Roberto Anderson: Ruas em movimento

O Dança em Trânsito é um projeto que há vinte e um anos leva dança para as ruas

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Foto: Roberto Anderson

Você vem caminhando pela rua e, de repente, se depara com uma gente esquisita fazendo uns movimentos, que você não sabe bem identificar a razão, ou o que seja. Você desce do ônibus, e uma menina bem igual a você se põe a dançar, de uma forma tão linda, que você esquece de seguir para o trabalho. Você foi ao médico, e reparou numas pessoas penduradas na fachada do prédio e ainda outras que rolavam pelo chão. O que estaria acontecendo? É o Dança em Trânsito, projeto que há vinte e um anos leva dança para as ruas.

O projeto nasceu no Rio, pelas mãos da família Tápias, família intimamente ligada à dança, e agora já chega a trinta e três cidades do Brasil. Artistas de diferentes países são convidados a, juntamente com artistas brasileiros, apresentar seus trabalhos nas ruas das cidades e a organizar ateliers de criação de novos trabalhos, reunindo jovens dançarinos, que também serão apresentados nos espaços públicos. À noite, o evento costuma ocupar teatros das localidades por onde passa.

Essa surpresa, essa quebra da rotina, o inesperado nas ruas são a graça e a grande qualidade do projeto. O público já cativo, e os passantes se aproximam, fazem uma roda em volta dos artistas. Estes pulam, rolam pelo chão, se sujam com o pó cinza das calçadas, ou executam doces duetos, doando a quem ali esteja momentos de pura emoção. Foi o que mostraram, por exemplo, Clémentine Telesfort e Lisard Tranis, franceses baseados na Espanha, assim como artistas de São Luís, acompanhados pelo Tambor de Crioula. De extrema delicadeza e fina tessitura foi o solo apresentado por Fernanda Verardo, criação de Marcia Milhazes, no teatro do CCBB.

As ruas são os locais dos encontros, da colaboração entre estranhos, do exercício da gentileza, e até da violência. Mas sem essa convivência com o outro, que não conhecemos, não nos civilizamos. É por isso que, quanto mais convidativas, quanto mais animadas, e seguras são as ruas, mais se desenvolve a empatia e a colaboração entre os cidadãos. Ter um projeto como o Dança em Trânsito, gratuito e de qualidade, que convida os passantes a se deterem, a alterarem o ritmo do seu dia, e que os preenche de emoções, é um bem imenso. Sorte têm as cidades que o recebem. Vida longa ao Dança em Trânsito!

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.
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1 COMENTÁRIO

  1. Desde que não atrapalhe o trânsito caótico das ruas do Rio que foram estreitadas e seja feito em dias e horários de pouco movimento, tá valendo.

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