O DIÁRIO DO RIO, um dos veículos que melhor debatem o dia-a-dia do Rio de Janeiro, entrou forte no debate sobre a nova escala para a guarda municipal – e no meu caso, um editorial do jornal entrou não só forte como também “de carrinho” na jogada. Não vou cavar pênalti, mas pretendo explicar aqui alguns pontos importantes para a nossa cidade, na certeza de que o debate continuará em alto nível (como acontece sempre neste site). A minha tese nesta discussão é que a escala pode e deve ser revista. Mas tal medida precisa ser posterior a uma série de ações que o poder público municipal precisa tomar em relação à tropa. E para isso, apelo para um importante conceito desenvolvido nos anos 90.
Em 1997 a consultoria empresarial americana McKinsey – a mais antiga das “Big Three” – desenvolveu no livro War for Talent o conceito de EVP – “Employee Value Proposition”. Basicamente, o EVP, que em livre tradução podemos colocar como “Proposta de Valor para o Empregado”, era parte de uma estratégia de retenção de talentos, com foco no ciclo que todo profissional segue dentro de uma empresa, da admissão até uma possível saída. A retenção do profissional se daria não só com bons salários, mas também com benefícios corporativos para ele e sua família e clima organizacional positivo, além de uma menor distância possível do poder. Como aplicaríamos o conceito na administração pública, já que não há, em princípio, necessidade de “retenção” do funcionário – por pura ausência de concorrentes para cooptá-lo? Qual seria o efeito negativo da ausência completa de valor no emprego?
A resposta é simples: um serviço de baixa qualidade para os cidadãos, independente da boa vontade e do esforço dos profissionais. A responsabilidade, neste caso, é exclusivamente do gestor público.
A Guarda Municipal, criada em 1993 pelo então prefeito Cesar Maia, tem uma missão fundamental na nossa cidade, além daquela para a qual foi legalmente criada (preservação do patrimônio público): o ordenamento urbano. Ao longo de anos, foi estigmatizada por “bater em camelôs” sem que nenhuma voz se levantasse em sua defesa. Ora, quando ocorriam episódios de violência entre guardas e camelôs, seguramente os primeiros cumpriam ordens. Além desse estigma, a Prefeitura neste momento está criando outro: a de que os guardas são “vagabundos e preguiçosos” (como disse certa vez um ex-presidente se referindo a aposentados). Por quê? Porque decidiram abrir uma discussão sobre uma nova escala de trabalho, mais dura, sem que fossem atendidos os mínimos requisitos para que o emprego de guarda tivesse uma proposta de valor – como no conceito da McKinsey mencionado no início deste artigo. E lembre-se: o gestor público, no caso o prefeito, prometeu não mexer nessa mesma escala, conforme vídeo gravado durante sua campanha. No entanto, não vejo isso como um argumento decisivo.
Na verdade, a cada dia o emprego de guarda municipal é desvalorizado pela SEOP. As condições de trabalho hoje são abaixo da crítica – são mais de oito anos sem progressão de carreira, há bases que não possuem sequer banheiros, o fardamento está em péssimo estado, os salários seguem defasados, e o efetivo demanda concurso urgentemente – além da convocação dos aprovados de 2012, que têm direito a tal. O editorial do Diário do Rio fala que “900 guardas para uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro não são suficientes”. E eu concordo plenamente – só que há mais de mil guardas deslocados para outras funções fora da atividade-fim! Só aí já teríamos mais de mil guardas por dia, na escala antiga. E vale lembrar também que menos de um terço da guarda cumpre essa escala de 12×60, a maioria cumpria 24×72 até que o secretário de Ordem Pública colocou todos em 12×60.
