Se existe alguma coisa certeira em todo planejamento são os contratempos. Não adianta, pode ser a maior preparação do mundo, com os melhores profissionais e o maior foco: imprevistos vão sempre acontecer! Aquele dia em que a pilha do despertador acaba; o trânsito está todo parado; o apagão de luz no meio do projeto; a lesão muscular repentina…
Lógico, não seria diferente apenas porque era com a gente.
Elaboramos um cronograma, porém, como falamos na última coluna (corre lá se você não leu!), muitas coisas não estavam ao nosso alcance. Tínhamos a complexa missão de aceitar e recalcular as rotas já em movimento.
O primeiro baque que levamos com a troca de local e profissionais não só nos tomou tempo, como nos afetou financeiramente. Durante mais de dois meses caminhamos em uma mistura de passos de tartaruga e formiguinha. Entretanto, foram os custos da nova equipe que nos assustaram: a margem de orçamento seria levada ao limite. Dessa vez não poderíamos nos dar ao luxo de errar novamente, as coisas precisavam dar certo, pois não teríamos como fazer uma nova mudança.
Como se não bastasse, estávamos vivenciando a pandemia e seus reflexos não passariam desapercebidos por nós. A falta de material e a escassez de peças elevou os prazos de entrega e os preços nas prateleiras físicas e eletrônicas. A boa e velha lei da oferta e demanda nos dando uma rasteira, já que em poucas semanas tudo oscilava.
Nessa hora a estratégia de segmentação do projeto foi fundamental para manter o fluxo, o que somente foi viável em razão das definições prévias estabelecidas das nossas necessidades e layouts.
As noites em claro que passamos realizando pesquisas acerca dos inúmeros formatos que nossa casa poderia adquirir e a escolha do que não poderia faltar de jeito nenhum foram fundamentais. Nessa hora não bastaria decidir que teríamos banheiro, precisávamos já saber se ficaria na entrada, no meio ou no final da casa, quais as consequências de cada uma dessas opções e os tamanhos mínimos, por exemplo.
Nada obstante, verdade seja dita: nunca tínhamos construído nada! No máximo feito uma reforminha aqui e outra ali nos apartamentos em que havíamos morado. Não tínhamos ideia da quantidade absurda de decisões que precisariam ser tomadas diariamente durante a construção do motorhome, desde coisas mais sérias como o corte da lataria do veículo para abertura de uma janela até a aparentemente simples escolha da altura e direção de um puxador. Cada escolha tinha sua consequência direta. O nível de dificuldade para nós era ainda maior porque não tínhamos a expertise de viver na estrada.
O dia a dia na obra era muito rico, o aprendizado de saber como e o motivo das coisas que estavam sendo feitas na nossa casa era incrível. Queríamos ter o conforto de entender os detalhes e nos prepararmos para qualquer manutenção futura. Colocar as mãos na massa teve sua contrapartida: o desgaste. Com o passar das semanas era natural que o cansaço batesse na porta, tivemos que driblá-lo.
Aquela divisão das metas de pequeno, médio e longo prazo, e a presença física na construção nos permitiu ver de perto os objetivos se concretizarem e um simples furgão, ganhar o ar de casa. O isolamento ficou pronto, a forração, o banheiro, o teto, os armários aéreos, os baixos também, a estrutura da cama. Ah, mas os detalhes. Se alguém nos contasse antes que cinquenta por cento do tempo seria dedicado aos acabamentos da nossa casinha diríamos que era alguma espécie de pegadinha. Acredite, é mais ou menos por aí mesmo! Lembra daquela tal de ansiedade (risos).
Meses depois, ultrapassados todos os marcos do nosso cronograma, chegava o grande dia de buscar a nossa casinha. Haja coração.
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