O dia 03 de dezembro, no calendário da liturgia católica, é dedicado a São Francisco Xavier, padre espanhol fundador da Companhia de Jesus, em agosto de 1534, junto com Inácio de Loyola.
A Igreja Católica considera que Francisco Xavier, nascido Francisco de Jasso Azpilicueta Atondo y Aznáres, foi responsável pela conversão de inúmeras pessoas ao Cristianismo em seu trabalho missionário na Índia, Malásia, Indonésia e Japão, recebendo a alcunha de ”Apóstolo do Oriente”.
No Brasil, a capela que deu origem à paróquia de São Francisco Xavier provavelmente foi implantada por solicitação do Governador-Geral, Mem de Sá, ao padre Jesuíta José de Anchieta, em 1567, na fazenda e engenho ocupadas pelos religiosos até sua expulsão do Brasil, em 1759, região que ficou conhecida como Engenho Velho.
Certamente, após a canonização de Francisco Xavier em 1622 pelo Papa Gregório XV, o Santo tornou-se o orago daquele pequeno templo.
Com a expansão dos limites da cidade do Rio de Janeiro, foram criadas outras paróquias para atender à população das novas freguesias. Em 22 de novembro de 1795, aquela ermida foi elevada à Paróquia Perpétua, a primeira da Tijuca e do Vicariato Norte, centralizando a vida religiosa de uma grande região por quase um século e até hoje é a única paróquia dedicada ao santo na cidade do Rio de Janeiro.
Em 1805 o edifício se encontrava em ruínas e os paroquianos se reuniram para construção de um novo templo, concluído em 1815, quando a Família Real já estava no Brasil, residindo no bairro de São Cristóvão, não muito distante dali. Dessa obra restaram a fachada de concepção neoclássica, simétrica, arrematada por um frontão triangular central, ladeado por duas torres sineiras coroadas por elementos bulbosos revestidos de cerâmica colorida, com influência oriental.
Considerando a importância do templo como elemento central da ocupação e desenvolvimento da região, a igreja passou por diversas reformas e intervenções até o século XX quando, entre 1908 e 1914, foi ampliada pelo vigário Antônio Pinto. Em 1928, durante a gestão do Monsenhor MacDowell, ocorreram novas obras que conferiram ao edifício sua aparência atual.
Os registros indicam que, em 1960, a antiga cúpula ruiu e foi reconstruída com o mesmo partido, configurando um interior despojado e com alto pé-direito definido por uma abóbada de berço com ornatos em caixotões. Em 2003, o conjunto foi tombado como patrimônio municipal, principalmente pelo seu valor histórico, como marco cultural da região tijucana e adjacências.
Durante as escavações para o metrô do Rio também foram identificadas trincas e fissuras no edifício, problemas aparentemente sanados ainda durante a construção.
Entre as muitas histórias das obras no edifício, consta a declaração do Duque de Caxias, paroquiano morador das proximidades, que recusou uma homenagem pela campanha no Paraguai, em 1869, trocando-a por contribuições para reconstrução da igreja: ”Quando a Casa de Deus está em ruínas, o soldado não recebe festas. Ide reconstruir a Igreja de minha freguesia do Engenho Velho”.
É possível que o renque de palmeiras tenha sido implantado nesse período, sobre um antigo cemitério local, pois gradativamente o Império determinava a criação de necrópoles extramuros fora dos limites da cidade e a iconografia mais antiga não indica a presença desses elementos vegetais que enriquecem a ambiência do conjunto.
Pela sua importância, o templo abriga pelo menos três peças de inestimável valor artístico e religioso: a relíquia de São Francisco Xavier, fragmento ósseo de um braço do santo, doada pelo Papa Pio XI em 1931, quando a igreja foi agregada à Basílica de São João Latrão, em Roma, Igreja Mãe ecumênica; uma imagem europeia de Nossa Senhora das Dores, ofertada em 1880 pela Imperatriz D. Teresa Cristina, Primeira Provedora da Devoção das Sete Dores da Santíssima Virgem, fundada por ela e uma pia batismal trazida pelos jesuítas em 1627, considerada a mais antiga em utilização na cidade.
Apresentando as palavras de Anchieta e de Caxias em sua fachada principal, a paróquia de São Francisco Xavier, a única do Rio dedicada ao Santo, é uma referência da cidade, do bairro e da presença dos jesuítas na ocupação do território carioca, mantendo viva diversas tradições como a celebração do Corpus Christi e seus tapetes de sal.
Mais um artigo incrível! Faz um ano daquela linda sobre Santa Bárbara também que me marcou muito!
Agora vou ter que visitar novamente a Igreja de São Francisco Xavier com outros olhos, acho que só fui uma vez! ??
Um grande abraço, professor!