Sinos voltarão a tocar em igrejas históricas do Centro durante o mês de dezembro

Projeto "Alerta da Paz" vai colocar os sinos de Igrejas barrocas para tocar durante todo o mês, em diversos horários. Pelo menos 5 igrejas vão participar da 'orquestra' que vai anunciar o Natal durante o último mês do ano, reavivando as memórias do passado glorioso da região central do Rio e abrindo as portas para a revitalização da região

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Igreja histórica no Centro do Rio de Janeiro - Foto Daniel Martins

No coração pulsante do Centro Histórico do Rio de Janeiro, onde as veias da história e modernidade se entrelaçam, os sinos das igrejas históricas estão prestes a reencontrar suas vozes. Esses antigos guardiões do tempo, silenciados pelo ruído incessante da urbanização, prometem ressoar novamente, evocando ecos de uma tradição católica portuguesa e brasileira que se entrelaça com a própria fundação da cidade. A prática de tocar os sinos, trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses, serviu não apenas como chamado para momentos de oração e celebração religiosa, mas também como um narrador sutil da vida comunitária. Cada dobrar, cada badalada, era um fio na tapeçaria do cotidiano colonial e imperial, anunciando nascimentos e mortes, festividades e calamidades, e até mesmo o simples passar das horas.

No Rio de Janeiro, cidade que já foi capital do Império e palco de incontáveis capítulos da história brasileira, os sinos dos icônicos templos setecentistas como a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, eram os pulsos regulares que marcavam o ritmo da vida. Suas vozes, em harmonia com os sons dos bondes, dos pregões e das ondas da Baía de Guanabara, compunham a sinfonia do cotidiano carioca.

Contudo, com o avançar dos séculos e a escalada da modernidade, os sinos foram sendo silenciados, substituídos pelos caixas de som, o roncar dos motores e as buzinas dos automóveis. O som que uma vez uniu a cidade em momentos de alegria, luto e devoção tornou-se uma memória distante, um eco quase esquecido.

Agora, em uma iniciativa que busca reconectar os cariocas com seu riquíssimo passado, os sinos das igrejas no centro histórico do Rio estão prestes a retomar seu canto. No início do ano, foi a histórica Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores na rua do Ouvidor, que fez um grande investimento na reativação e automatização de sua torre sineira, que voltou a badalar as horas no primeiro semestre; até mesmo o relógio de sua fachada voltou a mostrar as horas, depois de 101 anos parado. Este importante movimento, embalado por um desejo de preservar e reviver a herança cultural da cidade, promete reabrir um diálogo entre as gerações, unindo o moderno ao tradicional, o secular ao sagrado. Foi este o intuito da idéia proposta pela Associação Comercial do Rio de Janeiro à Arquidiocese carioca: como comemoração ao mês do Natal, que terá uma programação na região patrocinada pela entidade e outras empresas, os sinos de diversas devem voltar a tocar.

Com base no pedido feito ao Cardeal Dom Orani Tempesta pelo presidente da Associação Comercial, Josier Vilar, o Vigário Episcopal Monsenhor André Sampaio de Oliveira solicitou a 8 igrejas históricas da região central que voltassem a badalar seus sinos, conjuntamente, às 10 da manhã, ao meio-dia e 3 da tarde, encerrando com o tradicional toque da “Ave Maria”, às 6. Os representantes das paróquias e irmandades da região então foram convocados a participar de uma reunião com o presidente do Conselho Cultural da ACRJ, Sergio Costa e Silva, para alinhar os ponteiros em conjunto com representantes da comissão de patrimônio da Arquidiocese.

A reunião ocorreu hoje, e ficou acertado que as Igrejas São Francisco de Paula, Lapa dos Mercadores, Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé (antiga Catedral e Capela Imperial) e São José vão participar do projeto, que recebeu o nome de “Alerta da Paz”. Seus sinos vão dobrar como nos séculos passados, na companhia dos sinos do Mosteiro de São Bento. A Irmandade de Santa Luzia, dona da Igreja do mesmo nome, ficou de avaliar a possibilidade de participar, assim como a Santa Cruz dos Militares, na Primeiro de Março, ambas também presentes na reunião.. Até o momento do fechamento desta matéria, as irmandades da Candelária e Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, embora convidadas, não deram apoio ao projeto e sequer compareceram à reunião.

A Irmandade da Boa Morte é comandada pelo mesmo clã familiar há décadas, e sofre com o abandono de sua igreja, mesmo em meio à riqueza de seu patrimônio imobiliário, que, segundo matéria publicada no Jornal O Globo em 18/12/2020, vem sendo pouco a pouco transferido para integrantes da família Rachid, que abandonou o templo à própria sorte. “Com certeza há muito trocaram o badalar dos sinos pelo tilintar das moedas”, disse um especialista em patrimônio histórico consultado pelo DIÁRIO. Com relação a irmandade da Candelária, não se sabe a razão de não ter aderido à idéia. Sabe-se que a Igreja dos Militares teve seus sinos recentemente restaurados por ocasião da comemoração dos 400 anos da irmandade.

A região da rua do Ouvidor deverá receber eventos e decoração de Natal, como parte do projeto da Associação Comercial para o Natal no Centro. A assessoria da Irmandade dos Mercadores informou que deverá realizar uma missa solene, com coral e grande orquestra, por ocasião da abertura do período festivo na região, que, segundo informações preliminares, deverá começar no dia 8 de dezembro e terminar no dia 6 de janeiro. Uma grande agitação, principalmente nos arredores da Praça XV, tem trazido muita boemia e cultura para o local, que sofreu tanto durante a pandemia. O projeto “Reviver Centro” trouxe grande esperança para os comerciantes e freqüentadores, o que tem aumentado o movimento desde o início do ano.

Neste novo despertar destes gigantes de bronze, a cidade do Rio de Janeiro convidará seus habitantes e visitantes a ouvirem não apenas o som, mas também as histórias e as tradições que eles representam, lembrando-nos de que, mesmo em meio à frenética vida urbana, há espaço para apreciar a beleza e a riqueza do nosso rico passado de capital de um país de grande futuro.

Atualização – 13/11 – 16h17min

Em nota enviada ao DIÁRIO DO RIO, a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária afirmou que não recebeu a citada
convocação, tampouco tomou conhecimento da existência do Projeto, até ter ciência pela reportagem do DIÁRIO DO RIO.

A Igreja ressalta que já manteve contato com o Vicariato Para as Associações de Fiéis Ditas Irmandades, Confrarias, Ordens Terceiras e Devoções, relatando os fatos, inclusive quanto a ausência do contato citado da matéria em comento, manifestando seu total interesse de participar do Projeto, colocando-se a inteira disposição do Vicariato e das instituições parceiras desta brilhante
iniciativa, para contribuir no que for necessário.

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