Por: Searon Cabral
Pedagogo, vencedor do Prêmio Paulo Freire de Educação, cria da Zona Oeste e Tricolor de Coração.
A decisão da gestão Eduardo Paes de dividir a Zona Oeste do Rio de Janeiro em três subprefeituras é um avanço administrativo que deve ser compreendido como uma tentativa de equilibrar eficiência e profundidade na gestão pública.
Essa reestruturação busca dar voz a uma região historicamente marcada pela desigualdade no acesso a serviços básicos e pela falta de políticas públicas condicionantes com sua extensão e diversidade.
A Zona Oeste é um importante território que, sozinho, abrange metade do município, com bairros que variam de áreas urbanas densamente povoadas a regiões rurais e ambientais protegidas.
As tentativas anteriores de gerenciar toda essa diversidade com uma única subprefeitura mostraram suas limitações: serviços lentos, prioridades desalinhadas e uma sensação de abandono entre os moradores.
A criação das três novas unidades promete reorganizar essa dinâmica. Ao dividir a Zona Oeste em três subprefeituras, a administração pública está sinalizando sua intenção de se aproximar das realidades específicas de cada conjunto de bairros. Não se trata apenas de dividir território, mas de considerar que bairros como Realengo e Santa Cruz têm desafios tão diferentes quanto a distância que os separam.
Enquanto a Subprefeitura da Zona Oeste I concentra bairros como Bangu e Padre Miguel, marcados pela alta densidade populacional e demandas urbanísticas urgentes, a Zona Oeste II, que abrange Campo Grande e Cosmos, tem desafios ligados ao transporte e à infraestrutura viária. Já a Zona Oeste III, com Guaratiba e Sepetiba, é uma região que equilibra questões urbanas e ambientais, exigindo planejamento sustentável.
Essa divisão promete facilitar a resolução de problemas, com equipes menores e mais focadas nas áreas específicas. É uma resposta ao clamor das comunidades, que há anos reclamam da dificuldade em serem ouvidas por uma administração centralizada e sobrecarregada.
O maior ganho dessa reorganização é a melhoria dos serviços básicos. Com a criação de subprefeituras menores, espera-se uma resposta mais rápida às demandas de saneamento, iluminação pública, transporte e infraestrutura. Problemas que antes demoravam meses para serem solucionados agora podem ser resolvidos de forma mais ágil.
Além disso, a descentralização administrativa abre caminho para uma maior participação popular. Uma gestão mais próxima facilita o diálogo com lideranças comunitárias e movimentos sociais, permitindo que as decisões sejam tomadas com base nas reais necessidades dos moradores.
Outro ponto relevante é a possibilidade de valorizar as identidades locais. Bairros como Sepetiba e Pedra de Guaratiba, muitas vezes esquecidos em grandes planejamentos urbanos, agora têm a chance de serem vistos como prioridades. Isso também inclui a preservação de áreas ambientais e culturais, reforçando o potencial turístico e econômico dessas regiões. Assim como, por exemplo, Santa Cruz que se destaca com sua rica zona histórica, sendo um bairro imperial.
Compreender a reorganização da Zona Oeste do Rio de Janeiro em três subprefeituras também requer uma reflexão sobre o pertencimento territorial. Cada território carrega uma identidade única, moldada por sua história, cultura e pela vivência de sua população. Nesse sentido, a descentralização administrativa não é apenas uma questão técnica, mas um reconhecimento da importância de valorizar e respeitar essas particularidades
Apesar dos benefícios aparentes, a divisão da Zona Oeste não é uma solução mágica. A Prefeitura precisa garantir que cada subprefeitura seja dotada de recursos financeiros, materiais e humanos suficientes para atender às demandas locais. Sem isso, corre-se o risco de criar novas estruturas burocráticas sem efetividade.
Outro ponto crucial é a fiscalização e a transparência. A descentralização só será eficiente se houver mecanismos claros para monitorar as ações de cada subprefeitura e se a população tiver canais abertos para denunciar irregularidades ou cobrar resultados.
A divisão da Zona Oeste em três subprefeituras é uma medida que, embora tardiamente, carrega o potencial de transformar a relação entre a administração pública e os moradores dessa região. É uma aposta no descentralismo como ferramenta de eficiência e inclusão, promovendo uma gestão mais próxima, ágil e sensível às demandas locais. No entanto, o sucesso desta iniciativa dependerá da vontade política e da capacidade técnica para operacionalizá-la de forma consistente. Recursos adequados, planejamento estratégico e diálogo com as comunidades serão fundamentais para que essa reorganização administrativa não se limite a um gesto simbólico, mas resulte em melhorias concretas na qualidade de vida dos moradores.
Se bem executada, essa medida pode se tornar um exemplo de como a descentralização pode transformar positivamente a administração pública, trazendo benefícios reais para as populações que mais precisam. Afinal, mais do que estruturas, a gestão pública deve ser sobre pessoas — e sobre como servir a elas de maneira eficiente, justa e participativa.
Os subprefeitos terão poder e liberdade de ação? Como é hoje é apenas um distintivo.