Save the Children chega ao Brasil e expande programa que assiste crianças em vulnerabilidade

Organizações locais já apoiadas atuarão no papel de liderança

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A Rede Não Bata, Eduque, uma das organizações apoiadas pela Save the Children, é um movimento social brasileiro que luta pela erradicac?a?o do castigo fi?sico contra crianc?as e adolescentes. Foto: Divulgação

Uma das maiores organizações internacionais de direitos das crianças, que está presente em mais de 120 países, a Save the Children inaugura esta semana seu primeiro escritório no Brasil. O principal objetivo é levar a luta por direitos infantis ao topo da agenda nacional e melhorar as vidas impactadas pela violência e pela pobreza no Brasil, o quinto maior país do mundo e o sétimo mais populoso, onde quase metade das crianças se encontram em situação de vulnerabilidade.

O novo escritório brasileiro irá se apoiar no trabalho já iniciado no Brasil pela Save the Children há mais de 20 anos, dando continuidade às suas colaborações com organizações nacionais para aprimorar o conhecimento local e implementar soluções para as crianças no país. O trabalho da Save the Children prioriza questões críticas como migração, educação, crise climática, segurança alimentar, desigualdade racial e de gênero e proteção.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO RIO, o italiano Alessandro Tuzza, diretor da Save the Children no Brasil, destaca a situação crítica do país: “Quase 70 milhões de brasileiros de 18 anos ou mais não concluíram a educação básica estão fora da escola. Hoje também, cerca de 5 milhões de crianças brasileiras não frequentam a escola. O Brasil, infelizmente, está entre os lugares mais violentos para crianças. O governo brasileiro divulgou na última quinta-feira (22/02) o Censo da Educação Básica, e mostrou que o ensino médio se manteve com os piores índices de repetência e de abandono dos estudos. Milhões de crianças estão expostas à pobreza e violência, e vivem em áreas vulneráveis a riscos climáticos e ambientais. Ao colaborar com parceiros, governos e comunidades locais, buscamos realizar uma transferência de poder àqueles com conhecimento local e experiência prática nas comunidades. Juntos, podemos construir um ambiente mais eficaz para essas crianças, nos assegurando de que elas poderão prosperar e alcançar todo o seu potencial”.

As crianças no Brasil estão crescendo em meio a altos níveis de pobreza e violência, limitando seu acesso a serviços cruciais como saúde, educação e proteção, com o país classificado como o sexto mais violento do mundo, de acordo com dados recentes da ACLED.

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Além desses desafios, a crise climática exerce forte impacto sobre as crianças brasileiras. Aproximadamente três em cada quatro crianças do país – que somam o impressionante número de 40 milhões de jovens – estão classificadas como vulneráveis à degradação ambiental e às mudanças climáticas.

Save the Children trabalha com parceiros locais no país desde o início dos anos 90 para ajudar a promover e defender os direitos das crianças. Ao reforçar e incrementar a sua presença local no Brasil, a Save the Children busca fornecer ainda mais apoio e auxílio aos seus parceiros brasileiros enquanto constroem novas alianças para enfrentar os persistentes desafios encarados diariamente pelas crianças no país.

Ao passo que o Brasil se prepara para sediar tanto a Cúpula do G20 em 2024 quanto a COP30 no ano que vem, a Save the Children está reivindicando a atenção dos líderes mundiais para assegurar que as crianças tenham cada vez mais voz nas decisões que afetam o seu dia-a-dia.

Nesta quarta-feira (28/02), em evento fechado para convidados e imprensa, será realizado no Rio de Janeiro uma solenidade de inauguração da Save the Children no Brasil, com autoridades do governo federal e representantes da organização para assinarem um compromisso simbólico que marca o lançamento do primeiro escritório no Brasil. A ação inicial destaca a parceria com a Rede Não Bata, Eduque, do Rio de Janeiro, e o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca Ceará), organizações já apoiadas pela STC no país há mais de 20 anos.

No Brasil, no que tange à crise climática, por exemplo, é essencial garantir uma proteção social em vista dos fortes impactos à saúde da população, sobretudo das crianças. Aproximadamente três em cada quatro crianças do país – que tem 40 milhões de jovens – estão classificadas como mais propensas/expostas à degradação ambiental e às mudanças climáticas, a partir de dados recentes da ACLED – Armed Conflict Location and Event Data Project.

A sessão de lançamento reúne o Diretor Nacional da Save the Children Brasil, Alessandro Tuzza, e autoridades do governo federal, Roberta Eugênio (Secretária Executiva do Ministério da Igualdade Racial e Cláudio Augusto Vieira da Silva (Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente). A programação conta com o anúncio do novo escritório no Brasil, reforçando a importância de ampliar a presença da organização em uma abordagem liderada localmente pelos espaços já apoiados, além de um diálogo sobre direito das crianças no Brasil com os representantes e governo com a assinatura de um compromisso simbólico.

Entrevista Alessandro Tuzza – Diretor da Save the Children no Brasil

1 – Quais serão os primeiros passos da Save the Children no Brasil a partir da liderança da Rede Não Bata, Eduque e do Cedeca Ceará?  Pode nos dar alguns exemplos?

