Secretaria de Conservação: a arte de enxugar gelo

Responsável pela pasta na cidade do Rio, Anna Laura Secco conversou com o DIÁRIO DO RIO e falou sobre os desafios que enfrenta no cargo

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Entrevista cedida pela Secretaria Municipal de Conservação, Anna Laura | Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

Um trabalho difícil, cansativo, um verdadeiro ciclo, como se diariamente estivesse enxugando gelo. Essa é a rotina da secretaria municipal de Conservação. Responsável pela pasta, Anna Laura Secco encara de frente as dificuldades do cargo, mas sempre com um sorriso no rosto, com o orgulho de poder ajudar a cidade e com o objetivo de fazer um Rio de Janeiro melhor.

O DIÁRIO DO RIO conversou com a secretária, que, nesse período de trabalho, afirmou que viu muitos problemas e muita coisa boa acontecendo.

A gente pegou a cidade muito destruída, mas eu não gosto de falar do passado, porque o passado já foi. No ano passado, nós começamos com uma verba que foi a pior da história da Conservação, mas em nenhum momento desanimamos… arregaçamos as mangas e fomos para rua trabalhar. Começamos lentamente com o que tínhamos de recursos, mas sempre correndo atrás para fazer a cidade voltar a dar certo. […] Na primeira oportunidade, em julho, o prefeito Eduardo Paes já deu uma melhorada na verba, e em dezembro foi uma grande melhora. Com isso a gente já consegue fazer todas as coisas que precisam ser feitas. Temos trabalhado muito, mas temos a certeza que temos muito trabalho pela frente ainda”, disse, antes de complementar afirmando que sente que a pasta está no caminho certo.

Para Anna, inclusive, apesar de ainda haver muito a ser feito, não faltam motivos para se orgulhar: “é um orgulho desde o primeiro chafariz que foi religado, que foi o do Largo do Machado, e o orgulho do dia a dia de ver as coisas acontecendo. O orgulho de quando as pessoas vêm agradecer por algum serviço que você fez, de quando se sai na rua e vê as equipes da Conservação trabalhando e vê a mudança”.

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Entrevista cedida pela Secretaria Municipal de Conservação, Anna Laura | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Mesmo assim, dentre tudo isso, ela destaca um trabalho em especial: “teve a volta de Noel Rosa… Nós nem tínhamos tomado posse ainda, estava na transição, e o prefeito pediu ‘eu quero Noel Rosa de volta’. Foi um monumento vandalizado que, quando nós assumimos, Noel Rosa era um pedaço só. Tivemos o cuidado de guardar, ele ficou durante uns meses guardado no QG da Guarda Municipal para não correr riscos. Contactamos o artista que fez e devolvemos o Noel em 11 de dezembro, quando ele faria aniversário”.

A maior dificuldade da pasta é a repetição dos problemas: após o conserto, o patrimônio público volta a ser vandalizado e assim se torna um ciclo e a secretaria fica enxugando gelo.

A gente pede muito que a população nos ajude, seja denunciando, ajudando a cuidar… Temos casos emblemáticos, como o chafariz da Praça Saens Penha que foi um desejo da cidade, do tijucano, ele estava praticamente pronto e na semana que seria inaugurado, vandalizaram a casa de máquinas e alagou tudo, foi uma semana de atraso. E no dia seguinte à inauguração, vandalizaram de novo. Rapidamente, 2 ou 3 dias depois, ele já estava lindo de morrer e funcionando novamente”, relembrou Anna Laura.

Anna Laura explicou que, às vezes, até as coisas simples, como as feirinhas que acontecem pela cidade, atrapalham na conservação: “Por exemplo, feiras livres… elas são um grande problema para as pedras portuguesas. Então, existem locais onde se coloca uma barraquinha sem cuidado, sai uma pedra portuguesa e vira um efeito dominó. A gente está fazendo um trabalho muito grande em cima da reposição das pedras. Hoje, por exemplo, a gente tem mais de 60 pessoas nas ruas, principalmente no Centro, para fazer o trabalho, porque como nós já falamos, tem muito trabalho”.

Desde janeiro de 2021, mais de 16 mil metros quadrados de calçadas e outros pavimentos foram recuperados. “Por onde você anda no Centro, você vê pessoas da Conservação trabalhando. Ruas inteiras estão sendo trocadas. A Gonçalves Dias e a Miguel Couto, onde o paralelepípedo estava muito velho, desgastado e torto, ele está sendo todo retirado e colocado novamente bem reto. Então, se você passar pelo Centro hoje, tem muitas obras acontecendo”, contou.

