A cultura e o lazer são direitos de todos. Segundo a Constituição Federal, cultura e lazer são direitos fundamentais de todos os cidadãos e devem ser garantidos e incentivados pelo poder público. No entanto, não é o que vimos na prática. Atividades com este intuito são vistas como algo além das necessidades básicas e, por isso, jogadas para segundo plano. Trata-se de um grande erro, que acaba transformando o acesso à cultura e ao lazer em mais um privilégio da população mais rica.
Por isso, pergunto: qual foi a última vez que você foi ao teatro, a um museu ou centro cultural? Se faz muito tempo, por quê? Talvez você me responda que os ingressos estão muito caros ou que está sem tempo, mas muitos desses locais têm entrada gratuita e funcionam aos finais de semana e feriados. Agora, se você mora na Zona Oeste, sabe que não é fácil chegar na maioria desses espaços – e que isso, sim, é um grande obstáculo. O Rio de Janeiro tem grande riqueza cultural, assim como locais ao ar livre dedicados ao lazer e à prática de esportes. Porém, quem conhece a realidade das regiões que estão fora do circuito Centro-Zona Sul-Barra da Tijuca, sabe que o acesso a eles não é pensado para todos.
Nosso mandato apurou que, em relação ao restante da cidade, a Área de Planejamento 5 possui menos equipamentos de cultura e lazer em seu território. Existem quatro museus municipais no Centro e na Zona Sul, e apenas um em toda a AP5[1].. Quando falamos em teatro, a desigualdade permanece: em uma pesquisa pelos teatros em funcionamento no município, encontramos menções a, pelo menos, 16 espetáculos em cartaz [2] neste mês na Zona Sul e no Centro, mas nenhum na Área de Planejamento 5. Se existem teatros no nosso território, com destaque para o Arthur Azevedo, em Campo Grande, resta a dúvida sobre a razão deles não serem tão utilizados.
Dos equipamentos da região, é fundamental citar as Lonas Culturais e Areninhas, que infelizmente não alcançam todos os seus potenciais pela falta de investimento público. As Lonas de Campo Grande e de Santa Cruz, por exemplo, estão com graves problemas de manutenção e infraestrutura, sendo que esta última está bastante degradada devido à situação de abandono. Para piorar, perdemos o Planetário, que funcionava na Cidade das Crianças, em Santa Cruz, um importante equipamento que atendia à população de toda a AP5. Agora, infelizmente, a extensa rede municipal só possui o Planetário da Gávea como opção, que acumula a demanda da cidade inteira e é muito distante da Zona Oeste. Precisamos de mais equipamentos de cultura e lazer na região, de cuidados na manutenção dos já existentes e de mais investimentos para que não se corra o risco de ver esses poucos espaços culturais fechados ou subutilizados.
Diante da realidade apresentada, quando falamos de acesso à cultura e ao lazer é impossível não falar de mobilidade urbana. Além de mais equipamentos de cultura e lazer na Zona Oeste, a população da região tem de ser capaz de frequentar museus, centros culturais e parques de outras partes da cidade sem sacrifício. Para tal, é fundamental que o sistema de transporte público funcione de forma eficiente todos os dias, inclusive nos finais de semana e feriados. O trabalhador merece isso em seu momento livre. Mas se o serviço de transporte mal atende como deveria nos dias úteis, o que dirá fora deles. Essa é mais uma forma cruel de negar mais um direito aos trabalhadores, que só têm a ajuda do estado para se deslocar para as regiões mais ricas da cidade quando é para servir de mão de obra.
O poder público precisa possibilitar e incentivar também a cultura e o lazer. As crianças devem ser motivadas desde cedo a frequentar o cinema, o teatro, o museu e a cumprirem atividades importantes para sua formação. Os passeios de escola a esse tipo de equipamento, por exemplo, oferecem a chance de se conectar ao que é tratado em sala de aula, ajudando a fixar o conhecimento. Apresentar ainda mais informações através da experiência é sempre muito enriquecedora. Também são necessários incentivos para que os adultos tenham acesso a esses locais, que muitas vezes oferecem atrações gratuitas.
Se queremos uma cidade verdadeiramente justa e menos desigual, precisamos incluir a cultura e o lazer na equação. Se é direito, não podemos normalizar que apenas alguns tenham tempo livre de qualidade. É urgente que isso mude, o que depende de uma boa distribuição desses equipamentos pela cidade e da melhoria da mobilidade urbana. Seguiremos lutando para que todos, independente de classe social e local de moradia, tenham acesso à cultura e ao lazer. Isso não é luxo!
*Informações retiradas da página da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
*Informações retiradas dos sites de O Globo e Veja Rio.
Compartilho muito desta visão. Inclusive tinha um projeto de CRIAÇÃO E EXPANSÃO DA CIDADANIA, aspecto que nos falta em nossa sociedade, pois nunca foi transmitida ao povo, desde a colonização.
A Cidadania se daria com eventos culturais nas praças públicas, onde as pessoas se reuniriam para eventos e culturais locais. Aproveitar as praças como um ambiente de integração social, com educação física para jovens, bibliotecas de compartilhamento de livros, hortas comunitárias, pinturas e zeladoria cidadã, onde os moradores cuidam da sua praça e espaço para debate entre os representantes e autoridades e o público, vereadores e administradores locais.
Não percebo que a situação das pessoas no geral melhore só por estarem próximo do centro ou da zona sul. Falta também informação para saber o que tem, logo incentivo para ir a esses locais. Diálogo e democracia para termos uma abrangência cultural que contemple todos os interesses. Segurança, pois muitos locais não são tranquilos, principalmente de noite. Penso que as escolas poderiam abrir-se para tornarem-se grandes polos de cultura para a comunidade. Atualmente, penso que o cenário poderia ser visto mais de uma perspectiva individual do que coletiva. Pois há pessoas apartadas da cultura em todas as regiões, assim como o contrário.
Ótimo comentário, William Siri! É um absurdo a negligência da Prefeitura, pois a omissão em prover equipamentos culturais e seu devido acesso em bairros afastados, no caso na AP5, contribui para a eternização da má qualidade de vida para a população desses locais. O acesso à Cultura é um direito que está na Constituição, e é vetor de satisfação intelectural e social pois faz o cidadão que dessa atividade usufrui sentir-se igual a todos! A Cultura é um fator de congrassamento entre as pessoas numa sociedade. Só os administradores públicos insensíveis e desumanos se omitem no cumprimento dessa importante obrigação de suas gestões.