#TemGenteComFome: Os números da miséria no Rio de Janeiro

Nova série de matérias do DIÁRIO DO RIO apresenta um panorama da pobreza no Rio

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Em um dos seus mais conhecidos poemas, o pernambucano Solano Trindade, que passou no Rio de Janeiro boa parte de sua vida, repete a frase “tem gente com fome” por 15 vezes. Caso fossem dizer o verso uma vez para cada pessoa que se encontra na pobreza no Rio de Janeiro, Trindade e Ney Matogrosso (que gravou a poesia musicada por João Ricardo) precisariam de 1,7 milhão repetições. De acordo com dados de estudo da FGV Social, esse é um dos números da miséria no Rio.

A pobreza extrema, que vinha crescendo no Brasil nos últimos anos, ganhou números ainda mais inaceitáveis durante a pandemia causada pelo Coronavírus. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a insegurança alimentar grave esteve presente no lar de 10,3 milhões de pessoas ao menos em alguns momentos entre 2017 e 2018. Dos 68,9 milhões de domicílios do país, 36,7% estavam com algum nível de insegurança alimentar, atingindo, ao todo, 84,9 milhões de pessoas.

Na comparação com 2013, a última vez em que o tema foi investigado pelo IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a prevalência de insegurança quanto ao acesso aos alimentos aumentou 62,4% nos lares do Brasil. A insegurança vinha diminuindo ao longo dos anos, desde 2004, quando aparecia em 34,9% dos lares, 30,2% na PNAD 2009 e 22,6% na PNAD 2013. Mas em 2017-2018, houve uma piora, subindo para 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões de domicílios. Com isso, a segurança alimentar atingiu seu patamar mais baixo (63,3%) desde a primeira vez em que os dados foram levantados. Já a insegurança alimentar leve atingiu seu ponto mais elevado.

Um levantamento da Central Única de Favelas (Cufa), em conjunto com o Instituto Data Favela e Locomotiva, mostra que durante a pandemia aumentou o desemprego e agravou a fome no Rio de Janeiro, principalmente nas comunidades e favelas. De acordo com a pesquisa, 82% da população dessas áreas depende de doações para se alimentar. Segundo os mesmos dados, o número médio de refeições por dia dessas famílias é 1,9, ou seja, menos de uma refeição por dia.

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Favela Morro Azul, na zona sul do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nas favelas, a situação é a descrita no último paragrafo. Nas ruas é ainda pior. O censo da população em situação de rua feito pela Prefeitura do Rio em outubro de 2020 mostra que a cidade possui um total de 7.272 pessoas vivendo nas ruas, sendo 5.469 delas encontradas na rua e outras 1.803 em condição de acolhimento institucional. Em muitos desses casos, essas pessoas não fazem nenhuma refeição por dia.

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Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio

A falta de emprego e, consequentemente renda, é um dos pontos dessa desesperadora situação. A taxa de desemprego no Estado do Rio mais que dobrou entre 2012 e 2020. O número de desempregados já chega a 1,5 milhão de fluminenses, segundo o IBGE. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de desempregados no Sudeste e o quarto maior do país, ficando atrás apenas de Bahia, Alagoas e Sergipe.

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Fila para vaga de emprego. Foto: Daniel Silveira/G1

Especialistas atestam que o menor alcance e poder de compra do auxílio emergencial estão agravando ainda mais o problema. A cesta básica no Rio de Janeiro custa R$ 629,63. É a mais cara do país. As novas parcelas do auxílio pago pelo Governo Federal variam de R$ 150 a R$ 375, dependendo da família. Prefeitura e Governo Estadual têm auxílios próprios, mas nenhum deles chega ao valor da cesta básica no Rio.

Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e consultor da ActionAid, disse, ao portal Brasil de Fato, ainda em 2019, que a condição de extrema pobreza está diretamente associada à fome e que o estado do Rio de Janeiro é uma mostra exacerbada da vulnerabilidade social que o país tem vivido nos últimos anos. 

“O Rio de Janeiro é quase que uma mostra mais extrema do que vem vivendo o Brasil, de acelerado empobrecimento e, mais do que isso, temos que observar que o crescimento da extrema pobreza se baseia numa linha de extrema pobreza monetária. Até 2015 a pobreza e a extrema pobreza vinham declinando no estado do Rio. A partir de 2015, quando se abre a crise política e econômica de forma mais acentuada, você tem um crescimento mais acelerado”, afirmou Menezes.  

No estado do Rio de Janeiro, segundo dados do IBGE, baseados na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Penad), 5,3% da população vive com uma renda de até R$ 249 por mês. Tendo para sobreviver mensalmente até R$ 499 são 15% no RJ. De R$ 89 a 178 são 12% e com menos R$ 89 são 6,7%. Olhando para a Baixada Fluminense, um estudo da Casa Fluminense, que se dedica a discutir a Região Metropolitana do Rio, mostra que, de seus 3,6 milhões de habitantes, 1.213.297 vivem abaixo da linha da pobreza, com renda de até meio salário mínimo. Desses, 507.640 (42,2%) sobrevivem com até 25% do salário.

Por trás de tantos números, existem muitas pessoas. E são as histórias de algumas delas que você vai conhecer na próxima matéria da série #TemGenteComFome, aqui no DIÁRIO DO RIO.

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