Rogério Amorim: A esquerda Winston Smith e a reconstrução hipócrita da história

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre projeto promulgado que determina remoção de placas, estátuas ou homenagens “que façam menções positivas e/ou elogiosas a escravocratas, eugenistas e pessoas que tenham perpetrado atos lesivos aos direitos humanos, aos valores democráticos, ao respeito à liberdade religiosa e que tenham praticado atos de natureza racista”

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Foto: Reprodução

Quem leu o extraordinário livro 1984, do britânico George Orwell, já sabe quem é esse Winston Smith que menciono no título deste artigo. Trata-se do protagonista do livro, que trabalha no Ministério da Verdade de um imaginário (mas nem tanto) mundo distópico criado pelo genial escritor. Em 1984, Smith trabalha basicamente na Propaganda do regime totalitário a quem serve e também na reescrita do passado. Um burocrata que não gosta de seu trabalho, tem como função principal reescrever todos os jornais antigos e documentos, de modo a apoiar o partido – nitidamente de esquerda – que está no poder. E Winston Smith tem que seguir uma regra: o que não puder ser reescrito tem que ser destruído.

Muitos críticos torceram o nariz para a obra 1984, principalmente aqueles que flertavam com as ideias stalinistas (de Stalin, que divide com Hitler o título de maior genocida do século 20). Mas passados os anos, fomos vendo que cada vez mais a esquerda deseja ser Winston Smith, deseja reconstruir a verdade. O Rio de Janeiro está passando uma vergonha internacional, depois que a Câmara Municipal promulgou a Lei nº 8.2025/2023, determinando a remoção de placas, estátuas ou homenagens “que façam menções positivas e/ou elogiosas a escravocratas, eugenistas e pessoas que tenham perpetrado atos lesivos aos direitos humanos, aos valores democráticos, ao respeito à liberdade religiosa e que tenham praticado atos de natureza racista” (sic).

Vou traduzir: a partir de agora, na cidade do Rio, a esquerda é que escolhe que pessoas serão homenageadas. E de acordo com os critérios históricos da esquerda – ou seja, poderemos ter estátuas de Stalin, Che Guevara (assassino de homossexuais) e Fidel Castro, mas não pode ter – ainda segundo a esquerda – estátua do Padre Antonio Vieira, um dos maiores filósofos da humanidade. Nascido em Lisboa, o Padre Antonio Vieira tem uma estátua dentro da Pontifícia Universidade Católica (PUC) que talvez tenha de ser retirada. O detalhe é que a estátua foi uma doação da Câmara Municipal de Lisboa – diante disso, até mesmo a CNN de Portugal já fez uma reportagem lamentando a decisão estapafúrdia da nossa Câmara.

O problema de deixar a esquerda decidir quem pode ser homenageado (não esqueça: a lei determina exatamente isso, embora não esteja escrito) é que a maioria de seus representantes sofre de delírios psicóticos. O Padre Antonio Vieira foi um dos maiores combatentes da escravidão, principalmente dos índios, defendeu a Abolição e foi um opositor da tão criticada Inquisição. É autor do magistral Sermões, um livro até hoje referência para os teólogos e demais estudiosos. Talvez por ele ter buscado a evangelização dos índios haja esse verdadeiro faniquito da esquerda. Não sabemos. Só sabemos que a remoção de sua estátua é, em si, um absurdo, uma afronta, uma perda de referência para o estudante da PUC. E tenho medo de pensar no que a esquerda vai propor para o lugar da estátua. Che Guevara, o homicida? Fidel Castro, o ditador? Hugo Chaves, o ditador homicida?

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Em São Paulo, há alguns anos, houve essa mesma discussão, quando os vândalos da esquerda começaram a destruir estátuas. Moleques que sequer completaram o ensino médio se arvoraram como juízes e executores da História (ou do que eles acham que seja a História) e incendiaram a estátua do bandeirante Borga Gato, um personagem dos mais importantes para a grande história de São Paulo. A esquerda ignora que Borba Gato na verdade, em determinado momento, foge da Coroa Portuguesa e vai viver no meio dos índios. E isso depois de matar um dos enviados pela Coroa para prendê-lo, ou seja, na verdade Borba Gato matou um colonizador. E na época do incêndio estúpido, havia inclusive professores universitários chamando Borba Gato de “assassino de indígenas”!

Na mesma época, o movimento de extrema-esquerda Black Lives Matter começou também a derrubar estátuas de quem eles diziam serem escravagistas. Outros movimentos começaram a fazer isso – e quando tal prática radical e violenta chegou à Inglaterra, os britânicos inteligentemente fizeram uma pesquisa apenas entre pessoas negras para saber se as mesmas aprovavam tais práticas. O resultado não é de surpreender: 90 por cento das pessoas negras eram contra essa idiotice!

