Sacrifício Azul: A polícia que mais morre é a nossa

Na nova série do DIÁRIO DO RIO, autoridades como os deputados Otoni de Paula e Márcio Gualberto avaliam a realidade da polícia do Rio, que é rotulada de forma depreciativa, mas que sofre inclusive por falta de apoio da sociedade

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Foto: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro / Redes Sociais

O estigma que a polícia enfrenta na sociedade pode ser tão prejudicial quanto as ações dos criminosos contra os agentes da corporação. Para tentar mudar essa realidade, o DIÁRIO DO RIO entrevista autoridades a respeito deste quadro.

A cada morte de policial, parte da sociedade fica sem aquela proteção. Ouvimos dois parlamentares atuantes na bandeira da Segurança Pública na primeira matéria da série: os deputados Otoni de Paula (federal) e o estadual Márcio Gualberto, que preside a Comissão de Segurança Pública da Alerj, sobre o maior desafio, que é reverter a estatística que coloca a Polícia Militar do Rio de Janeiro como a que mais morre em todo Brasil, e também de outras polícias fluminenses, cada vez mais alvo de bandidos.

De Brasília, no Congresso Nacional, o conservador Otoni de Paula mostra que a situação já passou dos limites. Ele, que vem pré-candidato a prefeito do Rio pelo MDB e recentemente recuperou as suas fortes redes sociais após mordaça que rendeu protesto na diplomação em dezembro de 2022, quando foi censurado pelo Judiciário, é membro da Comissão Mista de Orçamento da Câmara Federal e deve tornar o PAC, uma realidade, além de focar na Segurança Pública. A tolerância com crimes contra policiais, para Otoni, é um crime contra a Federação. “Cada policial morto em serviço é um assassinato do próprio estado brasileiro. Ou seja, quando você tem a morte de um policial, você tem um crime contra o Estado. E, enquanto o crime contra policiais não for tratado como um crime contra o Estado Brasileiro, você não vai inibir o criminoso, para que ele tenha medo de enfrentar a polícia. É importante que a gente trate este crime como hediondo”, exclama de Paula.

No dia a dia na capital do Distrito Federal, Otoni acompanha de perto um Projeto de Lei que tenta enquadrar o assassinato de um policial como crime hediondo. “Enquanto um PL como este não for realidade, não for sancionado, você vai tratar a morte de um agente público de Segurança Pública como algo normal da própria atividade. Mas, não é da atividade do policial a morte”, reitera.        

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Por também acreditar que a afronta chegou ao limite, Gualberto vem atuando na esfera estadual, em segundo mandato, à frente da Comissão sobre o tema na Alerj, que ainda conta com a colega de Partido Liberal Índia Armelau, na vice-presidência. Ela já quase perdeu o marido, policial penal, baleado por bandidos. “A morte de um policial em serviço significa, dentre outras coisas, que o próprio Estado está sendo frontalmente atacado. É gravíssimo e não pode ser minimamente relativizado. Estamos inseridos num contexto de insurgência criminal. É uma revolta contra os poderes constituídos”, salienta o deputado.

E quando o assunto é dar resposta via próprio Estado, em especial na elucidação do crime contra o policial, Otoni de Paula acredita que a mudança deve vir da percepção da sociedade sobre a importância da polícia. “Eu destacaria tanto a Polícia Militar quanto a Civil. A Militar porque ela vai para o enfrentamento. Diferente do papel de polícia judiciária que é a Civil. Assim, nós precisamos resgatar essa imagem que a sociedade tem do policial porque, de um tempo para cá, o que se construiu foi a imagem degradante do policial, claro baseada nos maus policiais, em detrimento dos grandes profissionais, que são a maioria dos nossos policiais no nosso estado do Rio de Janeiro. Essa desconstrução da imagem do policial na sociedade, eu entendo que faz com que o Estado se preocupe menos que deveria com a elucidação de crimes contra este agente público, pois tem a ver com quanto a sociedade se mobiliza para que isto aconteça. Então, a gente precisa começar uma campanha maciça sobre esta contrainformação, que é liderada, na maioria, pela esquerda, dessa desconstrução que fazem da imagem da nossa polícia”, engaja Otoni de Paula, que ainda completou que a morosidade nas investigações de crimes contra policiais, desde a perícia, se dá quando o crime não choca a sociedade. “Enquanto isso for comum, for normal, ou seja, ser normal matar um policial, você vai continuar tendo um estado moroso enquanto a polícia morre, não é?”, completa o deputado federal, que considera a polícia a última barreira de proteção entre o cidadão e o crime organizado.

Policia Civil Sacrifício Azul: A polícia que mais morre é a nossa
Defasagem no quadro das Polícias pode ser a causa da morosidade nas investigações, inclusive quando o crime é contra a própria Polícia Foto: Divulgação

Já Gualberto observa que, mesmo distante do ideal, houve, nos últimos quatro anos, uma melhora. “Precisamos avançar bastante. As investigações são bem realizadas, apesar da Polícia Civil ter um déficit muito grande de material humano. É por isso que precisa ocorrer um esforço concentrado do Governo do Estado para chamar o mais rápido possível – e sem perder a qualidade formativa – o maior número possível de aprovados nos últimos concursos para a área de segurança pública. Precisamos de políticas públicas consistentes que possam, verdadeiramente e de maneira duradoura, impactar na vida dos moradores do nosso Estado. Por outro lado, os Policiais ainda possuem demandas fundamentais sem solução. Por exemplo: os auxílios-alimentação e transporte estão muito defasados; outro problema refere-se à escala da Polícia Militar. Sem dúvida alguma, é um incômodo constante termos os Policiais mais bem preparados da América Latina não sendo valorizados naquilo que colaborará para uma melhor qualidade de vida desses homens e mulheres e que trará ganhos significativos na atividade que desempenham”, ressalta o estadual.

Sobre as leis, Gualberto ressalta que ainda são brandas e aposta na adoção da Tolerância Zero para o criminoso. “Deve-se abandonar uma visão marxista, que considera o bandido uma vítima de uma sociedade burguesa, branca, capitalista e opressora. Essa falácia, que hoje aprisionou várias mentes e corações, está conduzindo-nos para uma terra sem lei. O maior legado dos defensores desses sofismas de quinta categoria para a área de Segurança Pública foi o surgimento do Comando Vermelho na Ilha Grande, quando presos comuns tiveram contato com guerrilheiros comunistas. Essas ideias já foram longe demais. Chega!”, finaliza.

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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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1 COMENTÁRIO

  1. Muito que bem…

    Quem manda esses policiais para morte todos os dias? Quem determina uma política de segurança pública burra, do confronto e da ineficiência?

    Ah ta…Governador e Secretário de Segurança.

    Quanto tá o placar? Bandidagem 9828817277171228 X 0 polícia

    Ao adotar essa política de segurança que a polícia mais mata e também mais morre, tolo é quem toma as dores dos puliça ciente dessa situação. Mais tolo ainda quem acredita em político que se promove em sima da poliçada.

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