Uma informação crucial a ser mencionada é a valorização da parceria de longa data da Save the Children com os Cedecas (Ceará, Rio), a RNBE e a Ancedi. Durante os últimos meses, trabalhamos em estreita colaboração com eles para identificar prioridades e desenvolver uma estratégia conjunta para atender às necessidades das crianças mais vulneráveis no país. Nosso objetivo é garantir que as ações da Save the Children sejam lideradas localmente com um novo modelo transformador. Algumas das ações práticas identificadas são:

Fortalecer e expandir as parcerias com organizações locais; desenvolver e manter relações sólidas com as autoridades governamentais em todos os níveis (federal, estadual e municipal) para garantir uma colaboração eficaz na implementação de políticas e programas que beneficiem as crianças; realizar campanhas educativas e de sensibilização para aumentar a conscientização sobre questões relacionadas aos direitos das crianças, mudanças climáticas, proteção da infância, igualdade racial; incidir politicamente para assegurar a participação das crianças no desenho de políticas e programas públicos. Também trabalharemos para promover a participação infantil, de modo que as próprias crianças brasileiras sejam agentes de mudança e participem ativamente das questões que as afetam.

2 – Em relação às regiões mais afetadas pela crise climática no país, como em regiões de favelas que convivem com uma série de problemas (ilhas de calor, poluições, etc.) e que afetam a saúde das crianças, de que maneiras a Save the Children Brasil vai buscar o enfrentamento a esses desafios diários?

De acordo com levantamento feito pelo Greenpeace em outubro de 2023, 62% dos brasileiros reconhecem que os pobres são os que mais sofrem com as consequências de eventos climáticos extremos. De acordo com o IBGE, 40% dos municípios brasileiros passaram por eventos extremos desse tipo nos últimos quatro anos. E segundo o Porto de Manaus, o sétimo maior rio do mundo, Rio Negro, na região amazônica, passa por uma seca histórica. A mudança climática não é uma ameaça apenas para o futuro. Para os 2,4 bilhões de crianças do mundo, é uma emergência global hoje.

Por isso a Save the Children lançou uma campanha global “Geração Esperança”, pedindo às crianças de todo o mundo suas opiniões sobre desigualdade e mudança climática ao longo de 2022. Gostaríamos que também no Brasil as crianças fizessem parte dessa decisão. A Save the Children tem um papel único em amplificar as vozes das crianças e incentivar a liderança no movimento climático. Nosso objetivo no Brasil é  apoiar as crianças – especialmente as mais marginalizadas, que são desproporcionalmente afetadas pela mudança climática – a serem parte da solução e influenciarem decisões de líderes locais.

3 – Na sua experiência e relação com as duas organizações brasileiras já apoiadas pela Save the Children, o que você avalia e ainda sente falta em relação a políticas públicas, planos nacionais e ações referentes à evasão escolar e à exposição de crianças à violência?

De acordo com os números oficiais, mais de 66.000 pessoas no Brasil sofreram violência sexual (em 2023), sendo que 61,3% delas têm menos de 14 anos de idade. Sobre a evasão escolar: “O governo brasileiro divulgou nesta quinta-feira (22/02) o Censo da Educação Básica, e mostrou que o ensino médio se manteve com os piores índices de repetência e de abandono dos estudos. Quase 70 milhões de brasileiros de 18 anos ou mais estão fora da escola ou não concluíram a educação básica. Hoje também, cerca de 5 milhões de crianças brasileiras não frequentam a escola.”

A Save the Children reconhece as imensas dificuldades que enfrentamos, mas acredita firmemente em uma abordagem unida e colaborativa para enfrentá-las de forma eficaz. Isso significa reunir a sociedade civil, o governo, as ONGs e o setor privado para trabalharem de mãos dadas. No entanto, simplesmente abordar separadamente os desafios da educação e da violência não é suficiente. Devemos aprofundar nossa compreensão, entendendo as causas fundamentais que alimentam esses problemas. Isso inclui enfrentar problemas sistêmicos como desigualdade, exclusão racial, mobilidade humana, pobreza e degradação ambiental. Somente trabalhando juntos e abordando as questões centrais podemos verdadeiramente criar mudanças duradouras e significativas para todas as crianças.

4 – Como organizações da sociedade civil, localizadas principalmente em favelas do Rio de Janeiro, podem construir conexões com a Save the Children Brasil? Quais os caminhos possíveis?

Conforme mencionado anteriormente, uma das primeiras iniciativas em que a Save the Children está focada é estabelecer novas parcerias em diferentes setores temáticos e regiões geográficas do Brasil, adotando uma abordagem liderada localmente. Estamos atualmente desenvolvendo um canal de comunicação direto com nosso novo escritório brasileiro, que estará em funcionamento em breve. Enquanto isso, recomendamos que você visite nosso site regional para se manter informado sobre todos os programas da Save the Children na América Latina e no Caribe.

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Renata Granchi
Renata Granchi é jornalista e publicitária com mestrado em psicologia. Passou pela TV Manchete, TV Globo, Record TV, TV Escola e Jornal do Brasil. Escreveu dois livros didáticos e atualmente é diretora do Diário do Rio. Em paralelo, presta consultoria em comunicação e marketing para empresas do trade.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Alguém precisa avisar a esse italiano que o país dele é DIRETAMENTE responsável por esses níveis de pobreza, quando, por exemplo, uma empresa italiana de energia só visa o lucro aqui no Brasil, oferecendo uma estrutura porcaria de distribuição de energia, fazendo lobby e se beneficiando com a privataria criminosa do patrimônio e dos serviços públicos essenciais para que a população viva dignamente. Quando os interesses privados de mega empresários italianos (e outros bichos) não mais comandarem os rumos da humanidade, talvez consigamos proteger, não só as crianças, mas todo e qualquer cidadão. Até que isso aconteça, todo resto é falácia hipócrita desse monte de ONG financiada por capitalistas criminosos.

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