A lei que a Câmara lamentavelmente promulgou diz que as estátuas e placas deverão ser removidas para “ambiente museu, aberto ou fechado”. Mas é só um eufemismo, típico de uma “novilíngua” (Orwell de novo). A esquerda quer mesmo é incendiar estátuas, não se enganem. E como sempre, vão estar errados, atacando pessoas que construíram o Brasil porque em algum momento elas possam ter cometido algum deslize, por menor que seja, em relação à cartilha doutrinária marxista. Não se enganem: em breve vão derrubar estátuas de pessoas que tenham se recusado a praticar aborto – e aí veremos a estátua do Papa João Paulo II, que fica em frente à nossa Catedral Metropolitana, ser removida, numa injustiça que mais uma vez nos causará vergonha internacional.

Deixo o leitor com uma citação do Padre Antonio Vieira, um dos ameaçados por mais esta insanidade da esquerda: “O tempo é da natureza, a ausência pode ser força, mas a ingratidão é sempre delito”. Não temos o direito de sermos ingratos com a História. Vá embora e nunca mais volte, Winston Smith!

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6 COMENTÁRIOS

  1. O texto poderia ser mais objetivo e tem muitas imprecisões, por exemplo, Stálin foi ditador, tirano, um grande fdp, mas não da pra comparar com Hitler em número de mortes, a não ser contar o Holomodor, que não se existe consenso histórico se foi intencional ou não. Se vc for chamar um governante de genocida por causa de uma onda de fome, então temos que incluir na lista Churchill pelo que aconteceu na Índia.

    O vereador também esquece de um dos mais, talvez o maior genocida do século 20, que foi o rei Leopoldo da Bélgica, que assassinou com requintes de crueldade mais de 10 milhões de pessoas no Congo.

    Sobre o mérito da discussão, eu acho a ideia correta, mas o texto é muito abrangente. É preciso julgar as pessoas de acordo com o ESPÍRITO DO TEMPO.

    Por exemplo, Ciro da Pérsia foi um governante muito avançado pro seu tempo, embora como todo imperador da Antiguidade, ele matou gente, ele tinha escravos, e talz, mas não praticava genocídios contra os povos vencidos, e isso já o tornava melhor do que toda a galera do seu tempo.

    Monteiro Lobato era tremendamente racista, mesmo pro seu tempo, e não acho que ruas em homenagem a ele deveriam ser renomeadas, ou estátuas retiradas.

    O mesmo não se pode dizer de torturadores da ditadura militar, caçadores de índios, grandes escravagistas do século 18, etc, esses acho que deveriam sim perder as homenagens.

    O problema do projeto de lei não é a ideia em si, que é boa, mas é que o texto ta abrangendo coisa demais.

  2. Eu tenho uma sugestão!!!! Que todos os avanços e conquistas obtidos através dessa gentalha seja desfeito. Que esses bravos sejam coerentes e honestos com sua visão e renunciem a tudo que de vêm desfrutando.

  3. Entendi que essa coluna é o “cantinho do reaça” do DDR. Meu senhor, não é sobre mudar a história, pelo contrário, é contar a história com ela é. Escravocratas não são heróis. Escravocratas não construíram esse país. Quem construiu esse país foi o povo, explorado por essas pessoas, que ganharam (e ganham dinheiro) com essa exploração. Para o senhor, essa história não deve ser contada. Pq? Talvez não seja do seu interesse que o povo não compreenda seu valor e seu poder. Só assim para conseguir ser eleito, para não fazer nada de útil para esse povo, não é mesmo? Até hoje não vi o senhor levantar uma pauta realmente útil à população, que ataque nossos problemas, que diminua as desigualdades e traga prosperidade para a cidade e seu povo. Só groselha e mimimi. Impressionante!!!!

    • Mas é o cantinho reaça do DDR mesmo, isso não tem nem dúvidas né… A começar por lembrarmos que o irmão do autor do texto foi eleito por quebrar a placa em homenagem a uma vereadora de esquerda assassinada.

      Claro que ninguém deve ser julgado por atitudes de parentes, mas se minha irmã fizesse uma coisa dessas eu seria o primeiro a vir a público criticar.

  4. Meu Deus…Que parlamentar surtado. A gente paga uma fortuna pra esses lunáticos ficarem lacrando para os seus grupelhos de lunáticos ao invés de trabalhar para uma cidade melhor.

    Não tem mais NADA importante pra resolver na cidade não, nobre vereador?

  5. Parabéns,
    ROGÉRIO AMORIM!

    Agrega muita qualidade ao conteúdo, ao tecer um comentário didático no ‘Diário do Rio’, com a destreza de uma neurocirurgia.

    Consegue esclarecer como grandes absurdos derivam de pequenas concessões; e deixa um alerta importante, nesta era ‘identitária’ e marcada pela mancha ideológica.

    O Rio sofre esvaziamento de toda ordem, mas a sabedoria coletiva cuidou de garantir um vereador de ocupação especializada, que demanda alta qualificação, exceção na massa política nacional.

    Temos aí uma oportunidade para a cidade se enaltecer, através de quem traz bagagem ao poder público.

    Rara e meritória distopia, face ao padrão de sanguessugas militantes, que pregam a paz e promovem o conflito; e se refestelam na política com discurso casuísta.

    Os jihadistas dispostos a queimar vultos da História empreeedem uma bestial perseguição ao passado e desafiam uma lição básica, válida para todo o espectro do comportamento: “A prática é o critério da verdade”.

    ||| RUABELA

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