Na última sexta-feira, dia 04 de agosto, às vésperas do 68º aniversário da morte de Maria do Carmo Miranda da Cunha, a Fundação Anita Mantuano de Artes do Rio de Janeiro (FUNARJ), reabriu ao público o Museu Carmem Miranda, localizado na Avenida Rui Barbosa, s/n, Flamengo, após dez anos fechado.
Ainda que permaneçam muitas polêmicas sobre a carreira da cantora e atriz, principalmente devido à sua permanência nos Estados Unidos, é fato que Carmem Miranda foi responsável pela divulgação da música brasileira no exterior, provocando grandes modificações no gosto do público por um novo gênero que incluía o samba, antes relegado a camadas mais pobres da população.
Carmem Miranda efetivamente criou um personagem que a acompanhou até sua morte, com suas vestes estravagantes, grandes saltos nas sandálias, barriga à mostra e os insuperáveis turbantes coloridos, inspiradores de outros movimentos artísticos de vanguarda, como o Tropicalismo.
O Museu Carmem Miranda foi criado em 1956, pelo decreto nº 886, do prefeito do antigo Distrito Federal, Francisco Negrão de Lima, promovendo algumas exposições itinerantes com o acervo da cantora, doado pela família, através de sua irmã e parceira de palco Aurora Miranda.
A instituição ganhou uma casa definitiva em 05 de agosto de 1976, após vinte anos de sua criação, em uma edificação adaptada pelo arquiteto Ulisses Burlamaqui, atendendo à direção da FEMURJ, Professora Neusa Fernandes.
O projeto de recuperação do bem tombado pelo IPHAN, por integrar o conjunto do Parque do Flamengo, foi devidamente autorizado pelo órgão de proteção. Burlamaqui propôs a retirada de pisos diferentes do original e recuperou as características principais das paredes, jardim interno, aberturas, além da concepção do espaço expositivo.
O Jornal do Brasil daquele dia noticiava sua inauguração revelando que “depois de guardado em 11 malas durante 20 anos, o acervo de Carmem Miranda ganha status de museu a partir de hoje, instalado no antigo banheiro público para crianças, projetado por Reidy, na planta original do Aterro do Flamengo”, que já abrigara o Museu de Artes de Tradições Populares, transferido para o Palácio do Ingá, em Niterói.
Originalmente, aquele equipamento idealizado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, um dos grandes mestres da arquitetura moderna nacional, abrigava um pavilhão para o playground do Morro da Viúva, agregado ao espaço destinado às crianças, conforme a revista Módulo nª 37, de 1964.
O edifício apresentava planta circular, com 22 metros de diâmetro, com pátio interno que facilitava a ventilação e iluminação. A concepção original contava com salão-anfiteatro, sala para recreadoras, atendimento de emergência, pequena copa, vestiário, depósitos e sanitários.
Sua fachada era composta pela própria estrutura de concreto aparente, em dobraduras para promover sustentação, com balanços variáveis e acesso realizado por duas portas basculantes que, abertas, criavam marquises e marcação das portas.
Ainda que com pequenas dimensões, a obra revelava a capacidade do arquiteto em resolver questões integradas do projeto, com ótimas soluções espaciais.
A inauguração do museu, em 1976, foi amplamente noticiada pela imprensa, contando com a presença do governador do Estado do Rio de Janeiro, pois já ocorrera a fusão, além de outros contemporâneos da cantora, como os compositores Almirante, Herivelto Martins e Sinval Silva e sua irmã, Aurora.
Ao som de Taí, a fita foi cortada e o acervo apresentava ao público as primeiras roupas e turbantes de Carmen, ainda desenhados por ela, parte daqueles quase três mil itens, incluindo farto acervo fotográfico de sua trajetória.
No entanto, na prática, tornou-se mais um equipamento cultural pouco conhecido na cidade e o reduzido interesse acabou por definir seu fechamento por quase uma década. Sua recente reabertura, com novas atrações e iniciativas para um público mais diversificado, talvez atenda ao desejo de Carmem expressa em uma de suas músicas mais famosas: “Eu fiz tudo pra você gostar de mim!’