Há 21 anos, um mineiro chamado Gerson, depois de ter trabalhado como faxineiro e garçom, assumiu um bar na Rua Riachuelo 26, esquina com a Lavradio, na Lapa. Com todas as dificuldades que um negócio desse tipo tem, o estabelecimento atravessou as duas últimas décadas. Mas não só com o Gerson pai.
“Ele realizou o sonho de ser empresário. E deu casa e sustento à nossa família. Meu pai, literalmente, deu seu sangue pelo negócio”, afirma Gerson Vaz Filho. Sem exageros quanto ao uso da palavra “literalmente”.
Gerson, o pai, no bar. Foto: Arquivo pessoal
Na madrugada de 6/12 do ano de 2013, o bar foi assaltado e Gerson, o pai, levou um tiro fatal. “Eu assisti a cena. E apesar de ter ficado destroçado, eu não podia deixar o sonho dele morrer, então assumi o negócio, contando com encorajamento, principalmente, da minha mãe”, conta o filho.
Gerson Vaz Filho ficou à frente do balcão que era do pai. Os negócios seguiram bem, a clientela continuou próxima, como uma família em horas difíceis. “Não foi à toa que nasci para carregar o mesmo nome que meu pai. Nessas horas de muita dificuldade, me lembro da minha amiga Izabel, que sempre fala a palavra ‘confia’ para me motivar”.
Roda de Samba no Bar do Gerson
Toda trajetória familiar é feita de momentos de dificuldade e superação. Um desses momentos foi compartilhado com o restante do mundo. A pandemia de Covid-19 foi cruel com toda humanidade e quem vive de aglomerações, como os trabalhadores de bares e restaurantes, sentiram o baque.
“Eu pensava que seria apenas mais um obstáculo pela frente, mas que, mesmo sendo muito difícil, eu ia honrar a memória não só do meu pai, mas também da tradição do negócio que construímos com todo amor”, detalha Gerson.
Em mais uma virada nessa história, em 2021, após superar a crise do Coronavírus, o bar pegou fogo. “Parecia que era para que eu largasse o bar de mão, mas com a força dos comerciantes e amigos, eu fiz as reformas necessárias, mesmo sendo imóvel preservado, cumpri as exigências legais para reabrir e continuo aqui. Essa história, eu tenho muito orgulho, pois além de comerciante sou morador do Centro da cidade, que é um lugar incrível, com preciosas histórias de tradição familiar e amizades que nos apoiam, como os amigos da Lapa que me ajudaram, e as minhas queridas galegas Fabiula e Izabel, que nunca me deixaram desistir do sonho que meu velho, como outros antigos comerciantes que sonharam para nós. Recentemente perdi minha mãe, mas continuo honrando o legado”, desabafou o comerciante.
O filho de Gerson, que leva o mesmo nome do pai e do avô, já ensaia alguns trabalhos no bar. Negócio familiar. “É um orgulho fazer parte da família dos comerciantes tradicionais do centro e ter o meu estabelecimento presente na história da região”, fecha o comerciante.
é o famoso pé-sujo, tradicional em tantos lugares do brasil e que, infelizmente, entrou em extinção desde os anos 70.