Sacrifício Azul: no Brasil, o assassinato de um policial é um crime menor?

Especialista de Direito Criminal acredita em ‘policiofobia’ por parte da sociedade, e sugere criação de delegacia especializada em crimes contra policiais, insurgindo-se contra a falta de atenção da mídia aos assassinatos de membros da força policial

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Foto: Divulgação

Rio de Janeiro, três médicos executados em um quiosque na Barra da Tijuca: crimes que ocorreram e ganharam a devida importância, não só pelo ocorrido como também para as investigações, que receberam total atenção da mídia e foram comentário geral. Ocorreram até mobilizações de polícias que ultrapassaram as barreiras fluminenses. Um tempo antes, um policial penal foi morto após deixar o serviço em retaliação pelo bom combate ao crime organizado, mas pouco se falou desta outra morte bárbara. Nossos policiais tão aí pra morrer mesmo?

Na primeira reportagem da série Sacrifício Azul, que traz o outro lado – da Polícia que mais morre – temos a impressão de que o assassinato de nossos policiais se tornou algo tão comum que pouco se lê ou assiste sobre isso, e pela população o assunto acaba quase que ignorado. O deputado federal Otoni de Paula trouxe ao debate a questão de que um aumento na percepção da importância do policial traria mudanças, fazendo com que os abomináveis crimes cometidos contra nossos policiais tivessem respostas cobradas duramente pela mídia e pelo povo, conforme ocorre com casos de grande repercussão, como da vereadora Marielle e seu tão esquecido motorista.

Acostumado a ver como a diferença de investigação faz diferença inclusive na hora do julgamento dos criminosos pela Justiça, o advogado criminalista e professor de Direito Penal Carlos Fernando Maggiolo atribui a pouca visibilidade destes casos ao que ele denomina “policiofobia”, que, segundo ele, vem sendo praticada pela grande mídia, que persegue e desvaloriza toda a classe policia. Mas pior do que o comportamento de uma mídia que todos sabemos de que lado está, é pior ainda o que sofrem os integrantes de nossas forças de segurança “pelas mãos de nosso Judiciário e Legislativo, que engessam a atividade policial, e pelo Executivo Federal, que enxugou expressivamente o orçamento destinado à segurança pública, sucateando a polícia”. Ele adiciona que “Não temos uma imprensa que cobre das autoridades uma resposta quando um policial é brutalmente assassinado. Estamos vivendo momentos sombrios – o apogeu da inversão de valores. O Brasil está passando por uma gestão que está subvertendo todos os valores da sociedade brasileira. A polícia é a última fronteira entre a ordem e o caos”, alerta o especialista, que ainda acrescentou que a criação de uma delegacia especializada resolveria essa deficiência investigativa, além de investimentos em equipamento e inteligência.

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Imagem deturpada que a sociedade tem da Polícia, em especial a Militar, estaria contribuindo para o esquecimento de crimes contra os agentes – Foto: Divulgação/PMERJ

O deputado estadual Rodrigo Amorim é outro que avalia que uma visão deturpada da Polícia, em especial, a Militar, causaria uma espécie de injustiça com a grande parcela dos policiais honestos. “Ao longo das últimas décadas, a maior parte da mídia sempre destacou os malfeitos da PM e pouco espaço deu para o trabalho positivo que efetivamente a corporação realiza todos os dias. Se colocarmos na ponta do lápis, nós temos entre 45 e 50 mil homens e mulheres na corporação, trabalhando todos os dias, efetuando centenas de prisões por mês. Mas, basta que dois ou três policiais cometam um erro (mesmo de forma culposa, não dolosa), que a mídia começa a fazer campanhas de ataques à reputação da PM, muitas vezes, propondo a bandeira absurda do PSOL que é a desmilitarização”, relembra.

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Amorim ainda mostra otimismo após programas implantados ao longo do tempo que começaram a aproximar novamente os agentes de Segurança Pública dos cariocas. “Felizmente, esta tendência começou a se reverter, as pessoas hoje já são novamente vistas cumprimentando policiais. A sociedade tem que se aproximar do policial, entender seus limites, saber de seus problemas. Ora, não estamos há anos tentando “entender” bandidos homicidas e traficantes? Por que não fazer o mesmo com policiais?”, questiona, num tom de revolta com uma mídia que chama de “suspeitas” pessoas que são presas em flagrante e até são filmadas cometendo crimes.

Com o foco mais voltado para o dia a dia da Polícia, o também deputado estadual Anderson Moraes defende mais polícia no quadro do RJ. “Acredito que o mais importante seja a polícia possuir um efetivo suficiente, composto por policiais vocacionados e com dedicação exclusiva. É fundamental também a experiência dos policiais combinada com uma constante especialização e renovação de equipamentos e materiais. Tratam-se dos defensores da sociedade”, salienta.

Procurada, a assessoria da Polícia Civil não respondeu aos questionamentos sobre o porque não costumam se desenvolver no mesmo ritmo as investigações de crimes de nossos policiais.

