Passando pelas pistas do aterro do Flamengo e olhando para o lado oposto à baía, é possível ver-se, lá no alto da montanha (na direção da Ladeira de Santa Teresa) uma grande construção na cor preta (provavelmente por conta de um incêndio), sem telhado e rodeada de lindas palmeiras. Este prédio que gera tanta curiosidade é uma antiga mansão – em ruínas – localizada bem no entroncamento da famosa Ladeira do convento com as ruas Dias de Barros e Hermenegildo de Barros, bem em frente ao tradicional Bar do Serginho, em Santa Teresa. A última foto da reportagem, abaixo, mostra o gigantesco tamanho do terreno que pertence à universidade que existe há 82 anos.
O imóvel, que fica no número 143 da Ladeira de Santa Teresa, já foi invadido em 2011. Na ocasião, a PM retirou os invasores, que pretendiam fazer um “Centro Cultural”, embora tenham providenciado a invasão com 15 famílias a reboque. O outrora bonito imóvel está completamente arruinado, tomado por plantas e árvores, e, segundo moradores, poderia até correr risco de desabamento. As fotos, que circularam pela internet, são chocantes e demonstram a precariedade do local, que serve de residência para muitos animais, que, ao nos aproximarmos do imóvel, se aproximam, como que implorando por comida. Moradores que já tiveram acesso ao imóvel garantem que ele tem a vista mais espetacular do Rio de Janeiro e da Baía de Guanabara.
Visitamos o local por fora e uma moradora de um prédio em frente nos disse que o imóvel destruído se transformou num vetor de problemas para os vizinhos. Não só os animais que lá vivem parecem estar abandonados – segundo vizinhos, apenas esporadicamente há alguém no local embora os cães e gatos estejam sempre por lá – como também se tornou foco de mosquitos e insetos, e por vezes o cheiro das fezes raramente limpas dos animais seja inquietador.
A propriedade, que fica próxima ao largo do Curvelo, já foi de uma Embaixada (moradores antigos divergem se foi da Britânica ou da Canadense) e ocupa praticamente um quarteirão inteiro. O imóvel foi da Universidade Santa Úrsula e foi perdido por dívidas numa briga judicial que terminou em 2016, com o imóvel sendo arrematado pelo investidor francês François Delort, ex-dono do Hotel Santa Teresa, e proprietário de diversos imóveis no bairro.
Em agosto de 2021, outros imóveis da Universidade junto à mansão – que era utilizada como residência de freiras até os anos 60 – aparentemente foram a leilão via o martelo do leiloeiro Paulo Botelho, mas não conseguimos confirmar se foram vendidos. A universidade foi processada pela União, em razão de débitos federais, e a juíza Cláudia Márcia de Carvalho Soares mandou o imóvel à hasta pública.
Dizia o edital do leilão, na ocasião:
“IMÓVEIS: 1) Casa III e correspondente terreno na Ladeira de Santa Teresa, número 117, freguesia de São José, com os limites e confrontações constantes na Matrícula 7637 do 7º RGI do Rio de Janeiro, FRE 206293, CL 8091, avaliada em: R$ 260.000,00 (duzentos e sessenta mil reais; 2) Casa IV e correspondente terreno na Ladeira de Santa Teresa, número 117, freguesia de São José, com os limites e confrontações constantes na Matrícula 7838 do 7º RGI do Rio de Janeiro, FRE 206294 CL 8091, avaliada em: R$ 260.000,00 (duzentos e sessenta mil reais); 3) Lote 2 do PAL 41.271, antigo, atual lote 2 de 3ª categoria, com frente para a Ladeira de Santa Teresa, freguesia de São José, com os limites e confrontações constantes na Matrícula 36762 do 7º RGI do Rio de Janeiro, avaliado em: R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Total da Avaliação: R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais).“
Segundo informações de moradores, estes imóveis também estariam arruinados.
Na ocasião, os advogados da Santa Úrsula alegaram que os imóveis de Santa Teresa haviam sido avaliados por preço excessivamente baixo, e contestaram sua avaliação. O oficial de justiça avaliador informara ao juízo que não conseguira entrar no imóvel, e que por isso o havia avaliado sem visitá-lo. Todavia, em vista das fotos acima, talvez a visita o fizesse avaliar por menos ainda.
investidor François Delort ocupa todo este terreno. Abandonada há décadas, só serve como foco de vetores de doenças.
Em 2015, a universidade recebeu de novos investidores de Minas Gerais um aporte de 35 milhões de reais e começou a planejar uma expansão. O grupo de 5 investidores assumiu as rédeas da USU há dez anos, liderados pelo empresário do ramo educacional Ruy Muniz, que já foi prefeito de Montes Claros (MG). A instituição na ocasião, estimava um rombo de 300 milhões em suas contas.
Atualização – Segunda-feira (07/02) – 11:55
Em contato com a reportagem, a Universidade Santa Úrsula (USU) informou que a propriedade citada na matéria não pertence mais a instituição. A nota da universidade diz que o imóvel foi comprado em março de 2012, pelo empresário François Alfred Robert Delort.
Na década de 60 esse imóvel funcionava como residência de freiras, havia uma casa de época e jardins muito bem cuidados, inclusive uma horta.
Eu e meus colegas ainda criança muitas vezes pedíamos as freiras para entrar nos jardins já que haviam árvores frutíferas como mangueira e goiabeira.
Soube depois que houve uma ampliação do imóvel com um andar superior bloqueando a vista linda da Baía de Guanabara e a obra foi embargada vindo a sofrer um incêndio tempo depois. Isso é parte do que lembro antes os anos 1960 até 1970.
A universidade deveria utilizar os bens que possui para honrar dívidas trabalhistas que tem com ex funcionários. Dividas que se arrastam na justiça por mais de 15 anos.