Entre as ruas que voltam a ganhar vida no Centro do Rio, que por coincidência vive sua melhor fase em oito anos, caminhar por esses espaços é como folhear páginas vivas de uma história que se entrelaça com a própria essência da cidade. Era assim que o grande cronista João do Rio afirmava em suas obras do início do século XX, convidando os leitores a “flanar” pelo Centro, ou seja, a “perambular com inteligência”. E flanando entre os prédios imponentes e o burburinho dos escritórios, ainda podemos descobrir verdadeiras joias do comércio carioca. Esses estabelecimentos não são meramente locais de negócio, mas autênticos marcos culturais e gastronômicos que resistem ao tempo.
Para muitos cariocas, esses lugares não são apenas restaurantes ou bares; são testemunhos vivos de memórias familiares e histórias pessoais. É comum ouvir frases como “Meu avô adorava tomar café aqui”, ou “O almoço preferido do meu pai era nesse restaurante”. Esses testemunhos ecoam pelas mesas de estabelecimentos que atravessaram décadas, mantendo a tradição e o charme que os tornaram ícones no cenário carioca.
Por isso, o DIÁRIO DO RIO embarcou em uma jornada para selecionar alguns dos bares e restaurantes mais tradicionais do Centro, lugares que não só merecem uma visita, mas que são paradas obrigatórias para quem trabalha ou visita o bairro.
Restaurante Rio Minho
A listagem começa pelo mais antigo em operação na cidade. A casa, que em outubro completa 140 anos, ocupa o mesmo sobradão histórico de três andares da Rua do Ouvidor, número 10. A construção sobreviveu ao golpe militar que derrubou a Monarquia Brasileira, à construção e desastrosa demolição do Mercado Municipal, e à construção e bem-vinda demolição do viaduto da perimetral, que fazia sombra à sua fachada. Com a pandemia, a casa ficou fechada, deixando uma legião de amantes das suas deliciosas iguarias desesperados. Com a volta das atividades na cidade, o Rio Minho reabriu, registrando casa lotada todos os dias em celebração à vida e à boa gastronomia.
Muitos são os destaques gastronômicos do Rio Minho. A famosa sopa Leão Veloso, batizada em homenagem ao ministro Pedro Leão Veloso, é apenas um dos pratos que compõem o riquíssimo menu da casa. O polvo é outra iguaria espetacular, com seus tentáculos suculentos e crocantes por fora. As casquinhas de siri e de cavaquinha são excelentes, sendo que esta última uma versão mais nobre e deliciosa da de siri, feita com pedaços da cavaquinha e um creme delicioso. O bolinho de bacalhau do Rio Minho, segundo a sua clientela, pode ser considerado o melhor do Brasil.
Endereço: Rua do Ouvidor, 10 – Centro.
Leiteria Mineira
Desde 1907, a Leiteria Mineira é um ícone do Centro do Rio. Fundada por mineiros da Fazenda Sossego, iniciou suas atividades na Galeria Cruzeiro, dentro do Hotel Avenida, na Avenida Rio Branco. Nos anos 50, mudou-se para a Rua São José, 82, expandindo suas operações com um salão de 30 mesas. No final dos anos 70, firmou endereço na Rua da Ajuda, 35, onde permanece até hoje, sob a gestão de comerciantes portugueses. A Leiteria Mineira não apenas vende laticínios, mas também é conhecida pelos seus cafés da manhã e almoços bem servidos. Um dos pratos mais famosos é o seu mingau: de aveia (o mais pedido), de Maisena e de Cremogema. O cardápio do estabelecimento possui mais de 150 pratos, incluindo executivos (os famosos PF), por valores bem atrativos, em torno dos R$ 35.
Endereço: Rua da Ajuda, 35 – Centro.
Casa Paladino
Fundado em 1906, o Centenário é mais do que um simples bar – é um legítimo guardião da tradição dos secos e molhados do século passado. Com seus móveis de madeira e cristaleiras elegantes, azulejos clássicos, o estabelecimento não é apenas um bar, mas também funciona como um armazém onde se pode encontrar uma variedade de produtos. A casa foi aberta como uma sofisticada delicatessen no século passado. É imperdível experimentar o sanduíche triplo, verdadeiro campeão de vendas. Com uma combinação simples e saborosa de provolone, ovo e presunto no pão francês. Outra opção deliciosa é o sanduíche com queijo defumado e copa. Para acompanhar essas delícias, nada melhor do que um chope Brahma bem tirado, garantindo uma experiência refrescante para sua visita ao Centenário.