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VIAAmanda Raiter
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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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10 COMENTÁRIOS

  1. Excelente iniciativa dos nobres parlamentares fluminenses. Já passou da hora da sociedade carioca e fluminense apoiar a sua instituição policial (civil, militar e penal). Não podemos continuar com a noção deturpada de uma mídia tendenciosa de que as instituições policiais são compostas de cidadãos corruptos e violentos. Violento e sem limite são os criminosos, seja de que tipo penal for e suas varias facções criminosos. A sociedade tem que cobrar do legislativo, do judiciário e do Ministério público, mais rigor na aplicação das penas e celeridade nas investigações policiais. Assassinato de policiais não podem ficar impunes e a POLIÍCIA tem que dar imediata resposta, como instituição a esses ataques a seus agentes. Chega de endeusar o crime. Os policiais, os poucos, que se desviam de sua missão, são implacavelmente punidos por suas corregedorias, celeremente denunciados pelo MP e sumariamente julgados pelo poder judiciario. Parabéns policia civil, militar e penal, por continuarem a executar a sua missão em defesa da sociedade.

  2. “Sacrifício Azul” pq?

    Essa é a polícia que mais morre, mas também é a que mais mata.

    Se a política pública de segurança é o da guerra urbana, de enviar o policial pra matar e pra morrer na periferia…Pq eu vou ter pena ou indignação pelo cara que faz concurso sabendo disso tudo?

    Antes ele do que eu! Pago imposto pra ter segurança e se o cara é enviado pra matar e pra morrer eu vou fazer o que? Morrer por ele?

    Aliás, a população não compadece da polícia MILITAR pq ela tem memória: muitos perderam e perdem parentes, amigos ou sentiu na pele os “esculachos”, que nunca acontecem depois do Santa Bárbara.

    Vcs parecem um disco arranhado. Dá pra fazer um bingo:

    – Grande mídia;
    – Esquerda;
    – Judiciário;
    – População (que não é “de bem”);
    etc, etc, etc

    PreguizzzZzzZza.

    • Ah é idiot….. , então por gentileza, responda, se for possível:

      * se a polícia parasse entrar nas favelas, os tiroteios parariam?

      * o que faria você se fosse traficante de drogas / miliciano e vendedor de serviços e produtos, como gatonet, gás, vans e etcs, ao saber que não mais haveriam operações policiais contínuas?

      * se sua resposta para a pergunta acima for “expansão de território e consolidação de domínio”, muito bem, você é experto.

      * sabendo disso, o que acha que ocorreria entre a facção A, que está exapndindo território e a facção B, que está sendo invadida? Será que ocorreria um grande confronto, com balas perdidas e tudo, além de invasão de casas de moradores?

      * se você concorda que a resposta da pergunta acima é SIM, o que fariam os batalhões locais, após receberem ligações informando o confronto? Permaneceriam estáticos, largando os moradores à própria sorte? Se a resposta for não e policiais fossem enviados, o que ocorreria quando eles chegassem à favela?

      * se a resposta à pergunta acima for……..confrontos, o que acha que aconteceria durante esses confrontos? Será que haveria a possibilidade de mortes entre moradores, bandidos e policiais?

      * se a resposta à pergunta acima for positiva, então meu caro, o problema das mortes policiais independem de uma guerra contra as drogas. Pois, em sua memória seletiva, ou ignorância mesmo, você esquece que, quem se armou para a guerra primeiro, por conta das disputas territoriais e segurança dos seus próprios territórios foram os bandidos. Tanto que durante muito tempo a polícia foi questionada por ter armas inferiores aos bandidos, que já portavam fuzis e os policiais ainda usavam carabinas e 38 na época.

      Infelizmente, pela ineficiência do estado, a merd.. do legislativo e judiciário, forte corrupção na própria polícia e pela forte pressão (e consumo dos produtos deles) exercida por gente da sua laia, esses bandidos tenderão a ser cada vez mais fortes, destruindo completamente qualquer sensação de bem estar no Rio de Janeiro e depois no resto do país.

      • A polícia não precisaria entrar na favela pra matar e pra morrer se as Forças Armadas não repassasse metralhadoras que derrubam helicópteros para o crime. Ou se a Polícia Rodoviária Federal impedisse de entrar no estado as armas e drogas. Ou se os mentores e financiadores disso tudo fossem preso ou ao menos sentissem medo de ser preso (políticos, empresários, pastores, militares, policiais, etc).

        Todas as suas perguntas seguintes não tem fazem sentido depois disso.

      • Você parece não entender o que se propõe com a desmilitarização da polícia.

        Ninguém está dizendo que não deveria EXISTIR uma força policial; ninguém defende que não haja COMBATE AO CRIME; tudo isso seria um total absurdo e uma burrice atroz. O que se critica é a lógica MILITAR de uma força policial para atuar junto à população civil, lógica essa que trata o cidadão do próprio país como UM INIMIGO A SER ABATIDO. O que se critica são as táticas usadas por essa polícia militarizada em nome do combate à criminalidade, que passa por cima IMPUNEMENTE de direitos fundamentais do cidadão comum, provocando mortes desnecessárias (e criminosas) além de abusos inexplicáveis das prerrogativas destes agentes policiais.

