Fico imaginando a cena: centenas de acendedores de lampiões marchando pela recém-inaugurada Avenida Central do Rio de Janeiro, em 1904, pedindo o fim da iluminação elétrica nas vias públicas. Afinal, aqueles homens viviam de acender e apagar os lampiões que iluminavam a cidade – e agora estavam ficando desempregados.
Apesar de não ter visto esta cena (que provavelmente nem existiu), tenho assistido diariamente à patética luta dos taxistas cariocas contra o UBER. Este aplicativo, que chegou ao Rio em 2014, facilita e monetiza caronas conectando passageiros com motoristas cadastrados e calculando o preço da “corrida”. Através de um sistema inteligente, diminui o trânsito, atenua a poluição gerada pelos carros, barateia o transporte e aumenta sua qualidade. Ganhos coletivos inquestionáveis.
Apesar de todo bem que o aplicativo pode gerar para o Rio de Janeiro, os taxistas querem sua proibição imediata. Como esperar outra reação? Profissionais que não raro rejeitam corridas “difíceis”, desrespeitam regras de trânsito, inventam caminhos mais longos, forçam bandeira 2, etc. tem como preocupação seus próprios ganhos, não o bem coletivo.
Os principais argumentos dos taxistas são que o aplicativo é ilegal – pois a legislação dá a eles o monopólio do “transporte público individual” – e que o app não presta contas ao governo. A argumentação jurídica é controversa, já que passageiros e motoristas do Uber estão cadastrados, por livre escolha, em uma plataforma privada e por isso não se trata de um “transporte público individual”. Já sobre a falta de fiscalização do governo sobre o Uber, de fato acredito que ele deva ser REGULAMENTADO e eventualmente taxado, o que é bem diferente de PROIBIDO.
Os taxistas são conhecidos pelo desrespeito à lei e à ética e agora clamam por elas contra o Uber. O aplicativo traz ganhos coletivos inquestionáveis e acredito que será abraçado pela população carioca, cansada dos profissionais que selecionam passageiros, dos taxímetros espíritas e dos trajetos que demoram o dobro do tempo. Acho que os taxis não deixarão de existir, mas terão que melhorar – e muito! – e perderão boa parte do mercado. Os taxistas serão, ironicamente, atropelados. O último que sair, apague o lampião.