Endereço: Rua Uruguaiana, 224 – /226 – Centro.
Casa Urich
Mais um centenário para a lista! Aberto desde 1913, o restaurante de culinária alemã oferece até hoje pratos que estão no cardápio desde a sua inauguração; tais como os icônicos kassler defumado com chucrute e salada de batata, e o apfelstrudel, sobremesa de maçã com creme chantilly caseiro. Recentemente, para comemorar os 111 anos, a casa devolveu ao menu outros pratos clássicos muito solicitados. Voltam ao cardápio a língua à moda da casa (língua ao molho madeira, com purê de batata e dois ovos fritos), o filet mignon à munich (recheado de queijo gorgonzola, acompanha talharim na manteiga de ervas finas) e do cozido alemão (eisbein cozido, salsichão vermelho e branco, feijão branco, repolho, cenouras e batatas cozidas).
Endereço: Rua São José, 50 – Centro.
Armazém Senado
Um dos mais tradicionais e boêmios, e que agora, tem ganhado espaço no roteiro de turistas e dos cariocas mais jovens. O bar, localizado na esquina das ruas do Senado e Gomes Freire, promove aos sábados, sua tradicional roda de samba, com os sucessos do passado. O estabelecimento é a cara do Rio. Abrigado em um imóvel centenário, o bar fundado em 1907 é rodeado de bebidas em suas prateleiras. Um enorme balcão coloca à vista as iguarias da casa, como as tradicionais empadinhas. Além disso, uma bandeira de Portugal estendida no meio do salão dá pistas de suas raízes de fundação.
O Armazém fica aberto diariamente, mas ao sábados é que o “bicho pega”. Pra pegar um lugar de respeito, é preciso chegar cedo. Fora disso, o jeito é curtir o samba em pé mesmo. Até o prefeito Eduardo Paes costuma bater ponto no endereço.
Endereço: Av. Gomes Freire, 256 – Centro.
Amarelinho da Cinelândia
O Bar Amarelinho foi fundado em 1921, na Cinelândia, que na época, por abrigar teatros, cinemas que recebiam a elite carioca, era considerada “Broadway Brasileira”. Entretanto, o nome, que caracteriza tão bem o lugar, nem sempre foi “Amarelinho”. O bar chegou a ser chamado de “Café Rivera”. De acordo com pesquisas do radialista e historiador Osmar Frazão, a mudança de nome se deu em decorrência da cor predominante das paredes externas do edifício. Em 2021, foi comprado pelos donos da célebre rede Boteco Belmonte, que deram uma injeção de ânimo ao lugar. A casa voltou com o mesmo visual, mas a paternidade do Belmonte fica evidente no padrão de atendimento, nos preços mais altos e no capricho em servir o chope (Brahma) na temperatura certa e com colarinho cremoso. O Amarelinho se destaca especialmente durante a happy hour ao longo da semana e nos animados almoços de sábado e domingo, com música ao vivo de samba e chorinho das 13h às 17h. O acesso ao Amarelinho é extremamente fácil, seja via metrô ou VLT.
Endereço: Praça Floriano, 55 – Centro.
Bar do Joia
Conhecido também como Botequim do Joia, o estabelecimento carrega mais de 100 anos de tradição e muita história para contar. Inaugurado como Café e Bar Rio Paiva, em 1909, o local passou a ser chamado pelo atual nome na década de 80, quando Seu Joia tomou a frente do bar do pai. Destaque para a feijoada servida às sextas por Dona Alaíde, viúva de Seu Joia. Ele fica ali na Rua Júlia Lopes de Almeida (antiga Travessa Oliveira), na esquina com a Rua da Conceição. O estabelecimento é tombado desde 2011 pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
Endereço: R. Júlia Lopes de Almeida, 26 – Centro.
O Bar do Ernesto na Lapa merece ser citado na próxima.
Bar Brasil – Av. Mem de Sá, 90 – Lapa
Desde 1907.
Faltou falar da Colombo. É uma pena que o Bar Luiz que foi inaugurado antes da Guerra do Paraguai tenha fechado.