Por Bernardo Moura
Agora que o Carnaval acabou, dizem que o ano começa. Muita gente deve estar se perguntando o que fazer. Até porque, a “vida normal” será a protagonista nos próximos 340 dias. Contudo, para alguns a folia continua… na sala de aula.
A analista de sistemas, Isabela Barbosa, é uma delas. Ela faz sua pós graduação em gestão de projetos com pessoas de Administração, Arquitetura, Engenharia, Economia dentre outros. Por sua vez, conseguiu colocar a folia na sala de aula:
– A paixão da minha vida sempre foi o carnaval. Como agora, o meu professor pediu pra fazermos um projeto que desse certo, lembrei logo deste espetáculo- afirma ela
Mas a pergunta que não quer calar: por que a folia de Momo?
– Porque é uma festa tão bonita que precisa ser muito bem organizada – completa.
E Isabela não está sozinha, não. É cada vez maior o índice de alunos que abordam o carnaval como tese de monografia. O jornalista do site SambaRio, Marco Maciel, escreveu "Folia na Rede – O Carnaval na Internet". Ele diz que a sua motivação foi a falta de informações no mundo virtual sobre o assunto (até porque foi há dez anos atrás) e de trabalhos acadêmicos, em geral:
– Fui coletando as principais notícias publicadas nos sites Galeria do Samba e Esquentando os Tamborins desde outubro de 2006 (a partir da escolha do samba da Beija-Flor) até maio de 2007, a fim de servirem como anexo. Também fiz uma pesquisa com usuários de fóruns como o Espaço Aberto (Galeria do Samba) e o Setor 1 (Tamborins) para calcular a média de faixa etária dos frequentadores.- diz ele.
Já Rodrigo Cordeiro retratou a cultura popular e o carnaval. Rodrigo quis mostrar sobre como os desfiles mudaram a partir de que foram transmitidos, utilizando como base a escola latino-americana de comunicação:
– Usei livros bem teóricos, não há nada que ligue uma coisa a outra. Precisei fazer entrevistas para mostrar se minha teoria estava certa. Não foi fácil pela falta de bibliografia, mas foi um prazer pesquisar sobre o assunto – diz.
A falta de bibliografia é um problema constante. Contudo, segundo Felipe Ferreira, escritor de vários livros publicados, dentre eles “O livro de ouro do Carnaval brasileiro” e coordenador da Pós Graduação em Artes da Uerj e coordenador do Centro de Referência do Carnaval, ela aumenta pouco a pouco:
– A gente tem muita coisa escrita sobre o carnaval, mas quase toda a bibliografia carnavalesca é ainda baseada sobre os conceitos antigos. Foram fixados lá nos anos 50. Uma forma um pouco romântica de se entender o carnaval – diz ele
Porém, não basta só querer abordar o tema e sair por aí escrevendo e coletando dados. Para Felipe, os alunos ainda pensam um pouco de forma limitada:
– Nosso objetivo principal é esse: abrir perspectivas para o estudo acadêmico do carnaval. As pessoas, normalmente, vem com uma idéia pré- concebida. E a gente busca discutir e pensar de uma maneira mais moderna. Uma forma mais contemporânea, e não, daquela forma que os estudos costumam ver o carnaval – completa.
Logo, se você, caro leitor, está lendo esta coluna e pensa em escrever uma monografia sobre o maior espetáculo da Terra, te dou total apoio. A folia momesca é uma coisa séria e precisa ser catalogada em livrarias e bibliotecas.
Notas:
- Parabéns a todos da família Acadêmicos do Salgueiro. Apesar da fraca safra de sambas, a vermelho-e-branca tijucana mereceu o mais alto lugar do pódio. Lá, eles fazem um belíssimo trabalho. Que continue por muitos anos mais.
- Parabéns a nós, cariocas, que nossa cidade completou 444 anos de existência. E mais ainda, parabéns por nós que pudemos curtir um carnaval tranqüilo (apesar de algumas falhas de infraestrutura) nunca visto antes.
- Decidi escrever este texto contra a Universidade Estácio de Sá, por querer encerrar as atividades no seu Instituto do Carnaval, após seu amplo sucesso. Uma coisa que ainda estou tentando entender. Fica aqui o meu protesto.