Sobre a devoção a São José: o segredo na igreja do Rio de Janeiro

A devoção a São José, celebrada em 19 de março, carrega séculos de tradição e fé. No Brasil, a história do santo se entrelaça com a construção da Igreja de São José, no Rio de Janeiro, um marco arquitetônico e religioso.

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Nave principal e capela-mor da igreja de São José Acervo particular

Meu divino São José
Aqui estou em vossos pés
Nos dê chuva com abundância
Meu Jesus de Nazaré

No sertão nordestino, quando chove no dia de São José, é certeza de boas chuvas e farta colheita, daí as procissões, romarias e ladainhas em devoção ao Santo, padroeiro dos estados do Ceará e do Maranhão.

São José é celebrado na tradição católica no dia 19 de março, considerado o Padroeiro da Igreja Católica e guardião das famílias. Carpinteiro, José casou-se com Maria, tornando-se um bom marido e pai zeloso, mesmo após conhecimento da gravidez da esposa. Seguidor de sua religião, ele pretendia deixá-la. Conforme Mateus 1:20, um anjo do Senhor apareceu a ele num sonho e disse: – José, descendente de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. O carpinteiro acolheu a mulher e cuidou da criança, como se fosse seu filho.

Os registros mais antigos de culto a São José são do final do século VII, provocando uma crescente devoção ao Santo. No final do século XV, o Papa Sisto IV aprovou a celebração no dia 19 de março e em 1870, o Papa Pio IX declarou-o Padroeiro da Igreja Católica.

É provável que a devoção a São José, no Brasil, tenha iniciado em 1608, com a ereção de uma ermida na vizinhança da rua Direita, no Rio de Janeiro, pelo ermitão Egas Muniz, em terras doadas pelo governador da Capitania, D. Luiz de Almeida, nas imediações onde o futuro templo seria construído, no sopé do Morro do Castelo.

Devido à sua implantação, a igreja chegou a abrigar a Sé, anteriormente localizada na igreja de São Sebastião, no alto da colina. Os motivos alegados se referiam às dificuldades dos fiéis em subir as ladeiras íngremes e ao estado de abandono da antiga Sé.

A transferência desagradou aos membros da Irmandade, gerando alguns graves conflitos entre as partes interessadas. A demanda precisou da interferência do rei de Portugal, D. Afonso VI, que determinou a permanência da Sé em seu local original, junto ao padroeiro da cidade, ao final do século XVII.

Após a decisão real e a devolução do templo aos seus congregados, aquela capela recebeu sucessivas ampliações e reformas no início dos setecentos até tornar-se Matriz da Freguesia de São José, em 1751.

Decorridas algumas décadas, o antigo edifício se apresentava arruinado e pequeno para realização de suas atividades religiosas. Tornava-se imperiosa a construção de um novo templo e, em 1807, foi aprovada a planta para o início das obras, com a concordância do Papa Pio VII e permissão do Príncipe Regente D. João.

Houve participação da Irmandade de São José, esmolas espontâneas da população e até contribuição do governo português, numa homenagem a D. José I, avô do regente. O projeto inicial foi realizado pelo Mestre Félix José de Souza, substituído, em 1815, pelo arquiteto português João da Silva Muniz. Em 1842, a nova igreja era inaugurada.

O templo, localizado à Avenida Antônio Carlos, s/n, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 1938. A edificação está implantada junto a outros marcos arquitetônicos da história nacional: o Paço Imperial, o Palácio Tiradentes, projetado para abrigar a Câmara dos Deputados, na década de 1920, onde existia a Cadeia Velha além de significativos edifícios religiosos, como a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, o Convento do Carmo e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo.

01 fachada lateral Sao Jose Sobre a devoção a São José: o segredo na igreja do Rio de Janeiro
Fachada lateral da igreja de São José, voltada para o Palácio Tiradentes (esq.) Acervo BN

A igreja dedicada a São José, apesar de sua importância histórica, artística e cultural, não se constitui em sede da Paróquia. Ainda que tenha recebido o título de Matriz da Freguesia, na segunda metade do século XVIII, após novos ordenamentos eclesiásticos atribuídos à Igreja do Carmo, como Capela Imperial, depois Catedral, a antiga Matriz tornou-se  integrante do perímetro paroquial da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, conforme https://www.arqrio.com.br.

O edifício que chegou ao século XX e recebeu a proteção federal, apresenta uma fachada que busca associar-se a modelos do século XVIII, sem a mesma qualidade compositiva ou o movimento tridimensional presente naqueles partidos com influência barroca. Trata-se de uma concepção de matriz clássica, simétrica, composta por elementos geométricos bem definidos pela marcação de pilastras e uma grande cimalha, em cantaria, sob o frontispício central e torres laterais. O volume assenta-se diretamente no rés-do-chão, aumentando a sensação de seu peso visual.

02 Fachada Sao Jose Sobre a devoção a São José: o segredo na igreja do Rio de Janeiro
Fachada principal da igreja de São José

As torres, ambas com coroamento bulboso, abrigam os sinos e um célebre carrilhão, desde 1883, que, graças à habilidade dos sineiros, entoavam canções sacras em dias especiais

Internamente, a nave principal é arrematada por abóbada de berço e apresenta-se ornamentada por uma talha dourada sobre fundo branco, guardando referências ao rococó, atribuída ao Mestre Simeão de Nazaré.

Atrás da capela-mor, que abriga diversas imagens, destacando-se São José, de origem francesa, existe um ambiente que guarda um segredo, segundo a tradição popular.  O fiel pode visitar o local, orar, fazer seu pedido, mas não deve revelar o que foi observado.

Além do auto de fé, o conjunto de reverência merece a observação pela sua qualidade compositiva ao representar…. É segredo!

Para muitos, o momento mais expressivo de veneração do Glorioso Patriarca da Igreja Católica São José.

A importância de sua devoção é tamanha que outras religiões, incluindo aquelas de matriz africana, sincretizaram o Santo com o orixá Aganju ou Xangô Aganju, uma entidade elementar, associada às rochas e montanhas.

São José, São José Operário, São José de Ribamar, culto que encontra seus registros mais antigos no final do século VII, atravessou o tempo, recebeu seu dia de celebração aprovado pelo Papa Sisto IV, foi declarado Padroeiro da Igreja Católica e da família.

Várias denominações para a fé. A mesma fé que é celebrada com esperança a cada 19 de março, aguardando a chuva benfazeja para a fartura das colheitas nordestinas, sob os trovões de Xangô.

Meu divino São José
Pela cruz que trais na mão
Nem de fome, nem de sede
Não mate seus filhos não

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.

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