Na última semana, participei do 1º Fórum Inter-religioso da Zona Oeste, em Campo Grande. Organizado pelo Mirzo (Movimento inter-religioso da Zona Oeste) e pelo coletivo TudoNuma CoisaSó, foi um momento de interação e integração entre diferentes fés e muito diálogo sobre os desafios de nosso tempo. Pude dividir uma mesa de diálogo com a deputada estadual Renata Souza e outras companheiras e companheiros de luta.
Considero importante resgatar minha caminhada no combate à intolerância religiosa e destacar a urgência de fortalecer o diálogo inter-religioso. Minha fé está fundamentada no evangelho de Cristo, sou evangélico e reconheço que essa palavra atualmente está envolta de muitas tensões. Falo sem receios que foi dentro da igreja evangélica que aprendi a demonizar outras manifestações de fé, principalmente as de origem afro-brasileira, reflexo do racismo estrutural presente no Brasil.
No entanto, durante minha caminhada na fé cristã, também aprendi a verdade e a totalidade do amor de Cristo, ouvindo outros homens e mulheres em suas diversidades. A igreja evangélica não é grupo único, reduzido por Malafaias, Valadões, Macedos e etc, somos muito maiores que isso e estamos comprometidos com a garantia de direitos e liberdades de existência.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados (Mateus 5:6). Há um compromisso de Cristo com o combate à desigualdade e a injustiça e isso não está apenas presente na fé cristã, outras inúmeras manifestações religiosas estão sustentadas na construção de um mundo melhor, onde a pobreza, o sofrimento, a fome e a falta de oportunidades não esmaguem nosso povo.
Segundo a reportagem da BBC, o número de denúncias de intolerância religiosa no Brasil aumentou 106% em apenas um ano. Passou de 583, em 2021, para 1,2 mil, em 2022, uma média de três por dia. O Estado recordista foi São Paulo (270 denúncias), seguido por Rio de Janeiro (219), Bahia (172), Minas Gerais (94) e Rio Grande do Sul (51).De acordo com a RENAFRO (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde), o relatório “Respeite o Meu Terreiro — Mapeamento do Racismo Religioso Contra Os Povos Tradicionais de Religiões de Matriz Africana”, que ouviu lideranças de 255 comunidades tradicionais de terreiros, aponta que 78% dos entrevistados relataram que membros de suas comunidades já sofreram algum tipo de violência, física ou verbal, por racismo religioso.
São as religiões de matriz africana, as formas de fé afro-brasileiras, as que mais sofrem com os ataques de ódio e intolerância, e os sofrem em seus espaços mais sensíveis: durante suas celebrações e ritos, na ida ou na volta aos seus espaços de fé. Na palavras do Prof. Dr. Babalawo Ivanir dos Santos (2021):
“A intolerância religiosa e o racismo estão entranhados nas relações sociais cotidianas, culturais, políticas e econômicas. E é ela, a intolerância, que vem se apresentando como um dos nossos maiores desafios contemporâneos diante das possibilidades para a promoção e o fortalecimento das tolerâncias e das equidades religiosas”, escrevem os pesquisadores…”
Um corte de gênero também precisa ser feito, pois seis em cada dez pessoas que sofrem ataques relacionados à intolerância / racismo religioso são mulheres. Lembremos do caso da estudante Kayllane Coelho Campos, que em junho de 2015, aos 11 anos, foi atingida por uma pedra ao sair de um culto de candomblé na Vila da Penha, na Zona Norte do Rio. A repercussão nacional trouxe visibilidade para os constantes ataques que se territorializam em todas as regiões do Rio de Janeiro e do Brasil.
Para concluir, quero fortalecer que meu compromisso é com a luta por equidade e justiça para todas as manifestações de fé, com o combate ao racismo religioso, debatendo profundamente e denunciando os casos de intolerância que ocorrem por toda cidade e região metropolitana. Por fim, coloco minha vida como representante do Poder Legislativo do Rio de Janeiro, na linha de frente do combate à intolerância e fortalecimento do diálogo inter-religioso. Seguimos juntos nessa caminhada!
O vereador diz:”demonizar outras manifestações de fé, principalmente as de origem afro-brasileira, reflexo do racismo estrutural presente no Brasil”. Ok, casos de violência devem ser combatidos, esclarecimentos devem prevenir os equívocos e os criminosos, punidos. É preciso separara as coisas. Porém: 1. muitos que não gostam de religiões de origem afro-brasileira são ex-adeptos. Fato. 2. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diz o filósofo Gerson Canhota de Ouro. Os próprios praticantes dessas religiões afro-brasileiras dizem que “fulano fez macumba/trabalho” pra PREJUDICAR alguém. Em alguns casos prejudicar mesmo! Tanto é verdade que o vereador mesmo dever ver pela cidade pichações do tipo fulana(o) “faz e desfaz trabalhos de magia negra, amarrações etc”… Lógico que NÃO prego de maneira alguma violência, mas não queira que eu respeite estas práticas!
tem espaço para todos nesse mundo.