Sepulturas no Rio de Janeiro podem custar até R$ 1,2 milhão

Como no mercado imobiliário, os valores das sepulturas variam conforme o bairro e a localização dentro do cemitério

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Cemitério São João Batista | Foto: Marcos Tristão

Comprar um jazigo perpétuo no Rio de Janeiro pode custar mais caro do que um apartamento em alguns dos bairros mais valorizados da cidade. Um exemplo é um jazigo no Cemitério São João Batista, em Botafogo, oferecido em leilão por R$ 1,2 milhão. Com 38,64 metros quadrados, o terreno se destaca pela raridade e pelo espaço, permitindo a construção de um mausoléu. O preço por metro quadrado, R$ 31 mil, supera o valor médio de venda de imóveis no Leblon, de acordo com dados do Sindicato da Habitação (Secovi Rio).

Assim como no mercado imobiliário, os valores das sepulturas variam conforme o bairro e a localização dentro do cemitério. No Crematório e Cemitério da Penitência, no Caju, por exemplo, um novo mausoléu vertical externo de 21 metros quadrados está sendo vendido por R$ 980 mil, o que representa R$ 46,6 mil por metro quadrado — mais caro que um apartamento de 42 metros quadrados no Leblon, avaliado em R$ 970 mil.

“Construir um mausoléu requer um tipo específico de terreno com área mínima. Aproveitamos a expansão da Zona Portuária para criar espaços voltados para esse modelo de sepultamento, seguindo um perfil sustentável” explicou Karla Monielly Belchior, CEO do Cemitério da Penitência.

Showroom de mausoléus

No Cemitério da Penitência, há ainda um projeto para construir dez mausoléus em terrenos de 16 metros quadrados, descritos como “showroom de mausoléus”. O modelo pronto, revestido em porcelanato com base de mármore e equipado com oito gavetas, está sendo vendido por R$ 880 mil, ou os interessados podem adquirir unidades verticais por valores entre R$ 700 mil e R$ 780 mil.

A valorização da região também reflete nos preços. O Penitência registrou um aumento de 12% nos últimos dois anos. Alguns proprietários de sepulturas, como o professor de biologia Gerson Ferraro, que adquiriu duas unidades por R$ 16 mil cada há cinco anos, estão aproveitando o momento para lucrar. Gerson colocou uma das sepulturas à venda por R$ 100 mil.

Crescimento da cremação e dificuldades no mercado

Embora o mercado de sepulturas esteja aquecido, a opção pela cremação tem crescido, dificultando algumas vendas. Segundo Paulo Botelho Leiloeiro, um jazigo de R$ 1,2 milhão no São João Batista não encontrou comprador, e outro leilão de um jazigo avaliado em R$ 520 mil também não teve sucesso.

A Congregação das Irmãs Franciscanas enfrenta situação semelhante, tentando vender um mausoléu de 7,28 metros quadrados por R$ 450 mil no mesmo cemitério. De acordo com a representante Janete Biondo, a adesão à cremação tem dificultado a venda.

O engenheiro aposentado Ivan Soraggi, de 76 anos, que está vendendo um jazigo de sua família por R$ 220 mil, também aponta o valor elevado das taxas de manutenção como um obstáculo, mencionando que paga cerca de R$ 800 por ano para manter o espaço.

Taxas e custos de manutenção

As taxas de manutenção para sepulturas em cemitérios públicos variam entre R$ 340,12 e R$ 850,42, dependendo da localização. Já nos cemitérios privados, os valores são definidos pelas próprias administrações. No Cemitério da Penitência, as tarifas variam de R$ 409,26 a R$ 676,59.

Além disso, quem compra uma sepultura precisa arcar com a taxa de transferência de titularidade, que varia de 5% a 10% do valor de venda, dependendo do cemitério.

Rio de Janeiro fora da média nacional

De acordo com Cláudio Bentes, presidente do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), os preços de sepulturas no Rio de Janeiro são muito mais elevados que a média nacional, onde o metro quadrado de uma sepultura custa cerca de R$ 5 mil. No Rio, o valor pode variar entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, dependendo da localização.

“A falta de espaço e a valorização de alguns locais criaram um nicho no Rio de Janeiro. No entanto, quem tem condições financeiras para pagar R$ 1 milhão por uma sepultura são poucas famílias, enquanto 99% da população não tem essa possibilidade”, avaliou Bentes. Ele também mencionou que a reforma tributária pode impactar os custos funerários, aumentando os impostos de 8,65% para 26,5%.

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