, o cidadão que pede o plantio de uma árvore está solicitando um serviço de primeira necessidade. É preciso engajar a sociedade na tarefa de tornar nossas ruas mais arborizadas. Mas, antes, é preciso que a Prefeitura tenha a arborização urbana como projeto prioritário para as atuais condições climáticas. 

Em 2019, com um plano de tornar a cidade mais sustentável e mais resiliente às ondas de calor produzidas pela crise climática, a Prefeitura de Paris anunciou a meta de plantar 20 mil novas árvores até o fim de 2020. Esta meta foi atualizada para um plantio de 170 mil novas árvores até 2026, o que será uma marca notável. Além disso, a cidade irá remover 40% do asfalto da cidade. E esse trabalho já está sendo executado. 

Tanto quanto o Rio de Janeiro, e São Paulo, a cidade de Paris é membro do C 40, a rede de prefeitos de cidades que se propõem a buscar soluções para a crise climática. No entanto, nesta última é muito claro que existe um plano de adaptação da cidade a esse novo desafio, e que o mesmo está sendo colocado em prática. Por que não percebemos isso em nossas cidades? Os planos aqui até existem, mas mesmo tendo metas menos ambiciosas, não são desenvolvidos. A questão climática esteve pouco presente nas propostas de prefeitos e vereadores recém-eleitos, uma lacuna incompreensível. É preciso mudar, é preciso plantar. 

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Roberto Anderson: Plantar é preciso 
Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui