William Bittar: A devoção a São Francisco Xavier e sua única paróquia no Rio de Janeiro

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o famoso padre espanhol, que tem seu dia celebrado neste domingo (03)

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Paróquia São Francisco Xavier, na Tijuca - Foto: Reprodução

O dia 03 de dezembro, no calendário da liturgia católica, é dedicado a São Francisco Xavier, padre espanhol fundador da Companhia de Jesus, em agosto de 1534, junto com Inácio de Loyola.

A Igreja Católica considera que Francisco Xavier, nascido Francisco de Jasso Azpilicueta Atondo y Aznáres, foi responsável pela conversão de inúmeras pessoas ao Cristianismo em seu trabalho missionário na Índia, Malásia, Indonésia e Japão, recebendo a alcunha de ”Apóstolo do Oriente”.

No Brasil, a capela que deu origem à paróquia de São Francisco Xavier provavelmente foi implantada por solicitação do Governador-Geral, Mem de Sá, ao padre Jesuíta José de Anchieta, em 1567, na fazenda e engenho ocupadas pelos religiosos até sua expulsão do Brasil, em 1759, região que ficou conhecida como Engenho Velho.

Advertisement

Certamente, após a canonização de Francisco Xavier em 1622 pelo Papa Gregório XV, o Santo tornou-se o orago daquele pequeno templo.

Com a expansão dos limites da cidade do Rio de Janeiro, foram criadas outras paróquias para atender à população das novas freguesias. Em 22 de novembro de 1795, aquela ermida foi elevada à Paróquia Perpétua, a primeira da Tijuca e do Vicariato Norte, centralizando a vida religiosa de uma grande região por quase um século e até hoje é a única paróquia dedicada ao santo na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1805 o edifício se encontrava em ruínas e os paroquianos se reuniram para construção de um novo templo, concluído em 1815, quando a Família Real já estava no Brasil, residindo no bairro de São Cristóvão, não muito distante dali. Dessa obra restaram a fachada de concepção neoclássica, simétrica, arrematada por um frontão triangular central, ladeado por duas torres sineiras coroadas por elementos bulbosos revestidos de cerâmica colorida, com influência oriental.

Considerando a importância do templo como elemento central da ocupação e desenvolvimento da região, a igreja passou por diversas reformas e intervenções até o século XX quando, entre 1908 e 1914, foi ampliada pelo vigário Antônio Pinto. Em 1928, durante a gestão do Monsenhor MacDowell, ocorreram novas obras que conferiram ao edifício sua aparência atual.

Os registros indicam que, em 1960, a antiga cúpula ruiu e foi reconstruída com o mesmo partido, configurando um interior despojado e com alto pé-direito definido por uma abóbada de berço com ornatos em caixotões. Em 2003, o conjunto foi tombado como patrimônio municipal, principalmente pelo seu valor histórico, como marco cultural da região tijucana e adjacências.

Durante as escavações para o metrô do Rio também foram identificadas trincas e fissuras no edifício, problemas aparentemente sanados ainda durante a construção.

Entre as muitas histórias das obras no edifício, consta a declaração do Duque de Caxias, paroquiano morador das proximidades, que recusou uma homenagem pela campanha no Paraguai, em 1869, trocando-a por contribuições para reconstrução da igreja: ”Quando a Casa de Deus está em ruínas, o soldado não recebe festas. Ide reconstruir a Igreja de minha freguesia do Engenho Velho”.

É possível que o renque de palmeiras tenha sido implantado nesse período, sobre um antigo cemitério local, pois gradativamente o Império determinava a criação de necrópoles extramuros fora dos limites da cidade e a iconografia mais antiga não indica a presença desses elementos vegetais que enriquecem a ambiência do conjunto.

Pela sua importância, o templo abriga pelo menos três peças de inestimável valor artístico e religioso: a relíquia de São Francisco Xavier, fragmento ósseo de um braço do santo, doada pelo Papa Pio XI em 1931, quando a igreja foi agregada à Basílica de São João Latrão, em Roma, Igreja Mãe ecumênica; uma imagem europeia de Nossa Senhora das Dores, ofertada em 1880 pela Imperatriz D. Teresa Cristina, Primeira Provedora da Devoção das Sete Dores da Santíssima Virgem, fundada por ela e uma pia batismal trazida pelos jesuítas em 1627, considerada a mais antiga em utilização na cidade.

Apresentando as palavras de Anchieta e de Caxias em sua fachada principal, a paróquia de São Francisco Xavier, a única do Rio dedicada ao Santo, é uma referência da cidade, do bairro e da presença dos jesuítas na ocupação do território carioca, mantendo viva diversas tradições como a celebração do Corpus Christi e seus tapetes de sal.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp William Bittar: A devoção a São Francisco Xavier e sua única paróquia no Rio de Janeiro
Avatar photo
Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.
Advertisement

1 COMENTÁRIO

  1. Mais um artigo incrível! Faz um ano daquela linda sobre Santa Bárbara também que me marcou muito!
    Agora vou ter que visitar novamente a Igreja de São Francisco Xavier com outros olhos, acho que só fui uma vez! ??
    Um grande abraço, professor!

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui