Em 22 de novembro de 1573, o chefe indígena Araribóia, depois batizado de Martim Afonso, fundou uma aldeia na região de São Lourenço, iniciando a ocupação da região que seria denominada Niterói.
Desde janeiro de 1502, uma expedição exploradora da costa, comandada por Gaspar de Lemos, deparara-se com um curioso estuário guarnecido por uma grande pedra.
Aquela “lagoa” era denominada pelos povos originários de Guanabara, cuja denominação a tradição associa ao tupi guaná-pará, que indica um romântico topônimo: seio do mar.
Às suas margens seria implantada uma povoação francesa, em 1555. Dez anos após, portugueses fundariam uma cidade junto à entrada da barra: São Sebastião do Rio de Janeiro, iniciativa fundamental para expulsão dos invasores, que aconteceu em 1567.
Um ano após, garantindo a ocupação das regiões reconquistadas, o Governador Geral Mem de Sá ofereceu ao temiminó Araribóia uma grande extensão de terras, que correspondiam ao futuro território de Niterói.
Considerando sua posição estratégica junto à entrada da baía da Guanabara, Niterói desenvolveu, em conjunto com o Rio de Janeiro, um sistema de fortificações dificultando invasões estrangeiras por mar, destacando-se a Fortaleza de Santa Cruz, além de outros fortes menores.
Aquela povoação foi elevada à categoria de Vila em 1817, após a chegada da família Real ao Brasil, com sede em São Domingos, pois o rei D. João hospedava-se naquele local, em um casarão doado ao reino.
Dois anos depois, procurando uma área que possibilitasse sua expansão, a sede foi transferida, tornando-se a Vila Real da Praia Grande, em 1819.
Em 1834, quando a cidade do Rio de Janeiro tornou-se município neutro, a Vila Real da Praia Grande foi elevada à capital da província e, no ano seguinte, passou a ser denominada de Nictheroy.
Conta a tradição que este nome tem origem no tupi, significando “águas escondidas”, provavelmente uma referência à quantidade de nascentes ocultas, responsáveis pelo abastecimento dos tamoios que ali se estabeleceram ou mesmo denominando as pequenas enseadas naquele recortado litoral da baía.
Tornada capital, aumentou a importância política da cidade, implicando nas construção de edificações públicas. Novas ruas foram abertas, abrigando estabelecimentos comerciais, religiosos e residências.
Em 1835, para permitir uma ligação periódica com a Corte, foi implantada a Companhia de Navegação de Nictheroy, com suas barcas a vapor. Em 1862, a Companhia Ferry trouxe embarcações mais confortáveis.
A República trouxe, na primeira década do século XX, um projeto de urbanização para a cidade, inicialmente pavimentando a Alameda São Boaventura, no Fonseca e a Praia de Icaraí, onde implantou-se um parque, o Campo de São Bento.
Algumas décadas depois, em 1942, conclui-se a abertura da avenida Ernani do Amaral Peixoto, diante do terminal das barcas, reproduzindo alguns princípios do Plano Agache, para o Distrito Federal, aplicados no centro da Capital.
Em 1956 foi inaugurada a estação hidroviária de Niterói, oferecendo melhorias nas condições de transporte pela baía da Guanabara. No entanto, devido aos péssimos serviços prestados, a população promoveu uma revolta que levou ao incêndio da estação, em 1959.
Em 17 de dezembro de 1961, a cidade foi cenário de uma das maiores tragédias urbanas em território nacional: o incêndio criminoso do Gran Circus Norte-Americano, montado na Praça do Expedicionário, que provocou a morte de 500 pessoas e mais de 800 feridos.
A década de 1960 também assistiu à criação da Avenida do Contorno, melhorando a ligação entre Niterói e São Gonçalo.
Em 1974, foi inaugurada a Ponte Rio-Niterói, que provocou significativas modificações no cenário político e cultural da cidade, pois no ano seguinte, ocorreu a fusão entre o antigo estado da Guanabara e o estado do Rio de Janeiro. Niterói perdeu o fórum de capital, passando a integrar a região metropolitana, com sede na cidade do Rio de Janeiro, mas permaneceu com a tradição de cenário para uma arquitetura de qualidade, presente desde os tempos de sua fundação.
Na década de 1990, Oscar Niemeyer foi convidado pela Prefeitura para projetar o Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC, inicialmente destinado ao acervo do colecionador João Sattamini, inaugurado em 1996.
Em 2002, surgia a iniciativa para criação do Caminho Niemeyer, um conjunto de equipamentos culturais e religiosos distribuídos pelos bairros litorâneos da cidade, numa extensão de onze quilômetros, desde a região central até o terminal hidroviário de Charitas, um dos maiores conjuntos de obras produzidas pelo arquiteto.
Alguns outros edifícios podem ser considerados marcos na produção da arquitetura nacional, como as coloniais igrejas de São Lourenço e São Francisco Xavier. Na arquitetura religiosa, merece destaque o projeto contemporâneo para a Igreja de São Judas Tadeu, que utiliza as vantagens do concreto armado em sua volumetria.
A arquitetura residencial colonial está dignamente representada pelo casarão setecentista na praia de Charitas, que abrigou atividades diversas após seu uso original, incluindo espaços expositivos e uma discoteca. Seu partido corresponde à Casa do Bispo, na Avenida Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, provavelmente ambas projetadas por um dos mais importantes engenheiros no Brasil-Colônia: Pinto Alpoim
A região central abriga o antigo edifício dos Correios, representante do Ecletismo com influência francesa presentes em suas coberturas simétricas.
O Instituto Vital Brasil, além de sua importância para a produção científica nacional e internacional, se destaca por sua arquitetura moderna, com blocos geométricos apoiados sobre pilotis, segundo inventário desenvolvido pelo Grupo de Estudos Arquitetura Moderna em Niterói – UniLassale, coordenado pela Professora Arquiteta Elisabete Reis.
Seguindo para região litorânea, como São Francisco, muitas residências de matriz moderna podem ser observadas. Em Itacoatiara, por exemplo, uma casa se apresenta como um notável exemplar da arquitetura moderna brasileira, implantada em centro de terreno, com formas horizontais geométricas, panos de vidro e um painel de pastilhas que dialoga com o conjunto de forma harmoniosa.
Niterói também apresenta uma natureza exuberante que, eventualmente, consegue dialogar com a malha construída. São praias, mirantes, algumas praças e exemplares arquitetônicos que abrigaram artistas, como Antônio Parreiras, intelectuais, como Oliveira Vianna, ou aqueles que buscavam morar com conforto, como a casa Norival de Freitas, ou afastado do movimento de uma cidade que crescia, como os ocupantes do Solar do Jambeiro.
Talvez por suas dimensões ou resistência e orgulho de seus moradores, Niterói conseguiu preservar, em alguns recantos, fragmentos de sua ocupação original: a presença dos povos nativos na culinária e toponímia, além de sua associação direta a Araribóia; os religiosos construindo seus templos e ocupando sítios; o branco europeu, com suas naus e fazendas, incluindo a nobreza joanina no século XIX; a influência africana, conhecida desde o período colonial, porém apartada da história oficial, como o Quilombo do Grotão, no Engenho do Mato, traços presentes nos logradouros, arquitetura, cotidiano, gerando um apelido carinhoso que a cidade ostenta com merecimento: Cidade Sorriso!
Parabéns pelos seus 450 anos!