É óbvio que a escala de 12 x 60 não favorece a eficácia da corporação – mas acredito que tal escala tenha sido uma medida paliativa de gestões anteriores, que em vez de desenvolver uma proposta de valor para o emprego de guarda, deu a eles tempo para “se virarem”. Havia uma frase atribuída a certo ex-governador do Rio na década de 80 quando se viu diante de reivindicação de aumento para a PM: “Vocês têm um distintivo e uma farda, se virem”. Ou seja, já naquela época se instituía a cultura do “bico” como forma de compensar o agente de segurança pública pelas péssimas condições que o Estado lhe dava.
O que precisamos para a cidade é de um choque de gestão na Ordem Pública. Ouvir os guardas municipais e saber o que faria eles se tornarem mais eficazes, o que favoreceria eles assumirem uma escala mais apertada. Tenho certeza de que a escala proposta pela Seop de 12×36 seria aceita com tranquilidade se fosse apresentado aos guardas um plano de valorização da função, que englobasse progressão de carreira, respeito ao concurso público (ao passado e ao próximo, que seja em breve), efetivo retido na atividade-fim, melhores salários, bases decentes e armamento conforme a lei federal já autoriza. Entreguem este pacote, este “EVP da Ordem Pública”, que eles aceitarão a nova escala.
Ou então que se tente a alternativa que deseja a Seop: fazer mais pressão sobre uma tropa que não aguenta mais os desmandos e a falta de condições de trabalho. Se eu fosse o prefeito ou o Seop, perguntaria a alguém da McKinsey o que acontece quando se aumenta a carga de trabalho do funcionário no momento em que ele já tenta entregar resultados sem que haja condições minimamente razoáveis para trabalhar.
Eu sei a resposta, e acredito que a McKinsey também sabe.
*Vereador e Neurocirurgião
Muito coerente a sua visão e posição sobre a escala. Num país aonde que recete tivemos vidas ceifadas pelo estresse do trabalho como aconteceu no Ceará e em são Paulo aonde policias mataram companheiros de trabalho. Num país aonde inúmeros empresas se debruça na procura de flexibilização de condições e redução de trabalho( já existem empresas aplicando o 4 trabalhado por 3 de descanso) não é nenhum absurdo que um agente dá Guarda Municipal trabalhe na escala 12×60( diga-se numa minoria) e 24×72( que e a escala que a maioria do efetivo trabalha) aonde todo os agentes que de alguma forma contribui para a segurança pública também trabalha. Ademais a 24×72 nada mais é que uma 12×60 duplicada a ser cumprida num único plantão proporcionando uma melhor condição física e mental. Porém aquele que em palanque diz a uma sociedade que será um gestor público, hoje menti para essa mesma sociedade dizendo que o guarda sumiu da rua por causa de escala de serviço. VC PROMETEU SR° EDUARDO PAES E NÓS COMO SOCIEDADE NAO ESQUECEMOS DE PROMESSA DE CAMPANHA, SÓ AGUARDAMOS O CUMPRIMENTO OU AS PRÓXIMA ELEIÇÕES CHEGAR.
