Rogério Amorim: Poemas da desordem

Rogério Amorim fala sobre o Rio e “La Ville Merveilleuse”, um livro de poemas escritos pela francesa Jane Catulle Mendès

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Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

“La Ville Merveilleuse” é um livro de poemas escritos pela francesa Jane Catulle Mendès, que vem a ser neta do escritor Victor Hugo, autor do memorável “Os Miseráveis”. Há quem diga que a expressão “Cidade Maravilhosa” da canção de André Filho vem desse livro – posto que é uma tradução literal da expressão em francês. Às vésperas do Rio fazer 458 anos, nesta quarta-feira, 1 de março, tive a curiosidade de procurar pelo livro na internet, eis que sempre ouvi falar dele. Não achei o texto, mas vi numa página quais são os capítulos que compõem a obra.

Logo de cara, o capítulo fala em “Chegada à Baía de Guanabara”. Hoje, Jane desceria na Zona Portuária e daria de cara com um abandono completo por parte da Ordem Pública, com mendigos e cracudos desfilando tranquilamente entre os armazéns e o AquaRio. O livro segue falando de flores, palmeiras e chafarizes, e desemboca na Praia Vermelha – hoje, Jane desfilaria tranquila pelo local, sabendo que sua segurança está garantida pela Polícia do Exército, que patrulha o local. Mas um capítulo mais adiante ela intitula “As vozes da Tijuca”. E aí me causou mais curiosidade ainda. O que teria visto a francesa Jane Catulle Mendès da Tijuca em 1912, ano em que supostamente ela teria passado pela cidade?

E o que Jane diria agora, não só da Tijuca como do restante da cidade? “La ville merveilleuse” (“A Cidade Maravilhosa”) continuaria sendo o nome do livro? Como vereador e como apaixonado por esta cidade, creio que sim. Apesar de muitos problemas de ordem pública, basta um fim de semana andando por toda a cidade, conhecendo pontos turísticos, museus, casas de show, restaurantes, praias, para entender que o Rio é único e inimitável. Jane talvez fizesse poemas de protesto, se é que havia tal modalidade à época, sobre a presença de bancas de jornais vendendo tudo menos jornal, sobre os banheiros improvisados na rua pelos camelôs, sobre os mendigos que assolam a cidade, abandonados e sem rumo.

O título talvez fosse “La ville merveilleuse et le desordre. Prends soin d’elle!”. Sim, com certeza Jane pediria para que cuidássemos, todos, dessa cidade incrível que merece toda a nossa dedicação e trabalho. Parabéns ao Rio de Janeiro!

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