Enquanto diversos setores da sociedade enfrentam uma crise sem precedentes, gerada pela pandemia do Coronavírus, o mercado de leilões vai muito bem, obrigado! No mês de maio, o recorde de venda no segmento atingiu o maior valor registrado em terras cariocas. O objeto de desejo dos compradores? Um par de vasos chineses que foi comercializado por incríveis R$ 6,3 milhões. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo.
A história que cerca a venda dos itens chama atenção. Os vasos se tratavam de um antigo presente que um morador de um imóvel de luxo, na Avenida Ruy Barbosa, no Flamengo, na Zona Sul do Rio, ganhou dos sogros, durante uma viagem a Paris, na década de 70.
Quando o proprietário do imóvel, um advogado nonagenário, decidiu colocar mobília e decoração à venda em um leilão, disse à responsável pela operação que os dois mimos, ficariam de fora para virar recordação nas mãos de uma antiga empregada da família.
Atenta ao valor da obra, a leiloeira Andrea Diniz convenceu o cliente, que mesmo relutante, mudou o presente que daria a sua funcionária. O resultado surpreendeu até mesmo a profissional. Anunciadas com proposta mínima de R$ 500, as peças acabaram negociadas, depois de terem recebido 1.876 lances, pela quantia milionária.
“Foi anunciar e começou um frenesi, ligação de tudo que é lugar. Decidi abrir para propostas do exterior, algo que evitamos fazer por segurança. Ocorre que eram peças sem igual no mundo, feitas exclusivamente para um imperador chinês no século XVII, na Dinastia Ming“, conta Andrea, de 62 anos, ao jornal O Globo, que vai despachar em breve, para uma compradora de Hong Kong, as obras de arte em porcelana mais caras já vendidas em um leilão no Brasil.
Entre os itens leiloados nos últimos meses no Rio de Janeiro, estão obras de arte, brindes de campanhas publicitárias e até bebidas apreendidas na operação Lava-Jato.
Veja alguns dos objetos leiloados:
O aquecimento do mercado de leilões mostra como a atividade vem se virando bem na pandemia do Coronavírus. Somente entre a última sexta-feira e o dia 5 de agosto, serão concluídos 60 pregões virtuais na Capital Fluminense por intermédio de uma única plataforma, a LeilõesBR, utilizada por Andrea. A estimativa de valor a ser arrecado é algo próximo do incomensurável.
Aposta no online
Com a crise sanitária da Covid, muitos negócios, antes feitos presencialmente, tiveram que migrar para as plataformas digitais, ou mesmo adotar o modelo híbrido. Isso, de certa forma, ajudou a impulsionar a prática.
“Foi um empurrão rumo à modernização. Até 2020, ainda havia muitos leilões híbridos. Agora, casas que vinham acabando com os salões migraram de vez“, diz ao jornal O Globo o engenheiro da computação Rogério Bastos, de 57 anos, diretor e fundador da LeilõesBR, que começou a operar a partir da adaptação e expansão de um sistema de lances criado por ele para galerias de arte em 1991.
‘Profissão leiloeiro’
Com sede na Barra da Tijuca, a empresa tem 150 mil compradores cadastrados, número que duplicou durante o isolamento. Segundo ele, aproximadamente um terço dos usuários reside no Rio. O estado responde ainda por 58 dos 200 leiloeiros que atuam na ferramenta, que funciona como uma espécie de agregadora de pregões.
Segundo a legislação, a remuneração do leiloeiro equivale a 5% do valor arrecadado. Esse percentual, porém, pode variar no caso dos leilões judiciais, quando a própria Justiça nomeia um profissional responsável e pode estipular valores diferentes. Embora nãos seja necessário uma formação para exercer a função, a profissão é uma daquelas “em extinção“. Dados da Junta Comercial do Rio, onde o cadastro para exercer a atividade é obrigatório, mostram que há 151 pessoas no estado com registro ativo, 29 delas inscritas do início de 2020 para cá, o que demonstra um discreto interesse no último ano.
A empresa Brame Leilões, especializada na área judicial, foi escolhida para vender garrafas de vinho apreendidas com um réu da Operação Lava-Jato que optou pela delação premiada. Um lote com quatro unidades chegou a sair por R$ 8 mil.
“Não sabemos se a pessoa pagou esse valor pela qualidade, porque vai beber, ou se vai manter na adega para mostrar para os amigos as garrafas da Lava-Jato. Leilão tem muito disso“, afirma ao Globo, Leandro Dias Brame, de 42 anos, que seguiu os passos do pai, morto em 1999, e hoje toca o escritório ao lado da mãe, em uma tradicional família de leiloeiros.
Para que um leilão tradicional aconteça, é obrigatório que um leiloeiro se responsabilize por ele. Nem todo mundo que vive de planejar os pregões, porém, é um profissional registrado. Também há no mercado a figura do organizador, em geral especializado em nichos específicos, tal qual muitos dos próprios leiloeiros.