William Bittar: Três fundações de uma cidade

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o aniversário do Rio de Janeiro

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Entrada da Baía da Guanabara, Richard Bate, sec. XIX

Era uma vez, há 522 anos, uma expedição exploradora lusa conduzida pelo navegador Gaspar de Lemos.

Lemos comandara uma nau durante a viagem de Cabral àquela Terra de Santa Cruz, em 1500. Regressou a Lisboa e de lá partiu em maio de 1501 para promover o reconhecimento daquele misterioso território, navegando desde o litoral nordeste, fundando feitorias, definindo topônimos que se consolidaram como a Baía de Todos os Santos, Angra dos Reis, São Vicente, quase sempre associados aos santos celebrados naqueles dias.

Em 1º de janeiro de 1502, Lemos deparou-se com uma enseada, que foi batizada como Rio de Janeiro, gerando diversas interpretações, como aquelas que incluem uma identificação equivocada da baía da Guanabara. Considerando a experiência do comandante, seria pouco provável tal erro. Durante os séculos XV e XVI era usual a utilização do termo ria, em cartas náuticas, para um delta, definindo a origem do nome que viria a batizar a futura cidade.

Provavelmente foi implantado algum tipo de feitoria naquela região, responsável pela extração de madeira que abastecia os navios portugueses, mas também era explorada por franceses, atividade considerada ilegal.

Para consolidar sua presença, em 1º de novembro de 1555, Nicolas Durand de Villegagnon, cavaleiro da Ordem de Malta e oficial naval, fundou a França Antártica, na ilha de Serigipe (depois Villegagnon, onde funciona a Escola Naval) colônia estratégica para comércio e para futura ocupação.

A futura cidade assistia à sua segunda fundação, enquanto os franceses estabeleciam aliança como os tupinambás, fundamental para sua permanência na região.

Muitas notícias corriam na Europa sobre as reais intenções daqueles considerados invasores: exploração do pau-brasil, interceptação das rotas comerciais e até mesmo a implantação de uma colônia protestante, num momento de grande conflito religioso. A Coroa portuguesa não tardou a revidar, estabelecendo aliança como os temiminós, com intercessão de José de Anchieta.

Em 1560 lograram sua primeira grande vitória, causando perdas significativas ao inimigo que, com a ausência de Villegagnon, precisava se recompor, mas não se retiraram da região.

Em 1565, sob comando de Estácio de Sá, tropas portuguesas se estabeleceram numa pequena praia aos pés do Pão de Açúcar e no dia 1º de março daquele ano houve a terceira fundação da agora cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que ali permaneceu por dois anos, até 1567, quando foi transferida para o alto do Morro do Castelo, depois da expulsão definitiva dos franceses, sob a proteção do padroeiro.

Dessa forma, entre mares, naus, portugueses, franceses, povos indígenas e uma paisagem exuberante, recortada por montanhas de curiosas silhuetas que debruçam sobre o seio do mar, surgia uma vila que já nasceu cidade, com suas três fundações.

Parabéns, Rio de Janeiro, jovem senhora de 458 anos, indígena, francesa, lusitana e principalmente, CARIOCA.

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Baía da Guanabara, c. 1565 – Biblioteca da Ajuda, Lisboa

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.

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