Rogério Amorim: Uma proposta de valor para a guarda

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre a guarda municipal do Rio de Janeiro

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Imagem meramente ilustrativa de guarda municipal em dia de trabalho no Rio de Janeiro - Foto: Marcelo Piui

O DIÁRIO DO RIO, um dos veículos que melhor debatem o dia-a-dia do Rio de Janeiro, entrou forte no debate sobre a nova escala para a guarda municipal – e no meu caso, um editorial do jornal entrou não só forte como também “de carrinho” na jogada. Não vou cavar pênalti, mas pretendo explicar aqui alguns pontos importantes para a nossa cidade, na certeza de que o debate continuará em alto nível (como acontece sempre neste site). A minha tese nesta discussão é que a escala pode e deve ser revista. Mas tal medida precisa ser posterior a uma série de ações que o poder público municipal precisa tomar em relação à tropa. E para isso, apelo para um importante conceito desenvolvido nos anos 90.

Em 1997 a consultoria empresarial americana McKinsey – a mais antiga das “Big Three” – desenvolveu no livro War for Talent o conceito de EVP – “Employee Value Proposition”. Basicamente, o EVP, que em livre tradução podemos colocar como “Proposta de Valor para o Empregado”, era parte de uma estratégia de retenção de talentos, com foco no ciclo que todo profissional segue dentro de uma empresa, da admissão até uma possível saída. A retenção do profissional se daria não só com bons salários, mas também com benefícios corporativos para ele e sua família e clima organizacional positivo, além de uma menor distância possível do poder. Como aplicaríamos o conceito na administração pública, já que não há, em princípio, necessidade de “retenção” do funcionário – por pura ausência de concorrentes para cooptá-lo? Qual seria o efeito negativo da ausência completa de valor no emprego?
A resposta é simples: um serviço de baixa qualidade para os cidadãos, independente da boa vontade e do esforço dos profissionais. A responsabilidade, neste caso, é exclusivamente do gestor público.

A Guarda Municipal, criada em 1993 pelo então prefeito Cesar Maia, tem uma missão fundamental na nossa cidade, além daquela para a qual foi legalmente criada (preservação do patrimônio público): o ordenamento urbano. Ao longo de anos, foi estigmatizada por “bater em camelôs” sem que nenhuma voz se levantasse em sua defesa. Ora, quando ocorriam episódios de violência entre guardas e camelôs, seguramente os primeiros cumpriam ordens. Além desse estigma, a Prefeitura neste momento está criando outro: a de que os guardas são “vagabundos e preguiçosos” (como disse certa vez um ex-presidente se referindo a aposentados). Por quê? Porque decidiram abrir uma discussão sobre uma nova escala de trabalho, mais dura, sem que fossem atendidos os mínimos requisitos para que o emprego de guarda tivesse uma proposta de valor – como no conceito da McKinsey mencionado no início deste artigo. E lembre-se: o gestor público, no caso o prefeito, prometeu não mexer nessa mesma escala, conforme vídeo gravado durante sua campanha. No entanto, não vejo isso como um argumento decisivo.

Na verdade, a cada dia o emprego de guarda municipal é desvalorizado pela SEOP. As condições de trabalho hoje são abaixo da crítica – são mais de oito anos sem progressão de carreira, há bases que não possuem sequer banheiros, o fardamento está em péssimo estado, os salários seguem defasados, e o efetivo demanda concurso urgentemente – além da convocação dos aprovados de 2012, que têm direito a tal. O editorial do Diário do Rio fala que “900 guardas para uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro não são suficientes”. E eu concordo plenamente – só que há mais de mil guardas deslocados para outras funções fora da atividade-fim! Só aí já teríamos mais de mil guardas por dia, na escala antiga. E vale lembrar também que menos de um terço da guarda cumpre essa escala de 12×60, a maioria cumpria 24×72 até que o secretário de Ordem Pública colocou todos em 12×60.