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Entrevista cedida pela Secretaria Municipal de Conservação, Anna Laura | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Outra região que tem passado por obras de revitalização é a Lapa: “nos Arcos da Lapa, a obra começou em fevereiro, mas vai ser entregue agora em junho. Então, além dos Arcos lindos, maravilhosos, que é um trabalho muito minucioso, porque primeiro ele tem que ser raspado, para depois ser trabalhado e não pode colocar tinta, ele é todo feito em cal virgem. Então é um trabalho muito minucioso. Tem trechos que não podem ser com andaime, então são alpinistas que fazem e também o entorno dos Arcos da Lapa estava muito ruim. Ele está sendo todo trabalhado, com pedras portuguesas, as placas de granito da praça… Haverá uma grande entrega, além dos arcos, em todo o entorno”.

Rotina

Essa é uma palavra que Anna Laura não conhece em seu trabalho: tudo pode estar calmo e o telefone tocar com alguma urgência.

“A gente aqui não tem muita rotina, porque as coisas só acontecem. Por exemplo, em dias de chuva, a gente tem um trabalho cuidadoso e intenso, se for na madrugada, para que a cidade acorde bem, que não leve muitos transtornos. Se a chuva for durante o dia, sempre fazer com que a água escoe rapidamente para não pegar hora do rush e virar um caos. Mas as coisas surgem, o telefone toca e a gente corre pra resolver. É 24 horas por dia no ar, telefone o tempo todo na mão, porque as coisas podem surgir. A gente está aqui conversando e pode tocar o telefone com uma emergência”, explicou.

Conservação histórica

Por conta do Bicentenário da Independência do Brasil, esse ano vários pontos históricos da cidade estão passando por uma revitalização. Está sendo a maior concentração da conservação histórica já feita.

A Quinta da Boa Vista faz parte disso, assim como seus monumentos e seu entorno, as vias de acesso… a gente tem a data limite de 6 de setembro para entregar isso tudo pronto. Saindo da Quinta, a gente vai pra Praça XV, com os monumentos todos da Praça XV, monumento de Dom Pedro na Praça Tiradentes, a praça em si também está sendo cuidada, o monumento de José Bonifácio no Largo de São Francisco também. E saindo desse eixo Centro, vamos para Santa Cruz, com a histórica Ponte dos Jesuítas, que estava abandonada e é um lugar belíssimo, e seu entorno para poder chegar lá”, contou.

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Entrevista cedida pela Secretaria Municipal de Conservação, Anna Laura | Foto: Rafa Pereira – Diário do Rio

Orgulho carioca

Perguntada sobre o maior problema na cidade, Anna Laura não hesitou: “é a gente fazer a cidade voltar a dar certo com ruas sem buracos, com as calçadas lisas, os monumentos em ordem, chafarizes funcionando, as pessoas felizes, o carioca voltando a ter sua autoestima de morar na cidade maravilhosa… e o nosso desafio é ficar 24 horas ligado para fazer tudo isso acontecer”.

Ela concluiu reforçando o objetivo da gestão: trazer de volta o orgulho do carioca. Segundo ela, a cidade já está no caminho para isso, e seguirá ainda mais, visando ser uma cidade cada dia mais maravilhosa.

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3 COMENTÁRIOS

  1. De que município a secretária está falando,precisa esclarecer, não sabia que o Rio tinha sido dividido e emancipado:. Rio zona Sul e Resto do Rio??? Quem é o prefeito do novo novo munuci???

  2. Tá aí uma secretaria que merece mais cuidado e atenção, mais gente colocando a mão na massa em grandes ações. Todos ganham com a cidade bem cuidada.

  3. Deveriam mudar o nome da SECONSERVA para RIOPALACE. Só foram citados nas frentes de conservação os bairros com melhor “ambiencia” da nossa cidade, o lado “A”. Será que o lado “B” com os bairros e logradouros menos famosos e cobiçados, a vala comum onde mora a turma da marmita não fazem por merecer uma “moral”, um aperto aqui e ali naquele tudo que funciona tão mal? Esse povo também merece o belo e o durável.

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