Wagner Victer: O mistério das bancas de jornais cariocas

O colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as transformações das bancas de jornais

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Bancas deixam o jornal de lado e passam a investir em entretenimento na Rua São José, bem próximo da Alerj, com direito a churrasco e karaokê frequentados até por deputados Foto: Daniel Martins/Diário do Rio

Sou de uma época em que as bancas de jornais pertenciam a imigrantes italianos, eram bastante tradicionais e onde você poderia comprar jornais, revistas e até dar uma olhada rápida nas notícias estampadas em um jornal na lateral da banca, especialmente as sangrentas do Jornal Última Hora e as esportivas no Jornal dos Sports, com seu tradicional tom rosa.

As revistas Manchete, Cruzeiro, os almanaques da Disney, especialmente o Tio Patinhas, os almanaques do TED e depois os gibis da Mônica que chegaram no início da década de 1970, são clássicos que todos gostavam de ler, sem falar nas figurinhas que eram compradas, trocadas ou disputadas no tradicional “bafo bafo”. Já as revistas do Carlos Zéfiro, com desenhos ousados, eram vendidas de forma clandestina, e aquelas com “Mulheres Nuas” vinham envoltas e seladas em plástico!

Atualmente, a leitura por meio digital é um fenômeno mundial. Teoricamente, esperaria-se que as bancas de jornais fossem progressivamente desmobilizadas e, infelizmente, deixassem de ser aqueles lugares simpáticos que tínhamos para interagir com esses amigáveis italianos. Nesse contexto, gostaria de prestar uma homenagem ao italiano jornaleiro Totó, que ficava na Estrada do Dendê, em frente à antiga Padaria do Seu Reis, ambos saudosos na convivência luso-italiana.

Contrariando essa tendência, o que estranhamente se vê na Cidade do Rio é uma proliferação imensa de bancas de jornais, que praticamente não vendem mais jornais e revistas, mas se transformaram em comércios de todo tipo, em alguns casos de caráter pouco regular, localizadas uma ao lado da outra.

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O mistério das bancas de jornais cariocas é algo a se decifrar. Como é possível autorizar novas bancas de jornais num movimento contrário ao avanço da leitura digital?

Recentemente, passei em frente à sede da CEDAE, na Avenida Presidente Vargas, que tive o prazer de construir quando fui presidente, e na calçada frontal à entrada, que deveria ser uma zona de escoamento de segurança para casos de pânico e incêndio, foi instalada uma banca de jornal, inclusive dificultando a própria visualização da sede. Ali também foi colocada uma bela estátua de Paulo de Frontin, com o claro, vergonhoso e nítido objetivo de funcionar como um outdoor.

Em uma conversa recente com o atuante vereador Pedro Duarte, ele me confidenciou que fez um levantamento e constatou que não havia autorização para novas bancas de jornais, mas que estas têm sido reposicionadas entre bairros. Ou seja, algum “ser influente” pega bancas de jornais em regiões de baixa visibilidade e consegue reautorizá-las para colocá-las em pontos de passagem na Zona Sul e em alguns outros locais, distorcendo sua função e transformando-as em outdoors, alguns até com displays luminosos.

Particularmente, não sou contra utilizar as fachadas e os espaços das bancas de jornais para aumentar a renda dos que trabalham ali, porém é fundamental que sejam realmente bancas de jornais e não apenas outdoors disfarçados de bancas de jornal, sem nada a vender ou até mesmo vendendo churrasquinhos ou bugigangas, competindo com o comércio formal.

Não acredito que esse segmento ainda esteja nas mãos dos antigos e simpáticos italianos ou de outros imigrantes, mas certamente esteja com alguém que conhece muito bem os meandros do reposicionamento e eventual venda e comercialização de espaços. Isso polui a visual da cidade, ocupa as calçadas e contribui muito pouco para a nossa economia local, o que é um elemento muito preocupante em relação à postura municipal e ao uso do solo.

Em diversos locais, como na Praia de Botafogo, é evidente! Inclusive, existem casos que conheço em que você não consegue caminhar devido ao grande número de bancas de jornais ou à má localização delas nas calçadas, como presenciei em frente a um shopping na Ilha do Governador. Aliás, se todas as bancas estivessem vendendo o que originalmente deveriam vender, certamente todas elas quebrariam devido à total falta de demanda, o que demonstra que o que acontece ali é uma maneira astuta de instalar mobiliários urbanos para divulgação de propaganda.