É óbvio que a escala de 12 x 60 não favorece a eficácia da corporação – mas acredito que tal escala tenha sido uma medida paliativa de gestões anteriores, que em vez de desenvolver uma proposta de valor para o emprego de guarda, deu a eles tempo para “se virarem”. Havia uma frase atribuída a certo ex-governador do Rio na década de 80 quando se viu diante de reivindicação de aumento para a PM: “Vocês têm um distintivo e uma farda, se virem”. Ou seja, já naquela época se instituía a cultura do “bico” como forma de compensar o agente de segurança pública pelas péssimas condições que o Estado lhe dava.

O que precisamos para a cidade é de um choque de gestão na Ordem Pública. Ouvir os guardas municipais e saber o que faria eles se tornarem mais eficazes, o que favoreceria eles assumirem uma escala mais apertada. Tenho certeza de que a escala proposta pela Seop de 12×36 seria aceita com tranquilidade se fosse apresentado aos guardas um plano de valorização da função, que englobasse progressão de carreira, respeito ao concurso público (ao passado e ao próximo, que seja em breve), efetivo retido na atividade-fim, melhores salários, bases decentes e armamento conforme a lei federal já autoriza. Entreguem este pacote, este “EVP da Ordem Pública”, que eles aceitarão a nova escala.

Ou então que se tente a alternativa que deseja a Seop: fazer mais pressão sobre uma tropa que não aguenta mais os desmandos e a falta de condições de trabalho. Se eu fosse o prefeito ou o Seop, perguntaria a alguém da McKinsey o que acontece quando se aumenta a carga de trabalho do funcionário no momento em que ele já tenta entregar resultados sem que haja condições minimamente razoáveis para trabalhar.
Eu sei a resposta, e acredito que a McKinsey também sabe.

*Vereador e Neurocirurgião

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6 COMENTÁRIOS

  1. Muito coerente a sua visão e posição sobre a escala. Num país aonde que recete tivemos vidas ceifadas pelo estresse do trabalho como aconteceu no Ceará e em são Paulo aonde policias mataram companheiros de trabalho. Num país aonde inúmeros empresas se debruça na procura de flexibilização de condições e redução de trabalho( já existem empresas aplicando o 4 trabalhado por 3 de descanso) não é nenhum absurdo que um agente dá Guarda Municipal trabalhe na escala 12×60( diga-se numa minoria) e 24×72( que e a escala que a maioria do efetivo trabalha) aonde todo os agentes que de alguma forma contribui para a segurança pública também trabalha. Ademais a 24×72 nada mais é que uma 12×60 duplicada a ser cumprida num único plantão proporcionando uma melhor condição física e mental. Porém aquele que em palanque diz a uma sociedade que será um gestor público, hoje menti para essa mesma sociedade dizendo que o guarda sumiu da rua por causa de escala de serviço. VC PROMETEU SR° EDUARDO PAES E NÓS COMO SOCIEDADE NAO ESQUECEMOS DE PROMESSA DE CAMPANHA, SÓ AGUARDAMOS O CUMPRIMENTO OU AS PRÓXIMA ELEIÇÕES CHEGAR.

  2. Parabéns vereador Rogério Amorim por ter nos proporcionado direto de resposta. Pois estamos sendo massacrados por inúmeras mentiras… A principal dela é dizer que estamos lutando para permanecer na escala 12×60. A verdade é que o desejo do Guarda é a 24x 72 como é em todas áreas de segurança pública civis… É tirar a guarda do combate ao camelô. Pq esse trabalho informal de camelô se passou a fazer parte de bicos de muitos Guardas que se veem perdidos por tantas perdas saláriais sem ter a dignidade de sustentar sua família. Adoeceria por ter preocupação de não conseguir suprir as necessidades básicas de sua família junto a uma escala escrava sem direitos a um momento de lazer, a escala 12×60 foi dada ao Guarda como forma de nos virar em outros meios para sobrevivencia trabalhando informalmente como um camelo, segurança, Uber e conseguir levar o sustento pra casa. Ninguém descansava não, muito pelo contrário são jornadas dupla, tripla Já que a Prefeitura nunca deu o que é de direito. Dignidade financeira, ser tratados como servidor, um plano de carreira que funcione. Tem Guarda passando necessidade tão grande que já tentaram contra sua própria vida. A maior parte da GM Rio tá na faixa dos 55 anos +… Não tem mais jovem não. A grande maioria já se arrastando com tempo de se aposentar, porém não saem pq perderiam 50 % dos seu salários. Vergonhoso ver como um Gestor trata com desdenha e de maneira irresponsável a vida se seus servidores. São tantas covardias e atrocidades que acontecem nessa Guarda Municipal que vem sendo maquiada por tantos e tantos anos. Que chega dar nojo… Quem tá no topo da pirâmide são usados para massacrar e oprimir ainda mais o servidor. Com salários que superam os 60 mil. É uma discrepância absurda… Enquanto quem tá na base da pirâmide passando fome com a família! Chega de covardia, chega de mudar as nossas vidas do nada. Estamos cansados de tantas injustiças. E vamos trabalhar para mostrar quem são os verdadeiros culpados desse descanso. Eleição

  3. Parabéns vereador Rogério Amorim por ter nos proporcionado direto de resposta. Pois estamos sendo massacrados por inúmeras mentiras… A principal dela é dizer que estamos lutando para permanecer na escala 12×60. A verdade é que o desejo do Guarda é a 24x 72 como é em todas áreas de segurança pública civis… É tirar a guarda do combate ao camelô. Pq esse trabalho camelô se passou a fazer parte de bicos de muitos Guardas que se veem perdidos por tantas perdas saláriais sem ter a dignidade de sustentar sua família. Adoeceria por ter preocupação de não conseguir suprir as necessidades básicas de sua família com uma escala escrava sem direitos a um momento de lazer, a escala 12×60 foi dada aí Guarda como forma de nos virar em outros meios para sobreviver trabalhando informalmente como um camelo e conseguir levar o sustento pra casa. Já que a Prefeitura nunca deu o que é nosso por direito. Dignidade financeira, ser tratados como servidor, um plano de carreira que funcione. Tem Guarda passando necessidade financeira tão grande que já tentaram contra sua própria vida. A maior parte da GM Rio tá na faixa dia 55 anos +… Não tem mais jovem não. A grande maioria já se arrastando com tempo de se aposentar, porém não faz pq ainda perdem 50 % dos seu salário. São tantas covardias e atrocidades que acontecem nessa Guarda Municipal que vem sendo maquiada por tantos e tantos anos. Que chega dar nojo…

  4. Parabéns ao Diário do Rio por mostrar de maneira profunda os problemas da GM-RIO, que poderia prestar um serviço muito melhor se não fosse usada politicamente como tem ocorrido nos derradeiros. A Corporação pode passar por uma transformação e prestar o mesmo serviço como as capitais – SP, BH, Vitória e Salvador. Basta vontade política sobre leis existentes(Fed n°13.022/14 e 13.675/18) e teremos uma nova Guarda nas ruas voltada para a proteção dos cidadãos e do patrimônio público Municipal.

  5. Sou integrante da GMrio e leitor assíduo deste veículo de comunicação, o texto mostra evolução no pensamento em relação ao papel e condições de trabalho dos Guardas Municipais, cujo o foco são os cidadãos. A meu ver pode se aprofundar em relação a questãoda ‘ausência de concorrentes para cooptá-lo?’, tendo em vista o grande número de Guardas que assumem função em outros órgãos públicos via concurso, a ponto da SEAP em determinado momento enviar carta de agradecimento a instituição pelos excelentes profissionais, o Guarda e capacitado e busca Constantine evolução, grande parte possuem nível superior e precisa ser valorizada, para que o cidadão receba um trabalho de excelência. Hoje sucateada pelos gestores que escondem o efetivo para obterem vantagens. Agradeço às palavras em atenção a categoria, a imprensa tem um papel fundamental para estreitar o diálogo na sociedade.

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