Um Brasil democrático e não de esquerda

Para Ives Gandra ou Lula volta a ser o pragmático dos dois primeiros mandatos, governando para o país, e não para o PT, ou os futuros resultados eleitorais serão ainda piores que os atuais

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Imagem criada por inteligência artificial

As eleições municipais de 6 de outubro, marcadas por uma esmagadora vitória da democracia e dos candidatos de centro-direita, além de um fracasso da esquerda, especialmente a mais radical, merecem algumas reflexões.

A primeira delas se refere ao presidente Lula. Em seus dois primeiros mandatos, ele se destacou como um presidente pragmático e não ideológico.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, talvez o melhor presidente após a redemocratização, me contou, certa vez, em meu escritório, na presença de um amigo em comum, George Legman – sem ter solicitado sigilo –, que quando Lula liderava as pesquisas em 2002 e fazia ataques ao sistema financeiro, o dólar chegou a R$ 4,00. Tanto o Ministro da Fazenda quanto o presidente do Banco Central sugeriram que ele pedisse um empréstimo-ponte ao FMI para acalmar o mercado, um recurso que talvez nem fosse necessário usar, pois os fundamentos da economia eram sólidos. Com seu prestígio, Fernando Henrique conseguiu o empréstimo sob a condição de que quem fosse eleito cumpriria o acordo. Ao chamar o candidato Lula, disse-lhe que, ao garantir o empréstimo, acalmaria o mercado e ele herdaria um país economicamente estabilizado. Caso contrário, não haveria como conter o pânico cambial. Lula teria que mudar seu discurso.

Lula não apenas alterou seu discurso, mas também, logo no início de seu mandato, indicou Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston, como presidente do Banco Central. Meirelles, que possuía o maior conhecimento econômico no governo, garantiu a estabilidade necessária. Na prática, foi o verdadeiro Ministro da Economia de Lula.

Contudo, o homem pragmático dos dois primeiros mandatos transformou-se em um ideológico em seu terceiro mandato, declarando orgulho em ser comunista e afirmando que nomeou um comunista para o STF. Lula abraçou as teses fracassadas do Foro de São Paulo, promovido pelo PT, e cultivou amizades com ditadores, como o autocrata sangrento da Venezuela, não condenando suas fraudes eleitorais. Além disso, sugeriu que a Ucrânia preferia a guerra e não queria a paz com a Rússia – uma paz que, segundo ele, seria alcançada com a entrega de parte de seu território aos russos. Lula também manteve relações próximas com ditadores como Putin, Xi Jinping e o regime de Cuba, além de apoiar o Irã, que recentemente esteve envolvido na chacina de 1.300 judeus pelo grupo terrorista Hamas e financiou atentados do Hezbollah contra Israel.

Por fim, o Brasil se distanciou das nações democráticas ocidentais para se aliar ao Sul Global, sob o comando da ditadura chinesa.

O Brasil democrático respondeu a essa linha autoritária votando por uma democracia equilibrada de centro-direita, em clara demonstração de sua vocação pela liberdade do povo, e não pela imposição governamental.

A segunda reflexão é sobre o enfraquecimento dos radicais, tanto de esquerda quanto de direita. O radicalismo perdeu espaço.

A terceira é a não interferência da Justiça Eleitoral, como ocorreu em 2022, quando veículos de mídia foram proibidos de divulgar matérias favoráveis ao ex-presidente nas duas semanas anteriores às eleições.

Os resultados desta eleição, em que o partido do presidente conquistou apenas 248 dos 5.569 municípios brasileiros – metade do que o partido do ex-presidente, que venceu em 510 municípios, e muito menos que o partido do Chefe da Casa Civil do governo Tarcísio, que venceu em 838 municípios –, merecem uma reflexão do presidente Lula. O próprio partido do governador obteve muito mais municípios que o partido do presidente.

A meu ver, ou Lula volta a ser o pragmático dos dois primeiros mandatos, governando para o país, e não para o PT, ou acredito que os futuros resultados eleitorais serão ainda piores que os atuais.

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Professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Aca demia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp)

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