        Se você quer de fato acabar com a atuação das facções criminosas, comece refletindo sobre como elas se estabelecem e quais mudanças radicais nas leis do país seriam necessárias para desestimular a atuação desses grupos. Entenda também os mecanismos dos quais se valem essas facções para obter o armamento pesadíssimo que usam. Você ficaria ATÔNITO ao saber como esses caras conseguem armas, e certamente perderia todo o respeito por figurões que você admira muito, figurões esses que não passam de bandidos engravatados e com os dentes bem tratados.

        Procure xingar menos, seque a baba de ódio escorrendo pela boca, e busque as causas sociais dos nossos problemas sociais.

    • Verdade. Esse papo aí só cola pra um grupo de pessoas específicas…

      A REALIDADE é pior do que isso.

      O sentimento que eu tenho da polícia é de medo e não de proteção. E não, eu não moro em area de milica, onde eles mandam e desmandam.

      Por mim, a PM acabaria. Uma polícia diferente poderia dar os resultados que a PM não dá.

  3. Esse deputado Amorim precisa explicar com argumentos muito convincentes o porquê ele considera “absurda” a desmilitarização da polícia. No país que ele provavelmente usa como modelo a ser seguido, Estados Unidos, a polícia é militarizada? Nos outros países que ele provavelmente também admira, tais como Reino Unido, França, Canadá, Austrália, Bélgica, Itália, Portugal, etc, as polícias são militarizadas? Faltou ele explicar (coisa que ele NUNCA faz) os motivos que levaram a militarização de uma parte das forças policiais no Brasil, coincidentemente – só que não -, a mais violenta e a que mais achaca o cidadão comum.

    A lógica militar condiciona seus agentes a COMBATER INIMIGOS, que via de regra são estrangeiros, ou seja, DEFENDER O PAÍS DE AMEAÇAS ESTRANGEIRAS. O papel de uma força policial (pelo menos uma decente) é de garantir a ordem interna, mas sem a lógica do inimigo, pois o CIDADÃO DO SEU PRÓPRIO PAÍS NÃO PODE SER VISTO COMO INIMIGO A SER DERROTADO. A polícia tem que ser uma instituição CIVIL e CONTROLADA POR CIVIS. Se um policial comete um crime, especialmente no exercício de suas funções (como cobrar propina, abusar de autoridade e matar pessoas sem motivo claro), ele TEM QUE SER INVESTIGADO E JULGADO PELA SOCIEDADE CIVIL, ao invés de ficar protegidinho pela corporação, como costuma acontecer. Eu inclusive defendo a ideia de que até mesmo membros das forças militares sejam investigados e julgados por instituições civis, mas isso é outra discussão.

    As polícias militares do Brasil abusam de suas prerrogativas e matam pessoas inocentes há décadas, sob um argumento rançoso e hipócrita de “combate ao crime organizado”. Este não só não é combatido, como aumenta sua atuação ano após ano. O mínimo, então, que se poderia dizer desta polícia é que é incompetente. Mas todos sabem que o buraco é mais embaixo, e há muito mais coisas sujas envolvidas no crime organizado do que se mostra.

    Defender a manutenção da lógica policial em vigor é fazer vistas grossas ao desrespeito e à matança de cidadãos brasileiros. Um servidor público com mandato concedido pelo voto popular deveria ser o primeiro a CONDENAR os abusos cometidos pela polícia, e EXIGIR investigações e punições rigorosas. É óbvio que o aparato policial tem que receber investimentos e ter a atenção devida, assim como todas as outras instituições públicas. Mas engana-se quem acha que esta visão negativa da polícia é fruto apenas de “campanha da mídia” e de “discurso de esquerdista”; as experiências cotidianas na relação entre agentes policiais e o cidadãos comuns têm um peso muito importante na opinião que se forma, e se o povo diz o que diz a respeito da polícia, particularmente os mais humildes, certamente não é por acaso.

    • Tem razão. Esse Amorim é um lacrola. Fala pra convertidos. Não liga lé com cré.

      O Brasil é um dos poucos países que tem uma polícia militarizada. Uma herança maldita dos senhores de engenhos e da Ditadura Militar.

      Na lógica desses politicos de 5° categoria, o que é do Estado e não presta deve ser privatizado. Vc já viu essa gente falando em privatização da PM? Pois é…perderiam os votos da poliçada.

  4. O problema está no preconceito e muito contribui pelas experiências e percepções na infância que vão moldando futuros adultos, mas não apenas quanto ao policial, também ao professor, à mulher, etc.
    As escolas mais preocupadas em formar mão de obra para o mercado e/ou ranking de classificações em aprovados para universidades supostamente renomadas (muitas só tem nome) não preparam pessoas para o convívio ético.

  5. Leia o código penal, procure se entre as qualificadoras do homicídio não está encontra prevista aquela contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, ou seja, que inclui policial (e até familiar deste).

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