Nesse cenário confuso e misterioso, cabe aos poderes públicos municipais, como órgãos de controle e representantes do nosso parlamento municipal, discutirem abertamente esse assunto. Em um momento em que esperamos uma cidade mais adequada para o cidadão e não elementos que burlam o objetivo dessas tradicionais e históricas bancas, é necessário dar luz a esse tema e estabelecer uma melhor organização.

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22 COMENTÁRIOS

  1. Muitas bancas , poucos donos, “acordos” ora com funcionários da prefeitura ora com com milicianos. Um único dono com várias Bancas; Foi-se o tempo que o “dono” ficava de frente, hoje coloca empregado sem carteira assinada e só fica “gerenciando”. Discurso falso que Banca é coisa de “trabalhador” ( só é trabalhador o empregado da banca este sim é trabalhador.

  2. Ao leitor entenda: Opinião não é informação!
    Agora depois de ler a matéria, venha dar altas gargalhadas comigo.

    Citar um ou dois casos que julgue errado, coloca no mesmo balaio de gato todos os jornaleiros. (Percebeu que falei “julgue”, ou seja, não quer dizer que esteja certo.)
    Letreiros em LED esta previsto em Lei, assim como a utilização de antenas de telefonia (coloque mais essa no bolso, usaremos mais lá na frente)
    Claro que concorda com as propagandas. Vai contrariar possíveis empresas em anunciar no site? Jamais né!?
    Bancas de jornais não vendem bugigangas. Vendem produtos que o mercado atual busca. Muitas delas migradas das tecnologias existente hoje, como as fichas telefônicas, cartão telefônicos e hoje chip e recarga para celulares ou aplicativos diversos.
    Vamos começar nas gargalhadas
    Essa doeu a canela. “Não, Competir com o Comercio Forma”l? Oxi! somos informais? Eduardo Paes, pode devolver alguns impostos que temos pagos anualmente?
    Quer piorar essa frase? Vamos lá!
    Confesso que quando eu li isso, logo me veio aquele meme da Nazaré fazendo os cálculos.
    “Não Competir”? A anos temos vistos jornais e revistas sendo vendidas em Supermercados, Magazines, e até em Padarias, mais agora como somos nós é competição? Faz o seguinte pra aceitar o livre comercio e o não monopólio, vai numa farmácia e compra um chinelo havaianas e passa na frente de uma sapataria.

    Essa eu me preocupei: “Não acredito que esse segmento ainda esteja nas mãos dos antigos e simpáticos italianos ou de outros imigrantes, mas certamente esteja com alguém que conhece muito bem os meandros do reposicionamento e eventual venda e comercialização de espaços.”
    É xenofobia contra o próprio povo que se fala? Quero acreditar que não, que foi só o mal uso das palavras.

    A mudança de local também esta previsto em Lei e pode ser por vários motivos, entre eles atender ao interesse da sociedade.
    Mais pra voltarmos a sorrir nas gargalhadas, vou chamar a Nazaré novamente. Melhor, dessa vez será o Mussum.
    Banca de Jornais “ocupa as calçada”?
    Cumis? Devemos flutuar, plainar?

    As Bancas vendem o que a demanda atual de um comércio em constante mudança nos traz, como por exemplo os Jornais Pets, um produto novo que surgiu ao crescente aumento de pets em prédios residenciais.
    Não ter publicação em uma banca, não é culpa do jornaleiro, e por causa disso, não deve existir punição, mais sim, abrir conversas para que se discuta um novo modelo de comercio, permitindo que mesmo que não seja simpaticos italianos, ou sendo, que continue com seu negócio de anos.

    • Ok. Tudo bem vender a demanda atual. Faz parte da reinvenção do ramo, assim como a realocação.Mas banca não é pra ser ponto de aglomeração e sim ponto de passagem. Nesse contexto nada justifica a venda de bebida alccólica atrelada ao uso de cadeiras e mesas. Acho que o que precusa ser feito é dicutir o assunto, delimitar um certo limite pra essas não venham a se tornar, como há tem se tornado em alguns casos, verdadeiros quiosques. Quer usar a calçada, que pague mais. Banca não é lugar de parar, é lugar de passar. Outra coisa, que já cheguei a ver aqui no Centro do Rio mas quase sumiu foi quem transformasse suas bancas em lanchonetes. O ideal é que também haja uma legislação que facilite e estimule a reocupação de edificios e lojas abandonados ao invés de permitir que as bancas ocupem essas funções. Não vejo tanta essa tal de concorrencia desleal que ele diz. Vejo só bastante casos de desordem, bagunça mesmo, causados por bancas, mas, que fique bem claro, não são só elas e muito menos são todas elas.

