São João Marcos, a cidade submersa no estado do Rio

No início do século XX, a concessionária canadense Light arrendou e inundou parte do local para a fazer uma usina hidrelétrica

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Foto: Ana Morize

Histórias sobre locais submersos são muito comuns no imaginário popular e, de fato, na história da humanidade. No Rio de Janeiro temos um exemplo. São João Marcos – que ficava próxima de Rio Claro (que era seu distrito), Mangaratiba e Itaguaí – deixou de existir porque parte de seu território foi tomado pelas águas.

Tudo se deu entre 1905 e 1907. A concessionária canadense da Light arrendou e inundou um distrito rural de São João Marcos para a construção de uma usina hidrelétrica, que gerou a formação do lago da Represa de Ribeirão das Lajes.

Logo de cara, esse lago trouxe diversas epidemias para o local, como a malária. Parte considerável da população morreu depois da diminuição da produção de café (principal motor econômico da região) e por conta de doenças.

Já em 1939, a concessionária tentou elevar o nível do lago para aumentar a capacidade da represa. A decisão foi impedida pelo antigo SPHAN, atual Iphan, que fez o tombamento de São João Marcos.

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Foto: Arquivo Parque Ecológico São Marcos

Porém, no ano seguinte, em 1940, o tombamento foi desfeito após um decreto do então presidente Getúlio Vargas, que desapropriou as terras da cidade. A igreja matriz, erguida em 1739, em homenagem ao padroeiro, foi o último prédio da cidade. Ninguém queria fazer a explosão pensando que destruir uma igreja seria pecado.

A história de São João Marcos se inicia em 1739 com a construção de uma capela dedicada ao santo pelo fazendeiro João Machado Pereira. Em volta do singelo templo cresceu um povoado privilegiado pelas condições naturais para o cultivo do café, fruto que nos 200 anos seguintes projetaria a cidade como uma das mais ricas do Brasil Colônia e Imperial. São João Marcos cresceu e se desenvolveu por meio de mãos negras na produção do ‘ouro verde’. O Ciclo do Café atingiu o auge da prosperidade em torno de 1850 quando São João Marcos – núcleo urbano e área rural – chegou a ter 18 mil habitantes, sendo oito mil escravizados, a maioria pertencente ao maior cafeicultor da região, Comendador Joaquim José de Souza Breves”, destaca a página Parque Ecológico São Marcos.

No ano de 1943, a população restante foi deslocada para municípios vizinhos como Rio Claro, Mangaratiba, Itaguaí e Piraí. No fim das contas uma parte considerável cidade acabou nem sendo coberta pelas águas. Outra parte foi inundada.

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Foto: Dayane Caputo Camacho Lopes, 2019

Em 1990, a Ponte Bela e as ruínas do centro histórico de São João Marcos foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

“São João Marcos era uma cidade formada por uma dezena de ruas, três largos e algumas travessas. A área urbana era composta de casas de construção térrea e sobrados neoclássicos e o calçamento feito de pedra de cantaria. Tinha prefeitura, câmara municipal, cadeia, duas escolas públicas, agência de correios, hospital, duas igrejas (Matriz e Nossa Senhora do Rosário), dois cemitérios, teatro (São João Marcos, mais tarde também conhecido como Tibiriçá), estação meteorológica, time de futebol (Marcossense F.C.), lojas de comércio e dois clubes (Marquense, frequentado pela elite; e o Prazer das Morenas, mais popular), com suas respectivas bandas de música”, informa o site Parque Ecológico São Marcos.

O ex-prefeito Pereira Passos e o poeta Fagundes Varela são filhos ilustres da cidade de São João Marcos.

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Atualmente parte do território é o terceiro distrito do município de Rio Claro, no Vale do Paraíba Fluminense, e a outra parte é o quarto distrito daquele mesmo município, com nome de Passa Três. As ruínas deste antigo município fluminense podem ser vistas às margens da rodovia RJ-149 entre os municípios de Rio Claro e Mangaratiba, onde foi construído um parque arqueológico mantido pela empresa Light S.A., com a finalidade de preservar sua memória.

Em 2008, o Instituto Light, mantido pela empresa LIGHT S.A., que tem como objetivo contribuir para a preservação histórica e cultural da região e para o desenvolvimento do turismo local, com patrocínio da Secretaria de estado da Cultura do Rio de Janeiro, por meio da Lei de Incentivo à Cultura e apoio de diversas instituições foi iniciado o projeto de construção do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. No dia 9 de junho de 2011, o Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos foi oficialmente inaugurado.

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Foto: Parque Arqueológico e Ambiental São João Marcos

O Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, que é o primeiro sítio arqueológico urbano do Brasil integralmente resgatado por arqueólogos, é um museu a céu aberto no interior do Rio de Janeiro que preserva a história do Vale do Café.

Patrocinado pela Light e pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e gerido pelo Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV), o Parque promoveu, desde a sua inauguração em 2011, mais de 40 eventos culturais. No mês do seu aniversário, contabilizou 50 mil visitantes, entre eles mais de 15 mil estudantes de escolas públicas, que visitaram o Parque dentro de um programa educativo estruturado“, informa a empresa Light.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Nasci quando não existia mais a cidade
    No ano de 1952
    São João Marcos terceiro distrito do Município de Itaverá, hoje atual Município Rio Claro
    Em 1960 meu pai nós levou
    Para Seropédica segundo distrito de Itaguaí ficamos na UFRRJ
    meu avô continuou lá
    Em 1990 formos para Campo Grande
    Meu avô nasceu viveu e morreu em São João Marcos. Quando íamos lá ele comentava muito o que tinham feito com a cidade.
    Políticos do Brasil não pensam
    Uns destroem
    Outros querem preservar a destruição

  2. A Light, depois de manipular a República para arrasar a cidade, continua lucrando hoje. Com seu projeto de “resgate da memória” passa por benemérita aos olhos da opinião ao mesmo tempo em que, como é de se supor, amealha o valor correspondente às benesses fiscais respectivas.

  3. A cidade era pujante pra época – cabe ressaltar que os ricos tiveram informação privilegiada e se desfizeram de suas propriedades por bons preços, enquanto os pobres foram indenizados por miséria.

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