Startup imobiliária passa calote em proprietários, que acumulam dívidas de quase de R$ 2 milhões

Empresa atua no Rio e cobra entre R$ 3 mil e R$ 30 mil pelos alugueis dos imóveis, dos quais não paga condomínio e IPTU, lesando os donos apartamentos de alto padrão

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Casa no Jardim Pernambuco - Imagem meramente ilustrativa

A Justiça tem nas mãos um imbróglio imobiliário que envolve um grupo de 85 proprietários de imóveis de alto padrão, que não têm aluguéis repassados por uma imobiliária que atua no Rio de Janeiro e em mais dois estados. Além disso, a empresa, que é uma startup, também não paga os condomínios e as parcelas de IPTU desses apartamentos, desde o início deste ano. Somados todos os débitos ultrapassam R$ 1,5 milhão.

Todas essas obrigações estão estabelecidas nos contratos, que a imobiliária tem despeitado. Em seu site, a empresa oferece unidades residenciais reformadas e mobiliados para alugar, sem a necessidade de oferecer garantias. Os aluguéis dos imóveis anunciados variam de R$ 3 mil a R$ 30 mil por mês.

A advogada Marcela Miranda, que representa os proprietários, disse ao G1 que os prejuízos deles ultrapassam R$ 1,5 milhão. Em nota, a Tabas by Blueground afirmou estar ciente dos casos e que todos estão em discussão judicial, com cada situação tendo “uma motivação específica”, segundo a empresa.

A Tabas começou a atuar em São Paulo, em 2020, com aluguéis por temporada. Inicialmente, a empresa contava com quatro apartamentos. Atualmente, são mais de 1.300 unidades e mais de 21 mil contratos assinados com inquilinos que alugam os imóveis no Rio, São Paulo e Brasília. Na capital paulista, a plataforma opera em bairros nobres, como Itaim Bibi, Higienópolis, Vila Nova Conceição, Brooklin e Vila Olímpia.

A startup foi fundada por Leonardo Morgatto e pelo italiano Simone Surdi, visando as hospedagens de curta duração para turistas estrangeiros ou executivos expatriados que se instalam em São Paulo por 30 ou 90 dias, por exemplo.

Nos aluguéis longos, a Tabas fecha contrato de, no mínimo, seis anos com os proprietários, se comprometendo a “dar um banho de loja” nos imóveis, para que atinjam o padrão de alto custo da empresa. Como retorno têm o direito de sublocar as unidades durante o período por valores superiores estipulados nos contratos com os donos dos apartamentos.

Segundo a advogada do grupo, a empresa fecha contratos de longa duração – o normal é de 30 meses – para reaver o investimento na reforma do imóvel para iniciar a comercialização. E quando é acionada para devolver o bem a inquilinos lesados, entrega o apartamento “depenado”, destruindo todas as melhorias por ela feitas. Uma proprietária que reouve o seu imóvel, amargou um prejuízo de R$ 50 mil, contou a advogada.

Patrícia Nerath, que moradora em Ribeirão Preto, no interior de SP, é uma das vítimas da startup. Ela firmou, em 2021, um contrato de locação com a Tabas para o único imóvel da família, localizado no Itaim Bibi, na Zona Sul da capital paulista, com aluguel a R$ 7 mil, e condomínio e IPTU, somando aproximadamente R$ 2.500 mensais. Essas últimas despesas, que deveriam ser pagas pela Tabas, ficaram em aberto, levando Patricia a ser processada três vezes pela administradora do prédio. No momento, o imóvel está alugado e o inquilino diz pagar as despesas mensalmente à imobiliária.

“Até o fim de 2022, os valores eram pagos corretamente. Mas, a partir de 2023, começou a ter atraso nos repasses. Eles alegavam que tinham se associado com a americana Blueground e o sistema de pagamentos estava mudando. Mas, a partir de março deste ano, eles simplesmente pararam de pagar tudo”, contou ao G1, Patrícia Nerath, que foi acionada judicialmente pela 1ª vez em 2023 por causa de atrasos no pagamento dos condomínios. Na ocasião, a Tabas se desculpou e pagou os honorários e as dívidas.

Em 2024, no entanto, ela já foi acionada três vezes, com as dívidas da Tabas somando mais de mais de R$ 60 mil, valor que levou Patricia a vender o único carro para pagar as dívidas. Após acionar a Justiça, ela teve o posicionamento da empresa de que as dívidas seriam pagas em juízo. No entanto, os recursos ainda não foram liberados por causa da dependência de um nova decisão judicial para  acesso à conta judicial.

“Choro o tempo todo e tenho ataques de pânico por causa dessa situação. É o único bem material que temos – eu e meu filho – e o tempo todo ele está ameaçado de ir para leilão, por causa dos atrasos no pagamento do condomínio. Tenho tomado remédio e não durmo direito há meses. Somos uma família de classe média que, de repente, perdeu sua principal fonte de renda”, desabafou Patrícia Nerath, que descobriu, ao procurar a advogada Marcela Miranda, que outros proprietários passavam pela mesma situação na cidade.

Das mais de 85 pessoas do grupo de proprietários 60 já ingressaram na Justiça contra a startup.

“Semanalmente sou procurada por novos proprietários que estão enfrentando o mesmo problema. Alguns deles registraram até boletim de ocorrência na polícia, acusando a empresa de apropriação indébita. Um inquérito policial inclusive já foi aberto para investigar esses golpes. Entre os mais de 80 proprietários que se reunirão, pelo menos 60 deles já ingressaram com processo na Justiça. Os prejuízos vão de R$ 30 a R$ 100 mil. E somados, passam de R$ 1,5 milhão”, disse a advogada Marcela Miranda ao G1.

Dona de um imóvel nos Jardins, a engenheira Mônica Lerner, é outra proprietária lesada e que já chegou a passar três horas na recepção da empresa para ser ouvida. Mônica não recebe há mais de quatro meses e já acumula dívida de condomínio e IPTU de mais de R$ 30 mil. Além disso, ela teria que receber aproximadamente R$ 6 mil por mês pelo imóvel. A Tabas, no entanto, cobra pela unidade mais de R$ 13 mil.

“Cheguei a ficar mais de 3h esperando ser atendida por lá. Vários idosos de bengala na mesma situação, mas nenhuma satisfação dos empregados da empresa para gente. Deram ordem para em atenderem telefone. Tenho tomado calmante porque é uma atmosfera de estresse tão grande que não tem me feito nada bem fisicamente”, desabafou a engenheira.

O que diz a Tabas

“A Tabas está ciente dos casos e informa que todos estão em discussão judicial. Cada situação tem uma motivação específica, prevista em contrato, para suspensão dos pagamentos e em todos os casos compartilhados, foram apurados valores devidos pelos proprietários à Tabas em razão de benfeitorias que a empresa fez em seus imóveis.

Atualmente, a Tabas administra mais de 2 mil imóveis, e esses casos, que representam menos de 2% da nossa base de clientes, estão sendo tratados adequadamente na justiça. Estamos comprometidos em garantir que cada situação seja tratada com a devida atenção e conforme as determinações legais.

Seguimos crescendo e liderando o mercado de aluguéis flexíveis, focados em oferecer uma experiência de alta qualidade para todos os nossos inquilinos, com a transparência e o compromisso que sempre foram pilares da Tabas,” reproduziu o G1.

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