‘Tornar o CAU mais próximo dos arquitetos, para além de uma visão arrecadatória e cartorial’, diz a Chapa 2 das eleições para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo

Fazem parte do grupo os arquitetos Pablo Benetti, Igor de Vetyemy, Tanya Collado e Sonia Lopes

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Foto: Divulgação

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU-RJ terá eleições para renovar seus conselheiros e o DIÁRIO DO RIO reuniu para uma conversa representantes da Chapa 2 Construção Coletiva – CAU/RJ 2023. Fazem parte do grupo os arquitetos Pablo Benetti, atual presidente do CAU/RJ e sócio fundador da Fábrica Arquitetura, Igor de Vetyemy, representante do Brasil no IPWG da UIA e último presidente do IAB-RJ, Tanya Collado, atual vice-presidente e coordenadora da comissão de ensino e formação do CAU, e Sonia Lopes, atual presidente da AsBEA/RJ – Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura.

Perguntas sobre as ações e importância do CAU para o Rio de Janeiro, entre outras foram feitas para a chapa.

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DIÁRIO DO RIO: Qual a importância do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU para a classe dos arquitetos e para o Estado do Rio?

Pablo: A criação do CAU foi resultado de uma longa luta das entidades de classe, que por décadas vinham tentando ter um conselho próprio. Queriam poder defender com clareza as pautas específicas dos arquitetos e arquitetas, e não mais ficar subjugados aos engenheiros que eram maioria no CREA. Com mais autonomia, o CAU pode atuar pela valorização profissional, pela qualidade do ensino e da atuação profissional, e defender também a sociedade tanto das más práticas profissionais, quanto do exercício ilegal, assim como atuar na defesa dos bens públicos e da redução das desigualdades sócio-territoriais.

DIÁRIO DO RIO: Como funcionam essas eleições?

Tanya: As chapas, no caso do Rio de Janeiro, são compostas por conselheiros federais (1 titular e 1 suplente) e por conselheiros estaduais (28 titulares e 28 suplentes).

DIÁRIO DO RIO: Os conselheiros federais, eleitos por cada estado do Brasil, irão compor o plenário do CAU/BR, que elegerá a presidência em Brasília.

Tanya: Os conselheiros estaduais formam a plenária, num sistema que se assemelha ao parlamentarismo. Cada chapa elege um número de conselheiros proporcional ao número de votos que recebe. Todos juntos na primeira reunião do ano escolhem a nova ou o novo presidente.

DIÁRIO DO RIO: De quanto tempo é o mandato?

Igor: O mandato é de três anos. Vale lembrar que se trata de um trabalho voluntário. Motivo pelo qual a nossa chapa buscou profissionais que têm trajetórias de colaboração em organizações e coletivos, pessoas que já mostraram que sabem fazer parte de construções coletivas e horizontais, em prol do bem comum.

DIÁRIO DO RIO: Quem são os candidatos da sua chapa? Mande um breve perfil de cada?

Sonia: A CONSTRUÇÃO COLETIVA foi montada pensando na representatividade da nossa classe. Tem colegas de pequenos e grandes escritórios, profissionais autônomos, bem como servidores públicos. Alguns atuam na área de perícia e avaliação, outros com interiores, planejamento urbano, projeto, obra, sala de aula. Ou seja, uma diversidade de vários campos profissionais dentro da arquitetura e urbanismo. Além disso, é importante ressaltar a nossa enorme representatividade de gênero, raça, faixa etária e orientação sexual, assim como nossa abrangência territorial, para permitir que cada arquiteta e arquiteto de cada canto do Estado tenha voz ativa dentro do conselho. Quem quiser conhecer a trajetória de cada um, bem como nosso programa, pode acessar: www.construcaocoletivacaurj.com

DIÁRIO DO RIO: Qual a diferença da sua chapa para a outra?

Sonia: Existem diferenças fundamentais entre as visões de ambas as chapas, e isso é muito bom, para que os eleitores possam escolher o projeto com o qual tenham mais afinidade.

