Sérgio Ricardo: Rio Guandu precisa de políticas públicas urgentes

para o ambientalista, fundador do Movimento Baía Viva, só assim vamos superar a vulnerabilidade que pode levar à um Colapso Hídrico no populoso Grande Rio

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Rio Guandu - Foto: Filipo Tardim/Wikipedia

Para reduzir significativamente os riscos de interrupção periódica do fornecimento de água à população como vem ocorrendo a cada chuva forte – cenário que tende a se intensificar com o agravamento das mudanças climáticas -, é necessário avançar no saneamento básico dos municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, com prioridade para a coleta e tratamento dos esgotos transportados pelos rios poluídos (dos Poços, Queimados e Ipiranga) que deságuam diretamente na Lagoa de Captação da ETA Guandu, em Nova Iguaçu.

Outra medida importante para salvaguardar a qualidade das águas do rio Guandu que tem sido impactado por diversas fontes de poluição, é avançar na melhoria do serviço de coleta de lixo nos municípios da região, já que nenhum deles, até o momento, implantaram os seus obrigatórios programas municipais de Coleta Seletiva.

Nos anos 1990, o Baía Viva atuou em parceria com técnicos da CEDAE que gerenciavam a ETA Guandu para erradicar e encerrar de vez o funcionamento do poluente Lixão de Seropédica que concentrava milhares de toneladas de lixo nas margens do Guandu provocando alta poluição por chorume, lixo hospitalar, queima de lixo etc.

Há experiências internacionais e no Brasil exitosas de envolvimento da participação de pequenos agricultores, sitiantes e fazendas em programas de gestão do uso do solo em áreas rurais que ajudaram a reduzir bastante o uso de agrotóxicos e outros pesticidas na agricultura, além da adoção de ações para melhoria do manejo do gado, porcos etc, para evitar que as fezes do animais chegassem aos corpos hídricos através dos córregos que cortam as propriedades rurais presentes nas bacias hidrográficas.

A equivocada localização, desde 1976, do Distrito Industrial de Queimados numa área à montante da Lagoa de Captação da ETA Guandu, requer um debate público sobre a sua relocalização para um outro local adequado e que venha a garantir a segurança hídrica deste manancial. Enquanto isso não ocorre, de imediato é necessário adotar uma rigorosa fiscalização das empresas instaladas neste polo industrial, já que vez por outra há despejo ilegal de tintas coloridas e de outras substâncias tóxicas nos canais que deságuam na Lagoa de Captação de água da CEDAE. Um rigoroso monitoramento ambiental com apoio de universidades públicas também é uma medida fundamental para evitar e prevenir riscos de novos desejos clandestinos de contaminantes industriais nas águas do Rio Guandu que abastecem diariamente 9,5 milhões de pessoas.

O Grande Rio vivencia um quadro de vulnerabilidade hídrica que precisa ser revertido com mais investimentos na melhoria das instalações e na modernização dos equipamentos da ETA Guandu, assim como em políticas públicas de universalização do saneamento básico, melhoria da gestão do lixo urbano, mais rigor na fiscalização industrial e apoio técnico para que ocorra uma transição agroecológica na agricultura desta bacia hidrográfica para que seja abandonado de vez o uso de agrotóxicos e outros pesticidas nocivos à saúde humana e ao meio ambiente.

Água limpa é saúde coletiva. Prevenir é muito barato do que tentar remediar depois que ocorrem as sucessivas crises hídricas.

Sérgio Ricardo Potiguara é coordenador do Movimento Baía Viva e Mestre em Ciências Ambientais pelo Programa de pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGPDS/IF/UFRRJ).

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