  3. Wagner Victer um grande Administrador foi ele que tirou a Cedae do buraco , fez nascer o predio sede da Empresa ,moralizou todo o quadro funcional , e hoje faz muita falta.no Saneamento desse estado !

  4. Aqui em Madureira as bancas estão sendo usadas como barbearia, botecos e lojas de artigos para celulares (capas, cabos e fones). Tem até banca do Ovo. Mas o povo precisa trabalhar para manter os privilégio dos nossos deputados e vereadores.

  5. é preciso verificar individualmente os casos. Para quem está reclamando fe camelôs, várias bancas estavam ( ou estão) sendo utilizadas para guarda de material daqueles, e muitos jornaleiros “passaram o ponto” para pessoas que exploram essa atividade de depósito. Essa deslocamento de bancas também tem que ser combatido

  6. Recentemente vi acontecer ao contrário, havia uma banca de jornal fechada há tempos em frente ao meu prédio e quando ela foi reabrir eu passei feliz para conversar com o jornaleiro pois gosto de comprar coisinhas de banca de jornal, mas a minha alegria durou pouco, misteriosamente menos de 48 horas depois apareceu um caminhão e levou a banca de jornal. Aparentemente alguém do comércio da frente não gostou da concorrência e denunciou, para poder usar o espaço da banca de jornal para colocar mesas e cadeiras invadindo a calçada e tocar música alta até tarde da noite atrapalha do o sono dos moradores…. resultado, fiquei sem jornal e sem dormir.

    • Sim. Há casos e casos. Mas o que ele fala sobre o caso oposto e que acontece bastante aqui onde eu moro. São bancas de doces, biscoitos, bebidas. Algumas fazem questão de expor a geladeira que está repleta de cervejas e encondem a de bebidas não alcoólicas, no mais belo modelo de “banca boteco dos amigos”. Outras ainda por cima funcionam como tabacaria além das demais informações descritas acima.

  7. Senhores
    Deveriam prestar atenção na narrativa do
    Wagner, e prestarem atenção ao apelo
    As bancas atrapalham sim
    Vendem de tudo comida bebida apetrechos diversos sem estarem devidamente adequadas
    Vamos evoluir

    Preste atenção que o Wagner Victer,faz a narrativa como um saudosista,Deveriam ter mais respeito

  8. Não sei qual o seu interesse em falar sobre bancas de Jornal, quando o cidadão de bem trabalhador e assaltado na cidade inteira e o sr não se preocupa com isso.

  9. Falou, falou…e não deu nenhum motivo para os donos dessas bancas de jornal não continuarem trabalhando com dignidade se reinventando para continuarem a sustentar suas famílias e até gerar empregos.

  10. Se a sua preocupação fosse mesmo gerar renda ao municipio, atentaria para o fato de as bancas de jornais, ainda que necessitem vender outros artigos para atrair o publico, geram sim renda, pagam impostos, sustentam famílias e os outdoors ajudam a dar luz, cor e informação à cidade.
    Se fosse criado aos esforços de um jornaleiro, não postaria tema sobre o que não domina.
    O caso que lhe incomoda deveria ser “ajustado” na calçada, pra que o jornaleiro possa continuar sua luta, porque ele não ganha cargos comissionados, apenas trabalha!

  11. Está incomodado demais com bancas que deixaram de vender jornais e revistas por uma questão de mudança de hábito do usuário consumidor daqueles produtos e que para não encerrarem as atividades passaram a vender outras coisas, ainda assim, preferível num ambiente organizado enquanto ambulantes montam barraquinhas nas ruas atrapalhando pedestres.

    • Não há por que comprar essa briga. Tem que se ver caso a caso. O ambulante que fecha a calçada central da Uruguaiana ou que ocupa toda a calçada com uma barraca gigantesca tá totalmente no errro. Mas tem muito carroceira que fica na humildade, vendendo seus churros, sua pipoca, sua tapioca ou seu cachorro quente numa barraca pequena ou média. O que não pode é a barraca ser do tamanho da banca ou ficar colada na fachada. Lugar de barraca é na esquina, com a faixa de pedestre recuada, e de preferencia distante da banca e com ponto fixo determinado e licença. O mesmo para as bancas, que devem ocupar as esquinas principais, as calçadas mais largas. E sem essa de ter mesas, vender cerveja e outras bebidas alcoólicas e ainda por cima, ter TV passando jogo de futebol. Isso aí eu já ví e é cumulo do cumulo.

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