William Bittar: Dia do Silêncio

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o Dia Mundial do Silêncio, celebrado neste domingo (07/05)

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Torna-se cada vez mais necessário e urgente fazer muito barulho para exaltar o Dia Mundial do Silêncio, 07 de maio, eleito pela Organização Mundial da Saúde.

A data existe para conscientizar sobre os gravíssimos problemas causados pelo ruído excessivo, comprometendo saúde física e mental de toda população.

Nos antigos bancos da faculdade, nos idos de setenta, nosso professor de Acústica nos dizia que a diferença entre som e ruído dependia de quem produzia e de quem ouvia… Tratava-se de um jocoso comentário, pois naquela ocasião já existiam estudos consistentes afirmando que uma exposição sonora acima de 85 decibéis já provoca riscos à audição humana.

Como referência, uma britadeira produz cerca de 100 dB, dependendo de sua distância ao ouvido, enquanto uma conversa normal registra cerca de 50 dB. Certamente os ruídos urbanos cotidianos ultrapassam valores toleráveis, lesionando pouco a pouco nossa audição.

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Especialistas advertem que algumas células do aparelho auditivo não são passíveis de regeneração, caso danificadas, podendo causar riscos permanentes. É possível supor que estamos ensurdecendo diariamente e contribuindo para tal dano, aumentando até mesmo a altura de nossa voz.

A cidade do Rio de Janeiro, conta com uma legislação que pretende controlar os altos níveis de ruído, mas não exerce seu poder de sanção por motivos diversos, entre eles a falta de um efetivo capacitado para exercer uma fiscalização tão específica ou algum tipo de benevolência com infratores.

Em 2018, em matéria de Quintino Gomes, o Diário do Rio abordava a aprovação da lei de combate à poluição sonora no Rio de Janeiro. Em abril de 2022, a prefeitura publicou um decreto proibindo a utilização de caixas de som ou qualquer tipo de equipamento que provocasse poluição sonora nas praias cariocas. Na prática, pouco foi efetivamente realizado e a cidade se insere entre as mais barulhentas do Brasil.

Entre outras causas, o excesso de barulho é decorrente da falta de civilidade ou educação. Geralmente quem o produz, em qualquer hora ou lugar, quando interpelado, considera intolerância do outro.

Por isso por diversos bairros, em todos os horários, inclusive noturno, ecoam os paredões do funk, as caixas de som dos pagodes ao vivo nos bares, os ensaios de blocos e escolas de samba, os carros da pamonha, dos ovos, dos pães, além dos ruídos individuais daqueles que pretendem expor e impor seus próprios gostos musicais para toda vizinhança.

Acrescente-se os escapamentos abertos, principalmente de algumas motocicletas e caminhões, buzinas incessantes e veículos que se tornam bailes ambulantes, invadindo os ouvidos daqueles pedestres ou motoristas que, compulsoriamente, param em seu nefasto raio barulhento de ação.

Até mesmo em alguns restaurantes, os revestimentos inadequados das paredes reverberam as conversas, transformando os ambientes em alaridos desconexos.

Se o ruído de fundo é cada vez mais alto, aumentamos o som de nossas conversas, inclusive nos aparelhos celulares, nos quais muitos falam aos berros, tornando públicas até mesmo conversas pretensamente restritas.

Nem percebemos os danos causados pela poluição sonora cotidiana e a necessidade de momentos de silêncio para todos os seres viventes.

Ouvir o silêncio traz sons ancestrais que desacostumamos, pois nossos ouvidos cansados, por vezes lesionados, desaprenderam o som de muitos sons, assim como nossas narinas, comprometidas pela poluição atmosférica diária, esqueceram os cheiros de muitos olfatos.

Tudo isso era previsível, mas ainda não queremos ver, ouvir e cheirar ou simplesmente desaprendemos…

“Pessoas falando sem dizer nada, pessoas ouvindo sem nada escutar, pessoas escrevendo canções que vozes nunca compartilharão, porque ninguém ousou perturbar o som do silêncio”, como na canção de Simon e Garfunkel, nesta livre tradução.

Pelo menos um minuto de quietude no dia 7 de maio, DIA MUNDIAL DO SILÊNCIO, pois a mesma canção lembra que “as palavras, como gotas silenciosas da chuva que cai, ecoam nos poços do silêncio”.

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.
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2 COMENTÁRIOS

  1. Residi em prédio de apartamentos ao lado de um terreno comprado por uma Instituição religiosa que rapidamente levantou uma escola e a vida passou a ser um inferno o dia todo – afinal, tem certas religiões que o pessoal adora um microfone e falar aos berros – imagina uma escola com essa gente toda, na entrada e na saída de turno, também em intervalos de recreação além de atividade física, professores e inspetores gritando ao microfone. Foi uma tortura…

  2. A Lei do Silêncio, dirigida para quem interessa não exatamente significa que seja promovida ausência completa de som à noite.

    Na matéria foi citado o nível de uma britadeira em 100 db

    A norma técnica que complementa a Lei do Silêncio é aquela da ABNT, e segundo o documento o nível à noite não pode ultrapassar 50 db

    https://portalacustica.info/nbr-15575-desempenho-acustico/

    Mas também ao dia deve haver preocupação com a acústica. Hoje as regiões residenciais em sua maioria não são exclusivamente residenciais, e sim mistas. Estabelecimentos comerciais abusam muitas vezes. Academias e Escolas, além de bares e eventos externos.

    As edificações precisam ser construídas considerando o conforto acústico e impacto na vizinhança. Aliás, exige-se estudo prévio de impacto e vizinhança… é cumprido este item?

    Considerando especialmente residenciais com dormitórios próximos deve-se adequar o projeto de modo a dotar de tratamento acústico os estabelecimentos comerciais.

    Não adianta colocar projeto de alvenaria fajuta e vidros e esquadrias simples.

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