Em 1920, quando a Avenida Atlântica ainda estava se formando, o dono de um palacete próximo ao Copacabana Palace deixou, em testamento, à nossa Cidade – o Rio – e a todos nós cariocas, um grande presente: nos doou seu imóvel com o gravame, um encargo de que este fosse destinado a um estabelecimento de ensino. Assim nasceu, ali naquele terreno, a Escola Municipal Dr. Cícero Penna, um local privilegiado e único para muitas crianças estudarem.
A história da doação deste terreno para uma escola nos é contada pelo blog Rio que Passou e que, sendo autêntica como parece que o é, explica e justifica a sua existência naquele local tão especial. E mais: nos conta o citado blog que a edificação do prédio da escola que hoje lá se encontra é projeto de um famoso arquiteto, Francisco Bolonha, e cuja foto está listada no Anuário da Associação da Arquitetura Brasileira 1972 – Escolas.
Pois então, é esta escola pública, neste local extraordinário, que consta na lista de imóveis que a Prefeitura enviou para a Câmara Municipal, pedindo para vender, para fazer uns tostões com este nosso patrimônio educacional. A consequência será a demolição da escola pública para ali construir mais um edifício privado ou hotel para uns poucos privilegiados. E pode?
Afora a total falta de sensibilidade do atual governo municipal cogitar em não resguardar um patrimônio público com uso tão especial – uma Escola pública num lugar único – indago se é possível, legalmente, se fazer esta venda, tomando-se como fato verídico que a origem da mesma é uma doação ao poder público com uma finalidade específica; sendo este o caso, a resposta é não. E aí estaremos a salvos da ganância de autoridades municipais sem visão de futuro, e sem os cuidados mínimos com a memória da Cidade, que alguns dizem que amam.
Dr. Cícero Penna, ao fazer sua doação vinculada e condicionada de ali fazer uma instituição de ensino, gravou o uso daquele bem às crianças cariocas. Ainda bem! Além de generoso, Dr. Cícero foi também sábio, por antever a sempre presente ameaça que ronda nossa cidade, gerida por governos displicentes e demolidores de patrimônio público. Quem não se recorda da ainda recente e traumática batalha popular contra a demolição da Escola Municipal Friedenreich, no Maracanã, quando a aliança Cabral-Paes passava o furacão pela Cidade?
Se foi um lapso das autoridades municipais listar a Escola Cícero Dias em sua relação de patrimônio público a ser vendido e desfeito, isto mostra, mais uma vez, a constante falta de cuidados com o patrimônio público, a falta de projetos completos, a falta de planos coerentes para as propostas governamentais, aumentando sempre o rol interminável ações que seguem obstinadas no lema: RÁPIDO E MAL FEITO. Até quando?
É a sanha da destruição. Destruir a identidade e a história de um bairro que ao longo das décadas tenta resistir de manter a sua beleza geográfica que é única e do que resta de seus patrimônios naturais e urbanístico.
Alguns anos, conheci uma senhora já falecida que nasceu no começo do século XX. E ela sabendo do meu amor e respeito pelo bairro, me falou: “Tem interesse de conhecer Copacabana de antigamente? Vá a Lisboa”.
Parabéns, Sônia Rabelo pela matéria. Acho que somos às únicas a defender a Escola Municipal Cícero Pena. Cadê as Associações de Moradores?
A cidade é um organismo dinâmico e o patrimônio municipal que ora se cogita vender, como diz a Doutora Sonia, foi instalada em lugar de um palacete, que também foi desconsiderado, no momento desta edificação.
Acontece que Copacabana sofreu drásticas mudanças e esta escola mais parece um entrave em ambiente impróprio atualmente.
Seria importante que a prefeitura se comprometesse em transferir este educandário, junto com o nome do próprio, para área mais apropriada ao ensino e aos seus alunos.
Seguramente, o valor do metro quadrado deste local propiciará a construção de uma excelente escola municipal em área menos valorizada.
O palacete se foi, irremediavelmente, diga-se, porém, a escola com o nome do doador poderá perdurar e ser mais útil em espaço adequado, em vez de um elefante branco, como parece atualmente.
Aliás, com o advento da pandemia e de aulas à distância, bem que a prefeitura poderia pensar em remodelar os espaços de ensino, de acordo com novas tecnologias e sistemas didáticos mais atualizados…
A começar pela futura e, possivelmente modelar, Escola Cícero Penna…
Quem sabe este novo estabelecimento não se torna modelo para formação de crianças verdadeiramente estudantes, menos cativas, mais maduras e mais aptas social e culturalmente?
Talvez este possa ser um marco importante na transformação do enfadonho cárcere letivo em ambiente atrativo e que cumpra o papel de ensinar a estudar, para formar estudantes…
Isto não é pleonasmo. principalmente porque as atuais escolas NÃO ENSINAM A ESTUDAR… Ao contrário, produzem analfabetos funcionais, prontos para um vestibular e totalmente despreparados social e culturalmente.
Sou um cidadão que costuma criticar o Sr. Eduardo Paes e sua visão da “coisa pública”. Porém, não vou concordar com a Sra. Sonia Rabello, desta vez. Afora a questão jurídica da ‘doação’, que no caso será um problema da Prefeitura superar com seus representantes junto ao Legislativo municipal e ao Judiciário, não vejo problemas para esta venda. Desde que realmente as crianças que precisam do Ensino Público não percam suas vagas na escola ou não tenham maiores gastos para se deslocarem até o seu local de estudo. Quanto ao prédio, ele é feio e deve estar mal conservado. Melhor é faturar uns “bons trocados” com a venda deste imóvel do que prejudicar mais os funcionários públicos com arrocho salarial.
Permita-me discordar, mas essa escola já foi até citada em matéria da The Economist como exemplo de má gestão do patrimônio imobiliário de governos pelo mundo. Quase nenhum aluno essa escola reside próximo – seria muito melhor, com esse dinheiro, fazer novos e bem equipados colégios próximos da sua residência.
De toda forma, concordo que se a prefeitura quiser vender esse imóvel, vai ter que sustentar uma tese criativa para atropelarem o gravame constituído sobre o imóvel.