Roberto Anderson: Queimadas nos pulmões 

A Amazônia está em chamas. Arde o Pantanal. Minas, São Paulo e Goiás, centros do agronegócio, estão em combustão. Na comparação entre agosto de 2023 e o de 2024 houve um aumento de 144% nas queimadas no Brasil

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Agosto foi mês de desgosto, pelo menos no que se refere ao absurdo aumento das queimadas país afora. Brasileiros, como cada um de nós, por avidez ou ignorância, estão pondo fogo nas matas e plantações. A Amazônia está em chamas. Arde o Pantanal. Minas, São Paulo e Goiás, centros do agronegócio, estão em combustão. Na comparação entre agosto de 2023 e o de 2024 houve um aumento de 144% nas queimadas no Brasil. Na Amazônia o aumento foi de 83%. Tudo provocado pelo homem daninho. 

Os poéticos e benfazejos “rios voadores”, uma faixa flutuante que atravessa o país de Norte a Sul carregando umidade, se transformaram em rios de fuligem. Fuligem da vegetação queimada, das árvores incineradas, das aves e mamíferos calcinados, do nosso futuro sendo dilapidado. E o destino dessa fumaça são os nossos pulmões. Não importa se você mora no litoral ou no interior, a fumaça alcança o seu nariz. 

O céu escureceu em cidades do Pantanal e da Amazônia. Uma névoa escura tomou conta de São Paulo e Rio. Quando a fumaça chegou a Brasília, as autoridades de saúde sugeriram o uso de máscaras. Já era tarde para as milhares de crianças com acessos de bronquite. Para os que tiveram que passar horas na nebulização. Para os que trabalham nas ruas respirando esse ar malsão. 

Nas últimas décadas o movimento ambiental tentou salientar o papel das cidades na construção da sustentabilidade. No Brasil, por exemplo, a maioria da população já vive em cidades. No entanto, a vastidão do campo e das florestas impôs a sua avassaladora presença. Quando elas queimam, queimamos todos. 

As queimadas vêm num momento crítico, quando uma terrível seca castiga o Brasil. Os efeitos do aquecimento global se fazem sentir com força por aqui. A pátria das águas, dos rios caudalosos, dos córregos, dos meandros, dos igarapés e das veredas está secando. Corremos o risco de dizer adeus às nascentes, ao frescor dos rios, às sombras das matas. A ganância põe tudo a perder.

Agosto foi um desgosto. Bem pior se anuncia setembro.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

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