Parabéns vereador Rogério Amorim por ter nos proporcionado direto de resposta. Pois estamos sendo massacrados por inúmeras mentiras… A principal dela é dizer que estamos lutando para permanecer na escala 12×60. A verdade é que o desejo do Guarda é a 24x 72 como é em todas áreas de segurança pública civis… É tirar a guarda do combate ao camelô. Pq esse trabalho informal de camelô se passou a fazer parte de bicos de muitos Guardas que se veem perdidos por tantas perdas saláriais sem ter a dignidade de sustentar sua família. Adoeceria por ter preocupação de não conseguir suprir as necessidades básicas de sua família junto a uma escala escrava sem direitos a um momento de lazer, a escala 12×60 foi dada ao Guarda como forma de nos virar em outros meios para sobrevivencia trabalhando informalmente como um camelo, segurança, Uber e conseguir levar o sustento pra casa. Ninguém descansava não, muito pelo contrário são jornadas dupla, tripla Já que a Prefeitura nunca deu o que é de direito. Dignidade financeira, ser tratados como servidor, um plano de carreira que funcione. Tem Guarda passando necessidade tão grande que já tentaram contra sua própria vida. A maior parte da GM Rio tá na faixa dos 55 anos +… Não tem mais jovem não. A grande maioria já se arrastando com tempo de se aposentar, porém não saem pq perderiam 50 % dos seu salários. Vergonhoso ver como um Gestor trata com desdenha e de maneira irresponsável a vida se seus servidores. São tantas covardias e atrocidades que acontecem nessa Guarda Municipal que vem sendo maquiada por tantos e tantos anos. Que chega dar nojo… Quem tá no topo da pirâmide são usados para massacrar e oprimir ainda mais o servidor. Com salários que superam os 60 mil. É uma discrepância absurda… Enquanto quem tá na base da pirâmide passando fome com a família! Chega de covardia, chega de mudar as nossas vidas do nada. Estamos cansados de tantas injustiças. E vamos trabalhar para mostrar quem são os verdadeiros culpados desse descanso. Eleição
Parabéns vereador Rogério Amorim por ter nos proporcionado direto de resposta. Pois estamos sendo massacrados por inúmeras mentiras… A principal dela é dizer que estamos lutando para permanecer na escala 12×60. A verdade é que o desejo do Guarda é a 24x 72 como é em todas áreas de segurança pública civis… É tirar a guarda do combate ao camelô. Pq esse trabalho camelô se passou a fazer parte de bicos de muitos Guardas que se veem perdidos por tantas perdas saláriais sem ter a dignidade de sustentar sua família. Adoeceria por ter preocupação de não conseguir suprir as necessidades básicas de sua família com uma escala escrava sem direitos a um momento de lazer, a escala 12×60 foi dada aí Guarda como forma de nos virar em outros meios para sobreviver trabalhando informalmente como um camelo e conseguir levar o sustento pra casa. Já que a Prefeitura nunca deu o que é nosso por direito. Dignidade financeira, ser tratados como servidor, um plano de carreira que funcione. Tem Guarda passando necessidade financeira tão grande que já tentaram contra sua própria vida. A maior parte da GM Rio tá na faixa dia 55 anos +… Não tem mais jovem não. A grande maioria já se arrastando com tempo de se aposentar, porém não faz pq ainda perdem 50 % dos seu salário. São tantas covardias e atrocidades que acontecem nessa Guarda Municipal que vem sendo maquiada por tantos e tantos anos. Que chega dar nojo…
Parabéns ao Diário do Rio por mostrar de maneira profunda os problemas da GM-RIO, que poderia prestar um serviço muito melhor se não fosse usada politicamente como tem ocorrido nos derradeiros. A Corporação pode passar por uma transformação e prestar o mesmo serviço como as capitais – SP, BH, Vitória e Salvador. Basta vontade política sobre leis existentes(Fed n°13.022/14 e 13.675/18) e teremos uma nova Guarda nas ruas voltada para a proteção dos cidadãos e do patrimônio público Municipal.
Já tem o meu voto e de minha família. Obrigado.
Sou integrante da GMrio e leitor assíduo deste veículo de comunicação, o texto mostra evolução no pensamento em relação ao papel e condições de trabalho dos Guardas Municipais, cujo o foco são os cidadãos. A meu ver pode se aprofundar em relação a questãoda ‘ausência de concorrentes para cooptá-lo?’, tendo em vista o grande número de Guardas que assumem função em outros órgãos públicos via concurso, a ponto da SEAP em determinado momento enviar carta de agradecimento a instituição pelos excelentes profissionais, o Guarda e capacitado e busca Constantine evolução, grande parte possuem nível superior e precisa ser valorizada, para que o cidadão receba um trabalho de excelência. Hoje sucateada pelos gestores que escondem o efetivo para obterem vantagens. Agradeço às palavras em atenção a categoria, a imprensa tem um papel fundamental para estreitar o diálogo na sociedade.