Pablo: Para começar é importante resgatar uma leitura sobre a criação do próprio Conselho. O CAU não surgiu das mãos de um “fundador”, foi fruto de uma luta que envolveu diversos arquitetos urbanistas e suas entidades profissionais. É a partir dessa concepção, que reafirmamos o nosso compromisso com uma construção coletiva, que envolva as organizações profissionais e da sociedade civil em geral.

Tanya: Devemos trabalhar para democratizar o acesso à arquitetura e ao urbanismo. Vale lembrar que vivemos em um país onde 85% da população constrói sem o apoio de um profissional.

Igor: O CAU tem um poder enorme quando aliado à sociedade organizada. Por exemplo, ele consegue promover a cultura arquitetônica, experiências de Assessoria Técnica para Habitação de Interesse Social, oferecer de forma gratuita programas de educação continuada, apoiar profissionais recém-formados com consultoria contábil, dentre outras iniciativas. É importante mantermos e ampliarmos esse trabalho que vai muito além da fiscalização e punição, o CAU não deve ser meramente um cartório, onde o profissional só entra para pagar anuidade e Registros de Responsabilidade Técnica. Lutamos por um CAU que realmente apoie os profissionais e tenha na promoção da boa arquitetura e urbanismo a sua maior arma.

DIÁRIO DO RIO: Quais as principais bandeiras da chapa?

Pablo: Fortalecer a profissão e transformar nossas cidades é nossa missão. E acreditamos que o caminho para isso passa, pela valorização das diversas formas de exercício profissional. Reconhecemos a riqueza que a pluralidade de atuações traz ao campo da arquitetura e do urbanismo. Comprometemo-nos a promover ativamente a valorização de todas as vertentes.

Tanya: Não dá para deixar de falar também da defesa da qualidade do ensino. Essa é uma causa que abraçamos com convicção. Nosso compromisso é apoiar ativamente as batalhas pela melhoria das Diretrizes Curriculares, buscando direcionamentos alinhados às necessidades contemporâneas da profissão. Além disso, opomo-nos à expansão indiscriminada do ensino à distância, defendendo a importância da interação presencial para uma educação de qualidade.

Sonia: também batalhamos, e temos mostrado isso, por um CAU mais presente. Planejamos estabelecer mais convênios e parcerias para facilitar a presença do Conselho no interior, garantindo maior acessibilidade aos profissionais atuantes nessas regiões. Essa descentralização contribui para uma representação mais abrangente e uma gestão mais próxima das realidades locais, fortalecendo a voz dos arquitetos em todo o Estado.

Igor: Nossa plataforma também se debruça sobre a necessidade de apoio a todos os profissionais, mas reconhecemos os desafios enfrentados especificamente pelos arquitetos no início de suas trajetórias profissionais. Nosso empenho é oferecer assessoria contábil e combater incansavelmente a precarização das condições de trabalho, garantindo que todos os profissionais tenham a oportunidade de construir uma carreira sólida e digna.

Pablo: Defendemos uma gestão que dê a devida atenção aos arquitetos do setor público. Além de lutar pela ampliação da atuação dos arquitetos urbanistas no serviço público, defendemos que as decisões relacionadas à conservação e valorização de nosso ambiente construído sejam respaldadas pela experiência e conhecimento dos profissionais da área.

Tanya: Nossa plataforma destaca o fortalecimento da batalha pela Assessoria Técnica para Habitação de Interesse Social, criada pela Lei 11.888/2008 e até agora pouco implantada. Para além da parceria com os movimentos sociais, pretendemos buscar uma estreita colaboração com as prefeituras para expandir e aprimorar essa iniciativa, com o objetivo de garantir moradia digna para todos.

Sonia: E para fechar, talvez, os pontos mais abrangentes, falamos também da defesa da qualidade do projeto. Estaremos firmes contra práticas aviltantes de contratação, como o pregão e a licitação por preço, que comprometem a excelência e a integridade dos projetos.

Igor: Nossa luta é pela valorização do mérito técnico e pela busca constante da excelência na arquitetura e urbanismo, garantindo resultados de qualidade que atendam às necessidades e aspirações de nossas comunidades.

DIÁRIO DO RIO: Quais serão as prioridades da Chapa caso vença a eleição?

