Wagner Victer: Tainha insulana, a picanha do mar

A retomada da inserção da tainha insulana é um pequeno desafio que pode ser saboroso e ainda proporcionar renda a pescadores

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Foto: Daniel Martins/Diário do Rio

Normalmente não valorizamos os produtos produzidos ao nosso entorno e, talvez, isso seja uma grande falha no planejamento voltado para o desenvolvimento, especialmente do emprego artesanal, e valorização da cultura local. Aliás, esses sentidos, como o de pertencimento, muitas vezes, são feitos pela gastronomia.

Recentemente estive participando de um evento na sede da Associação de Mulheres da Ilha do Governador (AMUIG), promovido pelo SEBRAE, e que buscava qualificar jovens para atividades pesqueiras, como também rever a cadeia logística da produção do pescado naquela região da Baia de Guanabara, para que chegue ao consumidor final onde logicamente o prioritário deve ser o próprio consumidor local.

Um dos depoimentos mais interessantes que recebi foi de um Presidente da Associação de Pesca, de Tubiacanga, que falou da grande quantidade de pesca da tainha que eles estavam obtendo na Baia de Guanabara. A tainha é um dos peixes mais nobres e saborosos que temos em nossa gastronomia, e poucas vezes é explorado por nós, do Rio de Janeiro capital.

Comentei com o presidente que na própria Ilha do Governador, onde existem diversas regiões pesqueiras, não me recordava de existir um local que servisse o tradicional prato da tainha assada recheada – que é uma grande iguaria encontrada em alguns lugares distantes da Capital, especialmente na região dos lagos.

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A tainha para aqueles que não conhecem é um peixe da família dos mugilídeos, que chega até os sete quilos, e que pode ser considerado “a picanha do mar”. Especialmente, a tainha é produzida na Baia de Guanabara e ao fundo da Baia de Guanabara. Tem um sabor muito interessante, pois elas são herbívoros e se alimentam de algas, detritos e zooplanctons.

O peixe tem uma carne branca, farta, rica em gorduras que favorece muito fazer assada. A carne da tainha é uma fonte importante de proteínas, rica em Vitamina D e em especial em Ômega 3, portanto, é extremamente saudável. A tainha ainda tem uma pequena parte que é escura, como se fosse a gordura de uma picanha, e a parte branca, que se solta, normalmente permite que seja saboreado por todos os comensais em um prato que servido em uma bandeja  e dividido aos talheres .

A tainha é consumida no sul do país e na Europa e faz parte da tradicional e saudável dieta mediterrânea. Conta-se a história que um dos principais pratos que existiam na gastronomia indígena, especialmente dos Timiminós e do seu lendário Cacique Araribóia, era tainha assada, já que era um peixe que existia em grande abundância no passado. Na realidade muitos não sabem, mas Araribóia, era originário da Ilha do Governador, e só foi para Niterói muito tempo depois da vitória, junto com os portugueses, que expulsaram os franceses.

A tainha insulana, ou a “picanha do mar”, é extremamente saborosa e ótima para aqueles que precisam fazer uma dieta saudável.

Dentro da linha de resgate acertada com o SEBRAE, nesse processo de ação piloto emblemática no conceito da “Economia do Mar”, ficou estabelecido que seriam buscados  grandes Chefs para treinar os cozinheiros locais. Quem sabe parceria com a Fecomercio, para tentar inserir essa denominação da “picanha do mar”, pelo menos junto aos restaurantes próximos aos locais de pesca. Ou seja, a tainha da Baía ou a tainha insulana como início da inserção desse peixe na  gastronomia do Rio de Janeiro já que poucos conhecem.

A carne da tainha na brasa, normalmente recheada com especiarias e até em outras receitas com farofa, e se torna uma iguaria maravilhosa, pois a pele se solta e é muito melhor do que muitos peixes importados pela presença de poucas espinhas pequenas. Essa picanha do mar tem um valor barato perante outros tipos de peixes, e como se diz, é disponível pela atividade da pesca artesanal por pescadores, especialmente, da Ilha do Governador e de toda baia de guanabara – onde ainda ao seu fundo existem rios e manguezais onde as tainhas se reproduzem , e pode ter um espaço muito importante e valorizado.

Um bom exemplo de valorização, como começamos há muitos anos, em 1999, que participei com o então Secretário de Agricultura, Christhino Aureo, quando através do Chef Paolo Neroni, do renomado Margutta, conseguimos incluir a tilápia, até então chamada de Saint Peter, na gastronomia através dos festivais realizados em Piraí, produto do pescado em cativeiro e com isso hoje a tilápia é um tipo de peixe consagrado em nosso cardápio.                         

A retomada da inserção da tainha insulana nossa Picanha do Mar é um pequeno desafio que pode ser saboroso e ainda proporcionar renda a pescadores.

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1 COMENTÁRIO

  1. Entendo necessária parceria com centro(s) de pesquisa / universidade(s), no sentido de esclarecer quanto à contaminação da tainha da Baía de Guanabara. Ao longo de anos, tenho ouvido, como justificativa para o não consumo do pescado, a poluição das águas locais.

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