Pablo: Em primeiro lugar, será importante consolidar a presença do Conselho no interior do Estado, continuando com os programas CAU itinerante, CAU presente e CAU na sua cidade, e ampliando para o CAU nas comunidades. Esses programas são de suma importância para a aproximação com profissionais, além de estabelecer diálogo com a sociedade e com o poder público local. Também será importante implementar um novo plano de fiscalização para todo o Estado. Essa tarefa será possível a partir de 2024, devido ao recente concurso que duplicou a equipe de fiscalização do CAU.

Tanya: Junto com a nossa valorização profissional virá, como consequência, a recuperação da qualidade de vida e saúde para a sociedade, de forma coletiva nas cidades e individual nos lares. Será essencial seguir investindo no desenvolvimento dos softwares livres, como o Projeto Solare (www.solare.org.br). Acreditamos que esses programas já são uma possibilidade viável para que os arquitetos não precisem mais gastar uma quantidade enorme de recursos para obter uma ferramenta de trabalho.

Sonia: É essencial, ainda, trabalhar pela aprovação da Lei do MEP (Micro-empreendedor profissional) no Congresso Nacional. Essa é uma alternativa para trazer regularidade aos milhares de arquitetos empreendedores autônomos.

Igor: E eu citaria ainda três últimos pontos: a continuidade do programa de cursos gratuitos de Formação Continuada oferecidos pelas organizações sem fins lucrativos e entidades de classe; a ampliação do orçamento participativo, permitindo que o Conselho implemente iniciativas vindas da própria classe; e a luta contra a banalização do Ensino à Distância que representa uma verdadeira ameaça à sociedade.

DIÁRIO DO RIO: O que os profissionais da área podem esperar da Chapa caso seja eleita?

Tanya: Podem esperar muito trabalho, dedicação, escuta e sobretudo uma defesa intransigente da nossa profissão. Acreditamos que o fortalecimento da arquitetura e urbanismo passa necessariamente pela nossa qualificação, pela ampliação dos campos de trabalho, bem como da sua justa remuneração. Foi nesse sentido que formulamos todos os nossos programas de ação. Podem esperar também uma outra era da atuação do conselho, entraremos numa nova etapa onde serão potencializados os programas que se revelaram assertivos, e desenvolveremos ações necessárias e urgentes para recolocar nossa profissão nos novos arranjos de produção e profissionais. No que diz respeito ao cotidiano profissional, devemos dar especial atenção ao aperfeiçoamento do SICCAU. Tornar o CAU mais próximo dos arquitetos, para além de uma visão arrecadatória e cartorial.

DIÁRIO DO RIO: E para a população do Rio, o que será feito para melhorar a vida?

Sonia: Temos ciência das limitações de uma autarquia como o CAU, mas ao mesmo tempo não podemos nos furtar de participar dos grandes debates que se impõem sobre o desenvolvimento urbano. Por isso, queremos construir um CAU autônomo, que coloque a arquitetura e urbanismo como uma ferramenta importante para democratização das cidades.

Tanya: Através de programas, podemos tornar nossos profissionais mais acessíveis à população. Nos aproximaremos de estruturas históricas de apoio da sociedade para somar nossa experiência à deles, prefeituras, ministério público e SUS. Estabeleceremos canais de comunicação mais efetivos com a população para que a arquitetura chegue como uma necessidade, mas também como um DIREITO aos lares.

DIÁRIO DO RIO: Por que a chapa quer vencer essa eleição?

Tanya: Por que os profissionais, e sociedade, necessitam de uma equipe como a nossa. Um grupo plural, representativo, experiente, com o pé no chão, olho no futuro e de mãos dadas com todos. E que trabalhe incessantemente.

Igor: Nesse momento em que vivemos é sempre importante ressaltar o valor da democracia. E as eleições são uma oportunidade para colocar em debate os novos rumos que queremos para o nosso Conselho. O CAU completou recentemente apenas dez anos, uma estrutura jovem com suas limitações. Mas devemos seguir, sem retrocessos, nos oxigenando, cientes que ainda temos muito o que avançar.

Pablo: acho que para resumir e para concluir, nós da chapa 2 nos colocamos nessas eleições para construir coletivamente, com as arquitetas e arquitetos do Rio de Janeiro, um CAU plural e mais acolhedor.

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